Читать книгу As Variedades do Português no Ensino de Português Língua Não Materna - Группа авторов - Страница 6

A competência de variedades recetiva

Оглавление

A competência de variedades recetiva entende-se segundo Reimann (2011) como a capacidade de descodificar variedades linguísticas – sobretudo na dimensão diatópica – de uma língua-padrão (a língua-alvo do curso) na receção – sobretudo auditiva. Em palavras mais simples, trata-se da compreensão do oral em variedades e normas-padrão regionais da língua-alvo, aqui do português.

Definição:

A competência de variedades recetiva é a capacidade de descodificar variedades diatópicas e normas-padrão regionais na perceção auditiva (aqui: a compreensão do oral das variedades regionais do português).

Embora na perspetiva linguística as variedades não se atribuam ao fenómeno do plurilinguismo no sentido mais restrito, na perspetiva didática estas beneficiam a formação de competências plurilingues no sentido do desenvolvimento da consciência linguística. Nesta argumentação também é possível seguir o conceito do plurilinguismo interior (innere Mehrsprachigkeit) de Wandruszka que se refere às variedades – naquele caso na língua materna (cf. Wandruszka 1979). Nesse ponto parece-nos proveitoso postular o fomento sistemático de uma competência de variedades (recetiva) integrando esta competência nos objetivos da didática do plurilinguismo.

No modelo de competências para os exames finais no ensino secundário na Alemanha (Bildungsstandards für das Abitur, KMK 2012) a competência de variedades recetiva poderia ser situada na interface de três competências (parciais): na sua orientação nomeadamente oral contribui por um lado à competência da compreensão auditiva, por outro lado fornece o desenvolvimento de consciência linguística. Como facilita uma compreensão aprofundada com os falantes nativos de diferentes espaços culturais lusófonos, também forma parte da competência comunicativa inter- e transcultural.

Num outro lugar, Reimann introduziu a competência de variedades recetiva como uma das temáticas privilegiadas da didática do plurilinguismo românico depois do ano 2010 (junto à integração reforçada de habilidades produtivas, de outras línguas escolares (em especial inglês, latim, grego), de alemão como língua materna, segunda e estrangeira, das línguas de herança dos alunos, da Aprendizagem Integrada de Línguas e Conteúdos (AILC) e da competência comunicativa transcultural (cf. Reimann 2016).

As outras línguas escolares de caráter pluricêntrico são o inglês, o francês e o espanhol. Para o inglês, Schubert (2014) pôs em dia o discurso da ponta e forneceu perspetivas para continuar o desenvolvimento de uma didática do inglês pluricêntrico, para o francês provêm uns contributos relevantes de Pöll (2000) e de Reimann (2011), para o espanhol cf. o contributo mencionado de Reimann (2017).

A partir desta base seja introduzido aqui também o conceito de uma ‘didática do português pluricêntrico’: Ao constructo de uma ‘didática do português pluricêntrico’ com enfoque no desenvolvimento e fomento de uma competência de variedades recetiva influenciam diferentes discursos didáticos e linguísticos. Um entendimento básico do português como língua global está fornecido pela sociolinguística e transmitido pelo menos em parte aos discursos políticos do ensino. No lado originariamente didático acrescentam-se as esferas discursivas mencionadas da competência de compreensão do oral, da ‘nova’ competência da consciência linguística (cf. KMK 2012) e da competência comunicativa inter- e transcultural. Além disso, a linguística de variedades fornece resultados relevantes da perspetiva linguística. Por um lado, pensamos naturalmente na linguística de variedades ‘clássica’ com a sua orientação descritiva. Por outro lado, evolui-se ultimamente a pesquisa de um outro fenómeno central para o quotidiano e para a formação da competência comunicativa inter- e transcultural: a perceção de – entre outros – a variação diatópica pelo destinatário respetivo de um ato de fala. Isto foi o objeto de alguns estudos (‑piloto) sistemáticos da linguística românica. Thomas Krefeld e Elissa Pustka criaram com a edição de um volume (Krefeld / Pustka 2010a, cf. Krefeld / Pustka 2010b) o conceito de uma ‘linguística de variedades percetiva’ querendo enriquecer os precursores como a ‘dialetologia percetiva’ com um fundamento teórico. Aqui as diferentes variedades diatópicas são analisadas empiricamente através da perceção por falantes de outras variedades. Podemos resumir as influências discursivas a uma didática de português pluricêntrico e à competência de variedades recetiva de forma seguinte:

Fig. 2:

Didática do português como língua pluricêntrica

A partir disso propomos como complemento aos instrumentos existentes – QCER e CARAP1 – uma escala de descritores que se refere especialmente ao desenvolvimento de uma competência de variedades recetiva em português, sobretudo para o ensino do português na Alemanha. Trata-se de descritores normativo-prescritivos que se poderiam validar em estudos sobre o ensino de português atual assim como examinar em estudos de implementação. Os descritores são os seguintes:

Competência de variedades recetiva em Português (compreensão do oral)
C2 É capaz de compreender enunciados de quase todas as variedades lusófonas e normas-padrão regionais que mostram uma forte marcação diatópica em nível fonético e prosódico. Compreende quase sem exceção lexemas e particularidades semânticas das variedades respetivas na situação comunicativa. Pode compreender todas as particularidades morfossintáticas das variedades respetivas na situação comunicativa.
C1 É capaz de compreender enunciados de numerosas variedades lusófonas e normas-padrão regionais que mostram uma forte marcação diatópica em nível fonético e prosódico. Compreende em sua maioria lexemas e particularidades semânticas das variedades respetivas na situação comunicativa. Pode compreender em sua maioria as particularidades morfossintáticas das variedades respetivas na situação comunicativa.
B2 É capaz de compreender enunciados de várias variedades lusófonas e normas-padrão regionais que mostram uma forte marcação diatópica em nível fonético e prosódico. Lexemas e particularidades semânticas das variedades respetivas na situação comunicativa não produzem dificuldades de compreensão. Pode reconhecer e compreender particularidades morfossintáticas.
B1 É capaz de compreender enunciados de certas variedades lusófonas e normas-padrão regionais que mostram uma marcação diatópica claramente percetível em nível fonético e prosódico. Compreende geralmente lexemas e particularidades semânticas das variedades respetivas na situação comunicativa, eventualmente inferindo do contexto. Pode compreender particularidades morfossintáticas.
A2 É capaz de compreender enunciados de certas variedades lusófonas e normas-padrão regionais que mostram uma leve marcação diatópica em nível fonético.
A1 -/-

Tab. 1:

Competência de variedades recetivas em português

As Variedades do Português no Ensino de Português Língua Não Materna

Подняться наверх