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DUAS ROSAS

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Que bonita, meu amor!

Que perfeita, que formosa!

A ti pozeram-te Rosa,

Não te fizeram favor.

A rosa, quem ha que a veja

Bandeando, sem gostar?

Mas por mais linda que seja

A rosa, quando se embala,

Não te ganha nem iguala

A ti em indo a andar.


A rosa tem linda côr,

Não ha flôr de côr mais linda;

Mas a tua côr ainda

É mais fina e é melhor.

Murcha a rosa (que desgosto!)

Só de lhe a gente bulir;

E essas rosas do teu rosto

É em alguem te tocando

Que parece mesmo quando

Ellas acabam de abrir.


Cheiro, o da rosa, esse não,

Não é mais do meu agrado,

Que o teu bafo perfumado,

A tua respiração.

Depois a rosa em abrindo

Vai-se-lhe o cheiro tambem:

A tua bocca em te rindo

Só o bom cheiro que exhala…

E quando fallas, a falla,

Isso é que a rosa não tem.


Ella o que tem, meu amor?

O cheiro, a côr e mais nada.

Confessa, rosa animada!

Que és outra casta de flôr.

Os olhos só elles valem

Duas estrellas, bem vês;

Pois vozes que a tua igualem

Na doçura, na pureza,

Na terra, não, com certeza;

Agora no céo, talvez.


Não ha assim perfeição,

Não ha nada tão perfeito,

Mas é um grande defeito

O de não ter coração.

N’isso é que te leva a palma

A rosa, sendo uma flôr

– Sem voz, sem vida, sem alma,

Que abre logo á luz da aurora

E á noite esconde-se e chora

Pelo sol, o seu amor.


Ora e se a rosa, vê bem,

Tem amor, não tendo vida,

Será coisa permittida

Tu não amares ninguem?

Suppões que Deus te agradece

Essa isenção, minha flôr!

Deus a ninguem reconhece

Por filho senão quem ama:

A terra e o céo proclama

Que elle é todo puro amor.


Messines.

Flores do Campo

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