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ULTIMO ADEUS

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Prestes, se inda na rocha de granito

D’onde em tempo me vias te sentares,

Não olhes para a terra ou para os mares,

Olha sim para o céo, que é lá que habito.


Lá tão longe de ti, mas não do terno,

Bondoso pai que os dois nos ha gerado,

Só para mágoas não, que bem guardado

Nos tem tambem no céo prazer eterno.


Não se é só pó no fim de tanta mágoa.

Senão, diga-me alguem que allivio é este

Que sinto, quando á abobada celeste

Alevanto os meus olhos rasos d’agua.


Mentem os céos tambem? Os céos maldigo.

Feras, tigres, tambem o céo povôam?

Tambem os labios lá sorrindo côam

Veneno desleal em beijo amigo?


Mas na dôr é que os astros nos sorriem,

E os homens não sorriem na desdita.

Astros! fio-me em vós, e Deus permitta

Que os infelizes sempre em vós se fiem.


Intima voz do fundo, bem do fundo

D’alma me diz (e as lagrimas me saltam):

Vês os milhões de soes que o espaço esmaltam?

Pisa a terra a teus pés, inda ha mais mundo.


Ha depois d’esta vida inda outra vida.

Não se reduz a nada um grão d’arêa,

E havia de a nossa alma, a nossa idêa

Nas ruinas do pó ficar perdida?


– Isso que pensa e quer (até me admiro),

Isso que a luz nos traz, que a luz nos leva,

Isso que me abre o céo que ao céo me eleva

N’um teu cançado olhar, n’um teu suspiro!


Onde, não sei eu bem, mas sei que existe

Deus remunerador. Depois de mortos

Hemos de vêr-nos, e um no outro absortos

Fartar de glorias este amor tão triste.


– Tão triste, e o coração que me adivinha

N’este supplicio nosso este tormento!

Nunca dos labios teus minimo alento

N’um só beijo bebi em vida minha!


E morro sem te vêr! Cabeça doida,

Desasisado amor! Sonhar afflicto

Um sonho até morrer… Não: resuscito;

Morto tenho eu vivido a vida toda.


Flores do Campo

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