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RAZÃO DE SER

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É opportunissimo o momento de estudar e de tentar descrever as duas grandes capitaes da America do Sul, rivaes pela opulencia, vizinhança, estimulo e por consubstanciarem e traduzirem a riqueza, o porvir, a grandeza e a gloria de duas pujantissimas nacionalidades, destinadas aos mais brilhantes destinos.

Montevideu, capital de um pequeno Estado, comparado com o Brasil e a Republica Argentina, entre os quaes agita-se, febrilmente, servindo-lhes de constante pomo de discordia, não obstante ser uma cidade importante e interessantissima, póde considerar-se um compasso de espera no parallelo entre o Rio de Janeiro e Buenos-Aires.

Das três capitaes trata este livro; porém o seu interesse maximo concentra-se na apreciação d’estas duas famigeradas metropoles que, encarniçadamente, disputam-se a primazia sul-americana.

O auctor percorreu-as pessoal e minuciosamente, detendo-se, com especialidade e interesse, nos pontos em que o seu orgulho e patriotismo de cidadão brasileiro, teve de ceder o logar á admiração pelos progressos affirmados, ha muitos annos, em varios aspectos da grandiosa capital argentina.

Do terreno sacrosanto e utilissimo da actividade e competencia nas diversas manifestações da civilização e do progresso dos povos e das nacionalidades, não deve admittir-se, hoje em dia, que ultrapasse a rivalidade entre os membros da grande familia humana, collectiva e individualmente considerados.

Toda a America é um grandioso laboratorio, onde o trabalho e o capital dão-se as mãos no desenvolvimento dos tres grandes factores da prosperidade das nações—a agricultura, o commercio e a industria.

Os Estados Unidos da America do Norte, porém, attingem, actualmente, o vertice da escala progressiva, tendo dado, ao mundo, o assombroso exemplo de quanto póde a energia de uma raça preponderante, auxiliada pela collaboração de todos os povos da Terra.

A America Central está dividida em pequenas Republicas que, a cada passo, guerreiam-se e esphacelam-se em mesquinhas lutas de interesses.

É na parte meridional d’aquelle immenso e uberrimo continente que, n’este instante da vida universal, produz-se, principalmente, a vitalidade da raça latina, quasi expurgada dos vicios hereditarios das suas antigas metropoles, pelos beneficios da immigração e pelas excellencias das instituições democraticas, fundidas no preciocissimo cadinho de uma natureza bella e fecunda.

Na America do Sul, todavia, nem todas as nações progridem á altura das suas instituições politicas e do sólo ubérrimo que as alimenta.

No Mar das Antilhas, a Venezuela, dá-nos o degradante espectaculo de uma democracia subjugada por um tyranno demente e senil. [1]

A Colombia, cujo territorio é banhado pelos dois maiores oceanos do nosso planeta, vegeta em condemnavel apathia.

Encravada entre ella e o Perú, a Republica do Equador mantem-se, equilibrada, no concerto sul-americano.

Das tres nacionalidades que degladiaram-se, ha annos, por questões de territorio, apenas o Chile conserva relativa importancia, devido á sua invejavel e especialissima situação geographica e topographica.

Quanto á Bolivia e ao Perú, tardiamente recuperarão as energias perdidas.

O Paraguay e a Republica Oriental do Uruguay, abafadas pela approximação de dois colossos, debatem-se entre as ambições e os interesses de ambos, influenciadas ora por uma ora por outra das parcialidades rivaes.

Só o Brasil e a Republica Argentina estão em plena e progressiva prosperidade, pleiteando-se, honrada e gloriosamente, no campo da actividade humana. Por vezes, essa effervescencia ameaça degenerar em conflicto armado, por causa de ambições desmedidas e, especialmente, de vinganças e de represalias entre personalidades rivaes e preponderantes em um e outro paiz.

Estanislau Zeballos, por exemplo, estadista e escriptor de merecimento, alto commissario e arbitro argentino no pleito das Missões, nunca poude perdoar ao Brasil, em geral, e particularmente ao Barão do Rio Branco, representante brasileiro n’esse litigio, a victoria d’este ultimo.

Esses dois eminentes cidadãos encontraram-se, ao mesmo tempo, á frente do ministerio das relações exteriores dos seus respectivos paizes. D’ahi más vontades, animosidades, ameaças de rompimento, mal estar geral, atmosphera pesada e quente.

O Barão do Rio Branco, á força de prudencia e de diplomacia, conseguiu conjurar a tormenta, vencendo, mais uma vez, o seu terrivel adversario.

Este não desanimou, porém, e saíndo do ministerio, foi para as columnas de «La Prensa», o mais importante jornal argentino, mover tremenda campanha contra o Brasil e o seu rival.

Crêmos, todavia, que como aquellas, falharão todas as tentativas que, n’uma e n’outra nacionalidade, sejam feitas para alterar a paz entre os dois povos. Estes são bem os successores e os continuadores de hespanhoes e portuguezes, para os quaes o pontifice Alexandre VI dividiu o mundo, em duas partes iguaes, e que gravaram, nas paginas da Historia, feitos de tanta e tão imperecivel gloria, que desafiam a acção deleteria do tempo, e fulgirão, deslumbrantemente, pelos seculos além, até ao ultimo alento vital da humanidade.

Brasileiros e argentinos continuarão, pacifica e activamente, a desenvolver as suas aptidões e os seus recursos naturaes, de cuja actual importancia póde avaliar-se pela descripção das suas soberbas capitaes.

O conhecimento e a comparação dos elementos progressivos de ambas, assim como as suas preciosidades e defeitos, poderão servir de orientação e de estimulo no aproveitamento de uns e na eliminação e substituição de outros.

Eis a razão de ser d’este livro, escripto com toda a imparcialidade e inspirado no interesse e no amôr a que tem direito a grande familia humana, e não sómente o povo entre o qual nascemos e as encostas e os valles que repercutiram os nossos primeiros vagidos e beberam as nossas e as lagrimas das nossas mães.

[1] No momento d’este livro entrar no prélo parece finda a dictadura do general Castro.

Tres capitaes

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