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Situação e Aspecto Geral
ОглавлениеEntre 22°43´ e 23°6´ de latitude Sul, 4° de longitude Este, e 35° long. Oeste, abre-se a entrada da bahia e do porto do Rio de Janeiro, apenas com 1:500 metros de largura, mas que, no interior, attinge a amplidão de 28 kilometros por 30 kilometros de comprimento.
Os transatlanticos passam por entre as fortalezas da Lage e de Santa Cruz, deixando, á esquerda, a gigantesca mole do Pão de Assucar e a fortaleza de S. João.
N’esse momento enfrentam a fortaleza de Villegaignon, já em plena bahia, deixam-n’a á rectaguarda e vão fundear no quadro dos navios mercantes, além das ilhas Fiscal e das Cobras.
D’ahi, do centro do mais vasto e bello porto de mar do mundo, a vista abrange um dos mais empolgantes e arrebatadores panoramas do nosso planeta. A magestosa bahia, semeada de oitenta ilhas e ilhotas, é ladeada pelas cidades de Nictheroy, capital do Estado do Rio de Janeiro, na margem oriental, e do Rio de Janeiro, capital da Republica dos Estados Unidos do Brasil, do lado occidental. O horizonte do observador é limitado por serras e cordilheiras, das quaes a mais importante é a dos Orgãos, ao Norte. Ao contemplal-a, da entrada do porto, nota-se a figura de um gigante, deitada sobre o dorso.
A immensa bahia de Guanabara, capaz de abrigar todas as esquadras bellicas e mercantes do nosso globo, forma ainda duas enseadas, a de Botafogo e a de Jurujuba.
O aspecto geral da capital da Republica, visto do porto é, ao mesmo tempo, formoso e imponente, se bem que, em grande parte, prejudicado pela sua configuração topographica e, especialmente, pelos morros que pejam e encobrem a cidade, ao centro, nas extremidades e em toda a sua circumferencia.
Os primeiros são os do Castello, de Santo Antonio, de Santa Thereza, da Gloria e de S. Bento e os outros os da Conceição, Saude, Livramento, Providencia, Mundo Novo, Santos Rodrigues, Urca, Babylonia, Pinto, Paula Mattos, Pasmado, Viuva, Corcovado e Pão de Assucar.
A cidade occupa uma superficie de cêrca de dois mil kilometros quadrados, tendo 14 kilometros de extensão, de Norte a Sul, e 16 ditos, de Leste a Oeste. É limitada ao Norte e a Oeste pelos riachos Guandú, Merity e Guandú-Mirim, e ao Sul e Leste pelo Oceano Atlantico.
As condições climatericas da capital do Brasil estão hoje muito melhoradas com as importantissimas e grandiosas obras de saneamento e aformoseamento, effectuadas nos ultimos annos, e ainda por outras em execução. Emquanto, porém, o governo e a municipalidade não se resolverem a arrasar, entre outros, os morros do Castello e de Santo Antonio, dando mais ar, mais luz e mais ampla vista á cidade, as manifestações endemicas não deixarão de produzir-se, periodicamente, e com maior ou menor intensidade.
A temperatura média é de 24.°, subindo além de 30.° nos mezes de Dezembro a Abril, e descendo a 20.°, de Junho a Setembro.
A atmosphera é, quasi sempre, humida, o que explica-se pela abundancia de vegetação, que envolve o Rio de Janeiro em um perenne amplexo de frescura e de belleza.
A brisa terrestre, de manhã e á noite, e a que sopra do mar, desde as 11 horas da manhã ao crepusculo, são o providencial lenitivo dos fluminenses, na maior parte do anno.
Para abranger-se e gosar-se a mais ampla e a melhor vista geral do Rio de Janeiro, é preciso ascender ao Chapéu de Sol, vértice do morro do Corcovado. Para vistas parciaes, ou geraes, menos extensas do que aquella, prestam-se, entre outros pontos, o Observatorio Astronomico, no morro do Castello, a ponta do Curvello, em Santa Thereza, o Somaré, n’esta montanha, e o zimborio da Candelaria.
O aspecto geral da povoação é interessante e variadissimo.
O desembarque, no caes Pharoux, praça Quinze de Novembro, proporciona a vista dos dois passeios ajardinados, que formam esta praça, do palacio do Ministerio da Agricultura, do ex-palacio imperial, hoje repartição central dos Correios e Telegraphos, da estatua do general Osorio, ao centro; do Chafariz Colonial, da Cathedral e do templo do Carmo.
Seguindo-se a rua Primeiro de Março, ou boulevard Carceler, ampla e bella arteria que se prolonga ao morro de S. Bento, entra-se em plena cidade commercial. Ahi ostentam-se os grandiosos edificios da Bolsa, da egreja da Cruz dos Militares, do Correio Geral, do Supremo Tribunal Federal e do Arsenal de Marinha. D’ella partem e ahi bifurcam-se as estreitas e animadas ruas do Ouvidor, que terá menção especial, do Rosario, Hospicio, Alfandega, S. Pedro, General Camara, Theophilo Ottoni e Visconde de Inhaúma. Tomando-se pela primeira das ruas citadas, e depois de deixar-se, de um e outro lado, as ruas Julio Cesar, Quitanda e travessa do Ouvidor, entra-se na magestosa Avenida Central, que será descripta em capitulo separado. Atravessando-a, continuaremos, ainda pela rua do Ouvidor, que é cortada n’esse trajecto pelas ruas Gonçalves Dias e Uruguayana, até ao Largo de S. Francisco de Paula, centro civico de grande movimento, ponto central dos bondes das Companhias de S. Christovão e Carris Urbanos, as unicas empresas de viação carioca, ou fluminense, que ainda adoptam a tracção animal.
N’este largo admira-se a elegante frontaria do templo de S. Francisco de Paula, a estatua de José Bonifacio e o edificio da Escola Polytechnica.
A antiga rua do Theatro, communica a praça anterior com a da Constituição, em cujo centro eleva-se a estatua equestre, em bronze, de D. Pedro I, do Brasil. O theatro de S. Pedro de Alcantara, ostenta ahi a sua pesada architectura. Pela ampla rua da Constituição attinge-se a praça da Republica, uma das mais vastas do mundo, com um magnifico parque, circumdado, entre outros, pelos edificios da Municipalidade, Escola Normal, Quartel General do Exercito, Estação Central da E. F. D. Pedro II, Casa da Moeda, Senado e Archivo Nacional.
As ruas do Senador Eusebio e do Visconde de Inhaúma, principalmente, communicam a praça da Republica com a praça Onze de Junho e a Avenida do Canal do Mangue, que termina na avenida marginal do novo porto, actualmente em construcção.
N’este longo trajecto percorrido pelos bairros mais centraes e interessantes do Rio de Janeiro, a parte mais animada é a comprehendida entre as praças Quinze de Novembro e da Republica. É n’esse espaço, com as suas proximas dependencias, que concentra-se e desenvolve-se a vida commercial e civica da colossal metropole brasileira.
Outra corrida de orientação, para o observador intelligente, é a que partindo do ponto central dos bondes electricos da Botanical Garden, na Avenida Central, dirige-se ao extremo norte da grandiosa arteria e deixando, á esquerda, o elegante pavilhão de Monroe e o bellissimo Passeio Publico, junto a este entra na grandiosa e bella Avenida á Beira-Mar. Seguindo-a, o passeiante gosa dois panoramas rivaes em interesse e formosura, o da terra e o da bahia.
O primeiro proporciona-lhe os encantos irradiantes dos artisticos monumentos do Centenario, da fonte Ramos Pinto, da estatua do Visconde do Rio Branco; o pittoresco dos morros cobertos de casaria, que fecham o horizonte; em frente o legendario outeiro da Gloria, encimado pelo seu celebérrimo santuario e, ao fundo, o famigerado Pão de Assucar, em cuja cúspide será um dia erecta a gigantesca e symbolica estatua da Patria Brasileira que, empunhando o facho deslumbrante da Liberdade e da Gloria, illuminará a immensidade oceanica, a superficie terraquea e os mundos do firmamento com os esplendôres da pujante nacionalidade sul-americana.
Deixando, sempre á direita, o Palacio da Presidencia da Republica, a praça do Duque de Caxias, com o bello monumento d’este general, a estatua de José de Alencar e outros monumentos e numerosos bairros, arruados e edificios artisticos e interessantissimos, o forasteiro dará entrada no amplissimo e magestoso Botafogo, precioso escrinio da elegancia, da belleza e do luxo da capital fluminense.
Ahi a perspectiva é differente da anterior, mas igualmente empolgante e fascinadora.
Do lado esquerdo está a pequena e lindissima enseada de Botafogo que, nascendo da pujante Guanabara, por entre os morros da Viuva e da Urca, vem espraiar-se junto ao paredão da Avenida á Beira-Mar, que continuaremos a percorrer, deslumbrados pelo panorama geral, até que ella termine nos contrafortes da montanha Babylonia, magnifico scenario do ultimo certamen nacional.
Dos jardins e avenidas que decoram a esplanada da enseada de Botafogo, partem muitas e formosas ruas, algumas extraordinariamente extensas, como a dos Voluntarios da Patria, e todas ladeadas de lindas chacaras, no meio de floridos jardins e de bosquetes encantadores.
É aos portões d’esses minusculos paraisos que, passada a hora da ardencia solar, grupos de formosas e gentis senhoras concorrem a realçar a imponencia arrebatadora do quadro, aureoladas pelos deslumbramentos do crepusculo.
O aspecto geral do Rio de Janeiro de hoje, é o de uma grande cidade em completa e radical transformação para melhor.
Já muito pouco resta da velha metropole colonial, irregularmente edificada, ao acaso e ao capricho dos influentes locaes.
A independencia nacional e, nos ultimos vinte annos, a mudança de regimen politico, deram causa ao despertar de energias civicas que, em breve prazo, farão do Rio de Janeiro, não só a primeira cidade da America do Sul, mas tambem a rival gloriosa das mais celebres capitaes do nosso orbe.
Se, interiormente, a metropole fluminense é o que, rapidamente, vimos apreciando e vamos conhecer em detalhe, os seus arrabaldes e suburbios encerram e irradiam tanta pujança, belleza e encantos taes e tão maravilhosos, que a penna, por impotente, não póde traduzir nem pallidamente descrever.
Sob este ponto de vista, a capital do Brasil não conhece nem admitte rivaes.
O ineffavel amplexo da natureza que, perennemente, a envolve em deslumbramentos de apotheose, attestará ás gerações vindouras que é aqui o paraiso terreal e a metropole universal, por excellencia, onde, em porvir pouco distante, os povos da Terra celebrarão, com a gloria da nacionalidade brasileira, a civilização, o progresso e a grandeza da humanidade.