Читать книгу Tres capitaes - José Augusto Corrêa - Страница 8
Phases Fluminenses
ОглавлениеNos dois primeiros seculos de existencia civica, Rio de Janeiro progrediu morosamente, por duas causas principaes—o abandono da metropole e as constantes hostilidades dos francezes e dos indios. Em 1618, isto é, 43 annos depois da sua fundação, a cidade apenas contava uns 3:500 habitantes, incluindo a guarnição militar.
Dois seculos mais tarde, quando D. João VI desembarcou na capital do Brasil, apenas havia, mal edificadas, 46 ruas, 19 praças, campos e largos e 4 travessas. Foi n’essa epocha que teve inicio o grande desenvolvimento da cidade. Em cincoenta annos de progresso, o seu activo era de 284 ruas, 47 praças, 42 travessas, 27 morros e 30 praias habitadas, nas proximidades.
A povoação, já immensa, galgava e contornava as collinas que a pejam e circumdam, estendendo-se pelo Engenho de Dentro, Laranjeiras, Andarahy Grande, Gavea, Tijuca, Villa Izabel e outros pontos.
A segunda fortaleza construida para defeza da cidade occupava o logar da actual egreja da Cruz dos Militares, que era então beira-mar.
As egrejas de S. Domingos e da Lampadosa foram construidas, no seculo XVIII, fóra da cidade que, em 1700, apenas attingia o ponto por onde hoje passa a rua de Uruguayana.
Em 1572 foi uma temeridade edificar-se, no sertão, o templo de S. Francisco Xavier. O primitivo santuario da Candelaria, foi construido em 1604, e as egrejas de Santa Luzia e de N. S. da Conceição, em 1592 e 1600, respectivamente.
A actual egreja de S. Sebastião do Castello é a terceira erguida no mesmo local, desde a trasladação da cidade, não obstante a data que encima o portico ser a da fundação do primeiro santuario, inscripção conservada no mesmo logar, assim como, na capella-mór, tem sido respeitado o tumulo de Estacio de Sá, o primeiro dos fluminenses.
O primeiro corpo administrativo e municipal que teve o Rio de Janeiro, com o nome de Senado da Camara, era constituido por tres vereadores, um procurador, um escrivão, dois almotacés e o Juiz de Fóra, que presidia.
No anno da chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro, este senado estabeleceu, por meio de marcos de pedra, os limites da cidade junto aos rios das Laranjeiras e Comprido, por um lado, e por outro junto ao mar, em toda a circumferencia.
Foi tal o desenvolvimento commercial e civico da capital, no primeiro quartel do seculo XIX, e eram tão estreitas, tortuosas e deficientes as arterias publicas existentes n’essa epocha que, em 1838, a Camara publicou uma postura ordenando que todas as vias publicas da cidade, e seu termo, tivessem, pelo menos, sessenta palmos de largura. Em 1893, a Prefeitura decretou que essa amplitude fôsse, no minimo, de 17 metros.
O primeiro nivelamento das ruas, calçamento e illuminação, foi começado em 1854, e dois annos depois a municipalidade prohibiu as aguas furtadas e mandou que todos os projectos de construcção fôssem submettidos ao seu exame e approvação.
Deve-se, porém, á Republica, em geral e, especialmente, a tres eminentes patriotas—o dr. Rodrigues Alves, presidente da Republica; dr. Lauro Müller, ministro da Viação e Obras Publicas e dr. Francisco Pereira Passos, Prefeito Municipal, a transformação do Rio de Janeiro colonial, com todos os defeitos das povoações da metropole, aggravados pelos caprichos dos mandões locaes, em uma grande cidade, moderna, rival das mais bellas capitaes do nosso planeta.
Pertence á iniciativa e execução do Governo, principalmente, a construcção do porto, com cáes acostaveis, na extensão de 3:500 metros; a magestosa e formosissima Avenida Central, de mar a mar, rasgando 16 das velhas e movimentadas ruas da cidade, e as obras especiaes de saneamento da capital, que déram em resultado a extincção da febre amarella e de outras molestias endemicas e epidemicas, de ha muito acclimadas no sólo fluminense.
A Prefeitura, ou Municipalidade, no espaço de 4 annos, de 1903 a 1906, executou e iniciou os seguintes melhoramentos:
—Avenida á Beira-Mar, do Passeio Publico á Praia Vermelha, no comprimento de 5:200 metros e com a largura de 33 metros.
—Avenida Mem de Sá, na extensão de 1:540 metros, desde o largo da Lapa até á rua Frei Caneca, atravessando as ruas dos Arcos, Lavradio, Riachuelo, Rezende e Invalidos.
—Avenida Salvador de Sá, ligando a rua Estacio de Sá, com a rua Frei Caneca.
—Alargamento, para 17 metros, d’esta rua e das do Visconde do Rio Branco, Carioca e Assembléa.
—Prolongamento e alargamento da antiga rua de S. Joaquim, hoje Marechal Floriano, até ao largo de Santa Rita.
—Prolongamento da rua Visconde de Inhaúma até ao mar, na extensão total de 1:500 metros e largura de 23.
—Prolongamento da rua do Sacramento até á rua do Marechal Floriano, com a largura de 15,ᵐ60.
—Alargamento da rua Camerino.
—Prolongamento e alargamento da rua da Prainha, hoje do Acre, até ás ruas Marechal Floriano e Uruguayana.
—Transformação d’esta rua, com a largura de 17 metros, arborisação e edificação de grandiosos predios.
—Alargamento e transformação da rua Treze de Maio.
—Ajardinamento do largo da Gloria, da esplanada de Botafogo, do Alto da Boa Vista, na Tijuca, e da praça Quinze de Novembro.
—Ampliação e embellezamento do Cáes Pharoux.
—Prolongamento da travessa de S. Francisco ao largo da Carioca.
—Transformação da praça Marechal Deodoro.
—Ampliação do palacio da Prefeitura.
—Construcção da estrada das Furnas, na Tijuca.
—Canalização do Rio Carioca.
—Construcção do Theatro Municipal.
—Construcção do Mercado Central e de mais tres mercados regionaes.
—Decretação do alargamento e recúo de oitenta ruas.
—Aperfeiçoamento do calçamento de numerosas ruas e augmento da sua illuminação.
—Transformação do quadrilatero da praça da Republica, defronte do Quartel General do Exercito.
Para tão pequeno espaço de tempo é assombroso o trabalho realisado pela municipalidade do Rio de Janeiro.
O governo geral está procedendo á construcção de uma gigantesca avenida, que começando junto da Avenida Central, passe defronte do novo porto e vá terminar na praia de S. Christovão, communicando assim esta com a bellissima praia de Botafogo, na extensão de 10:500 metros. Será, incontestavelmente, a primeira arteria do mundo, em dimensões, porque em belleza, supplantal-a-ha a Avenida Oceanica que, partindo da Avenida Beira-Mar, na Praia Vermelha, contornará, exteriormente, o Pão de Assucar e, pelas praias da Copacabana, do Leme e de Ipanema irá terminar no extremo-sul da praia da Gavea.
E de tudo isso que ahi fica exposto, o que ainda não está prompto ou iniciado, será concluido no espaço de poucos annos, porque o Brasil, em geral, e muito especialmente a sua esplendorosa capital, entraram, decididamente, pela descentralisação administrativa e sob a egide de instituições democraticas, na rapida e brilhantissima senda dos seus gloriosos destinos.