Читать книгу Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro - Margaret Moore - Страница 10

Seis

Оглавление

Em toda a sua vida, Etienne nunca sentira uma emoção tão forte ao beijar uma mulher. Era como se Gabriella fosse uma jovem inocente, fascinada pelo primeiro contacto com um homem, e ao mesmo tempo uma mulher experiente e sensual, consciente e segura do seu poder feminino.

Ele não tivera intenção de beijá-la, mas perdera o controlo quando a tomara nos braços e contemplara a sua expressão ao mesmo tempo tímida e provocante, o peito arfante de expectativa.

Gabriella gemeu baixinho quando a língua de Etienne lhe invadiu a boca, e arqueou-se para trás, sobre o forte suporte do braço dele. Um desejo intenso explodiu dentro de Etienne quando a sua língua encontrou a de Gabriella; ele acariciou-lhe as costas, sentindo nas palmas das mãos a tensão que a fazia vibrar. O raciocínio e o bom senso abandonaram por completo a mente de Etienne; tudo o que ele queria era prolongar aquela sensação de prazer crescente, extasiante.

– N... Não! – protestou Gabriella, de repente, desenvencilhando-se dos braços dele e recuando, com os olhos arregalados e a expressão culpada.

Etienne ficou chocado com a brusca e intensa sensação de vazio que o invadiu.

– Porquê? – perguntou, determinado a ignorar as emoções que Gabriella despertava dentro de si. Etienne não tinha dúvida alguma de que ela gostara tanto quanto ele. Tentou, contudo, convencer-se de que não passara de uma atracção momentânea. – Tu queres-me tanto quanto eu te quero, Gabriella, ou não me terias beijado assim. Não há mal nenhum num beijo...

Gabriella baixou o olhar e enrubesceu, e Etienne deu um passo em frente, fazendo menção de a tomar novamente nos braços, atribuindo o protesto dela à timidez. Ela, porém, recuou, com uma expressão tão indignada e contrafeita que Etienne se sentiu como se fosse a própria encarnação do demónio.

– Isto é mais uma lição sobre a perda de inocência? – investiu ela, condenando-o com o olhar.

– Não, Gabriella. Só se tu quiseres – murmurou Etienne, conseguindo manter, com esforço, um tom de voz indiferente.

– Não quero! Por um momento, eu... esqueci-me.

– Esqueceste-te de quê?

– De quem é você.

O desprezo na voz de Gabriella atingiu Etienne como a ponta de uma lança, mas ele não deixou transparecer essa fraqueza, a qual não sabia que possuía. Em vez disso, olhou para ela, com o sobrolho franzido.

– Gabriella, o que aconteceu à tua família não foi culpa minha – defendeu-se, com frieza na voz, uma frieza intensificada pelo desejo que ele não conseguira subjugar.

– Como também não foi culpa sua ter sido escolhido para ocupar a minha casa – retorquiu Gabriella. – Mas é assim que as coisas são, barão DeGuerre. Cada qual é quem é. Agora, por favor, permita-me que eu prossiga com o meu trabalho, e não tente seduzir-me outra vez. Se me possuir à força, estará a cometer um crime.

– Não tenho intenção de te possuir à força. Mas tu não podes negar que me desejas, Gabriella. Eu senti o desejo em ti. Quando vieres parar à minha cama... e um dia virás... será por tua livre e espontânea vontade.

Gabriella olhou para ele, horrorizada e incrédula.

– A única maneira de eu ir voluntariamente para a cama de um homem, barão DeGuerre, será depois de me casar. E eu garanto-lhe que, mesmo que fosse o último homem à face da terra, eu não me casaria consigo! Sei como tratou as suas esposas!

– Como é que tu sabes como tratei as minhas esposas? – exigiu Etienne, irritado.

– Todos sabem. Casou-se com elas por dinheiro e depois ignorou-as completamente!

Etienne compreendia que as pessoas que o rodeavam tivessem aquela opinião. Em parte, era verdade; ele não amara as duas mulheres com quem se casara, nem elas o tinham amado. Ambas tinham procurado a excitação e prestígio de serem esposas de um guerreiro com a reputação de Etienne DeGuerre; em contrapartida, a riqueza e prestígio que elas lhe deram foram uma fraca recompensa pelo que tivera de suportar.

Ninguém tinha, no entanto, o direito de o julgar; nem aquela pirralha, nem Josephine, nem ninguém!

– Não te devo satisfações – ele arqueou uma sobrancelha. – Fala-me mais sobre o patife do teu irmão, que cometeu a criancice de sair de casa depois de uma discussão com o pai.

– Isso não é verdade!

– Ele não discutiu com o teu pai, e não se foi embora para não mais voltar, sem se importar com a situação em que ficou a família?

– Será que não compreende? – Gabriella segurou com as duas mãos o encosto da cadeira. – Se ele soubesse o que estava a acontecer, teria voltado imediatamente!

Etienne tentou imaginar como seria, ter tanta fé em alguém a ponto de acreditar piamente nessa pessoa, apesar de todas as evidências em contrário. Durante um instante, ele enterneceu-se e teve de reprimir o impulso de abraçar Gabriella, de lhe beijar a testa, os olhos, as faces. Num momento, ela mostrava-se orgulhosa, desafiadora, forte, corajosa; no momento seguinte, parecia delicada e vulnerável como uma flor rara e bela. E, no entanto, era uma mulher, fascinante e desejável, cujo beijo o desarmara, derrubando as reservas que durante anos ele erguera.

Etienne empertigou-se. Não podia fraquejar! Não fraquejava nos campos de batalha diante dos mais temidos guerreiros de toda a Europa, e fraquejaria diante de uma donzela frágil como aquela?

– Aceita o meu dinheiro, Gabriella, e deixa este castelo, para o teu próprio bem.

– Não me pode forçar a ir-me embora, milorde – respondeu ela, depois de um breve silêncio.

– Se ficares, fica a saber que te darei apenas a mesma protecção que ofereço aos demais servos. Nem mais, nem menos. Tu és... uma mulher atraente. Uma serva atraente. Com tantos homens no castelo, isso poderá criar-te problemas.

– Basta que lhes diga que me deixem em paz. Esta é a minha casa, milorde, e aqui pretendo ficar – teimou ela, com a voz que embargou apenas por um momento.

Etienne olhou para ela demoradamente, antes de ordenar:

– Sai daqui.

Gabriella olhou para ele, surpresa.

– Sai! – gritou ele, elevando a voz como há muito tempo não fazia, incapaz de conter a raiva e a frustração.

Etienne virou-se e aproximou-se da janela, sem olhar para trás para ver Gabriella a sair do quarto, e tampouco vendo os campos que se estendiam a perder de vista. Repetia a si mesmo que não queria Gabriella Frechette, a não ser na cama; não queria Josephine de Chaney, a não ser pelo facto de que os outros homens a cobiçavam; não precisava de ninguém, a não ser dos cavaleiros e soldados necessários para manter o que conquistara até então.

Mas... por tudo o que era sagrado... ele não queria mais sentir-se só! Seria pedir demais, ter alguém que o amasse? Que o amasse de verdade, por ele mesmo? Isso era algo que Etienne nunca tivera. As suas esposas e amantes só o queriam pela sua aparência e reputação; os homens seguiam-no pelo seu poder; a sua própria mãe não o amara porque ele era Etienne, o seu filho; para ela, ele não representara outra coisa se não a imagem viva do pai.

Etienne tentou recapitular a sua vida, o que conseguira realizar até então, as metas que alcançara. Ele era o rico, o poderoso, o invejado barão DeGuerre.

E, no entanto, tudo o que conseguia recordar era o momento em que perdera o controlo; e o súbito medo e apreensão num par de olhos castanhos.

Etienne ainda se encontrava parado perto da janela, a olhar lá para fora, quando Josephine entrou no quarto, algum tempo depois, a tentar decidir qual era a melhor cor de fundo para o tapete que trazia nas mãos, quando viu Etienne. Ela nunca o vira daquela maneira, quieto, pensativo, e uma ponta de apreensão penetrou-lhe o coração. Se acontecesse alguma coisa a Etienne, o que seria feito dela?

– Não te estás a sentir bem, meu amor? – perguntou, solícita, largando imediatamente o tapete e aproximando-se dele. Enlaçou-o pela cintura e encostou a cabeça às costas dele. – Foi um dia cansativo? Senta-te, meu amor, que te vou servir vinho e lavar-te o cabelo.

– Eu estou a sentir-me bem – respondeu Etienne, afastando-se bruscamente da janela.

Ele não parecia abatido, pensou Josephine, aliviada. Com um sorriso, ela foi até à mesa onde ficava o jarro de vinho e encheu um cálice. Foi somente então que percebeu que o quarto não estava totalmente arrumado. Ou Gabriella deixara a tarefa por concluir, por cansaço ou preguiça, ou fora interrompida. Por Etienne? Teria ele dito, ou... feito... alguma coisa que levara Gabriella a sair do quarto deixando o trabalho inacabado, e que o deixara tão pensativo, quase abalado?

As mãos de Josephine começaram a tremer e ela respirou profundamente, tentando acalmar-se. Afinal, ela era Josephine de Chaney, famosa pela sua beleza e graça. John Delaney suicidara-se porque ela o recusara; Alfred de Morneux e Ralph Bordette tinham-se ferido mortalmente em duelo, por sua causa. Certamente, ela nada tinha a temer de uma pirralha como Gabriella Frechette.

Além de que, era muito possível que Etienne tivesse subido para o quarto com a intenção de ficar sozinho para reflectir sobre algum assunto, e mandado Gabriella sair.

– Queres que eu fique aqui, Etienne? – perguntou, carinhosamente, oferecendo-lhe o cálice de vinho. – Ou a minha presença incomoda-te?

– A tua presença nunca me incomoda – murmurou ele, sentando-se, com um leve sorriso nos lábios.

– Estás com dores de cabeça?

– Um bocadinho. Tu já me conheces bem demais, Josephine.

Josephine observou-o a beber o vinho, com uma ruga na testa. O que é que ele queria dizer com aquilo?

– Queres deitar-te? – indagou, com a esperança de que ele dissesse que queria ir para a cama, mas não para dormir.

– Ainda é muito cedo – respondeu ele, distraído.

Josephine sentiu um súbito peso no coração. Seria aquilo o começo do fim, entre eles?

– Decidi fazer uma visita a Roger de Montmorency e depois ir a Beaumare para buscar Jean Luc. Preciso dele, aqui – anunciou Etienne.

Ele falava como se Josephine fosse um dos seus cavaleiros menos importantes, e não a sua amante; uma estranha sensação de frio e calor envolveu a nuca de Josephine, mas ela forçou-se a sorrir.

– Quando me devo aprontar para partir?

– Tu? – perguntou Etienne, surpreso, como se a possibilidade de Josephine o acompanhar não lhe tivesse ocorrido. – É melhor ficares aqui. Não me demorarei muitos dias. Será uma viagem cansativa, e além disso, tu transformaste este quarto... na verdade, o castelo inteiro... num lugar tão confortável e aconchegante, que deves desfrutar dele tanto quanto possível.

Tanto quanto possível! Porquê, porque ele pretendia mandá-la embora? Porque andava atrás de outra mulher, uma com cabelos castanhos ondulados, olhos desafiadores e um corpo esbelto e gracioso?

– Está bem, Etienne – suspirou Josephine, esforçando-se para manter o tom de voz calmo. – Pretendes levar alguém contigo?

– Philippe de Varenne – respondeu Etienne, sem hesitar. – Não confio nele. Confio em George, e por isso vou deixá-lo no comando, durante a minha ausência – Etienne olhou para Josephine e acrescentou: – Usa o teu vestido azul novo, esta noite. Tu ficas divina, com ele.

Josephine assentiu e sorriu, porém o sorriso desapareceu para ser substituído por uma ruga de preocupação na testa, quando Etienne se levantou e saiu do quarto.

Dois dias depois, quando o vento frio do Outono espalhava fios de palha dos estábulos pelo pátio, Gabriella debruçou-se para puxar o balde de dentro do poço. Cautelosamente, ela inclinou-o para encher um dos baldes que deveria levar para a cozinha. Noutros tempos, ela não prestara atenção ao trabalho necessário para manter a cozinha abastecida de água; agora, com as mãos calejadas de tanto puxar aquela corda, reconhecia o valor dos que ali tinham trabalhado.

Talvez aquela fosse mais uma «lição» que ela tinha de aprender, reflectiu, com tristeza, estremecendo de frio, arrependida por não ter vestido o xaile. O barão de certeza que pensava assim. Ele ainda não voltara e, felizmente, Gabriella não o vira outra vez depois daquele último e desastroso encontro.

Gabriella também estava contente porque Philippe de Varenne acompanhara o barão na viagem. O jovem cavaleiro não lhe dirigira mais a palavra, depois do dia em que ela lavara a túnica do barão no rio, mas dirigira-lhe o olhar com mais frequência do que Gabriella gostaria, um olhar que ela detestava. Se ele decidisse não voltar, seria uma bênção.

Havia mais uma coisa pela qual Gabriella se sentia grata, que era a mudança em Robert Chalfront. Não que ele a ignorasse, mas agia como se ela fosse qualquer outra pessoa do castelo, o que trazia a Gabriella um alívio imenso. Por outro lado, a ausência do barão mantinha-o mais ocupado do que de costume, principalmente porque Sir George parecia mais interessado em caçar do que em administrar a propriedade, mesmo que só por alguns dias.

De maneira geral, Gabriella tinha a impressão de que os habitantes do castelo Frechette ficavam mais descontraídos com a ausência do barão, como se uma sombra escura tivesse sido retirada de cima das suas cabeças. Não que ela se sentisse satisfeita, ou conformada com a sua situação; mais do que nunca, estava determinada a pagar a sua dívida. Não queria deixar a casa que sempre fora sua, mas talvez não lhe restasse alternativa, porque ela precisava de se afastar do barão DeGuerre. O que acontecera não se podia repetir.

Com um suspiro, Gabriella baixou novamente o balde para o encher com a água fria e cristalina, e recomeçou a puxar. Perto dali, nos estábulos, dois criados provocavam-se entre si e riam, enquanto trabalhavam. De uma das janelas próximas, no andar superior, vinha o som da voz de Alda, a cantarolar uma balada. Ela também podia ouvir Guido a gritar ordens na cozinha, na extremidade oposta ao pátio. O cozinheiro ainda estava ansioso, embora bem menos do que antes da chegada do barão, pois já se tornara claro que o barão não pretendia dispensá-lo.

A única pessoa que realmente parecia sentir a falta do barão DeGuerre era Josephine de Chaney; durante o dia, ela distraía-se com as atenções que lhe dedicavam os cavaleiros, um bando de mancebos admiradores, mas quando se retirava, à noite, Gabriella detectava tristeza nos lindos olhos verdes da jovem.

Não era de admirar que Josephine sentisse tanto! Que ansiasse pela presença do barão na sua cama, pelo toque das mãos grandes e experientes, pela pressão dos lábios dele...

Com outro longo suspiro, Gabriella colocou o balde vazio sobre o muro do poço, pegou nos dois cheios, e começou a afastar-se, espalhando o excesso de água sobre as pedras do pátio.

– Milady!

Instintivamente, Gabriella olhou sobre o ombro. Mary, uma das viúvas do condado de quem Gabriella sempre gostara, caminhava apressada na sua direcção, com uma expressão consternada.

– É verdade, então, o que me contaram? – perguntou a mulher, com uma expressão ansiosa no rosto sofrido. – Acabei de voltar da casa da minha irmã, em Barton-by-Attley, onde fui passar alguns dias, e custa-me a acreditar! «Não é possível!», disse eu, quando Elsbeth me contou. Elsbeth é tão mexeriqueira, foi ela quem espalhou por aí que o meu John bebia mais do que devia, por isso não acreditei, quando ela me disse. «Juro por tudo que é sagrado», respondeu-me ela, e eu fiquei pasma, milady!

– É verdade – admitiu Gabriella, colocando os baldes no chão. – Não tive muita escolha, Mary.

– Ele... abusou de si? – Mary sussurrou a pergunta, com preocupação genuína, não com a intenção de bisbilhotar.

– Não – murmurou Gabriella, enrubescendo ao lembrar-se do beijo. Ele perturbara-a, mas não abusara dela.

– E o outro homem, o tal Philippe de Varenne? A Elsbeth disse que o viu a falar consigo, no rio, e achou que...

– Philippe de Varenne foi viajar com o barão.

– Que alívio, não?

– Sim – concordou Gabriella. – Eu ficaria muito feliz se ele nunca mais voltasse.

– E o barão também, não, milady?

Gabriella não respondeu, e a sua própria reacção chocou-a. Nunca mais ver o barão DeGuerre? Não deveria desejar que ele desaparecesse da sua vida, tanto quanto Philippe de Varenne? No entanto, a ideia da ausência permanente do barão DeGuerre causava-lhe uma sensação de... vazio!

– A Elsbeth disse que ele é impressionante, meio soturno, sempre vestido de preto! Mas também disse que é um homem e tanto! Ela achou-o lindo! – Mary sorriu e piscou um olho de soslaio a Gabriella, cujo coração deu um salto dentro do peito. – Disse que é alto, atraente... mas muito frio, parece, e desalmado, também!

Gabriella lembrou-se da ternura que detectara no olhar do barão, numa ou duas ocasiões em que conversavam no quarto, e perguntou-se se ele seria, de facto, desalmado. Ela não acreditava que ele fosse, mas sim que escondesse o seu lado mais humano.

– Bem, alegra-me saber que você não corre risco nas mãos do barão – Mary curvou-se para pegar num dos baldes.

Naquele momento, George de Gramercie, Donald Bouchard e o seu amigo Seldon saíram do estábulo, George e Donald envolvidos numa calorosa discussão. Era óbvio, pelas palavras dele, pelas aves mortas que carregavam, pelos rostos corados e cabelos despenteados pelo vento, que estavam a voltar de uma caçada.

Apesar do carácter campestre da actividade, Sir George usava uma fina capa de lã vermelha brilhante; as botas pretas lustrosas não tinham um único arranhão, e as calças justas pareciam ter acabado de ser engomadas. De facto, não importava o que fizesse, Sir George estava sempre impecável.

Donald Bouchard, que obviamente não possuía tanto dinheiro quanto Sir George, estava vestido com simplicidade, como de costume, como se as roupas fossem uma extensão do seu carácter.

Seldon, por sua vez, aparentemente enfiava no corpo o que encontrasse mais à mão. A capa castanha estava torta e amarrotada, e as botas, cobertas de lama.

Gabriella notou que Sir George trazia na mão um pato morto, e que Donald e Seldon carregavam um bom número de faisões. Donald fazia um comentário sobre a quantidade de pessoas que viviam no castelo, e que qualquer actividade de caça além do necessário para alimentar aquele número de pessoas seria não só um desperdício como também um pecado. Sir George, olhando para Seldon com um ar brincalhão, observou que alguns comiam bem mais que outros, obviamente referindo-se à serva gorducha por quem este se interessara. Foi naquele momento que ele avistou as duas mulheres, junto ao poço, e inclinou a cabeça graciosamente, ao passar por elas.

– Que homens tão musculados! – sussurrou Mary, fascinada. – O barão está à espera de um ataque?

– Não que eu saiba.

Gabriella olhou para os três cavaleiros, reflectindo que nunca se perguntara por que motivo o barão mantinha aquela força à sua volta. Talvez simplesmente fizesse parte da riqueza e do poder, pensou, curvando-se para pegar nos baldes. Mary, no entanto, estendeu um braço para a impedir.

– Deixe, milady, eu levo os baldes – apressou-se a dizer.

– Não, Mary – protestou Gabriella, pegando na alça de corda de um dos baldes e tentando tirar a Mary o que ela já tinha na mão. Era perfeitamente capaz de realizar as suas incumbências, e não queria ser tratada como se fosse um bibelô de porcelana.

– Por favor, milady, deixe-me ajudar – insistiu Mary, segurando a corda com firmeza. O balde começou a balançar.

– Dá-me esse balde, Mary – ordenou Gabriella, lançando um olhar significativo na direcção dos três homens que se dirigiam para a entrada do salão principal. – Não quero que digam ao barão que não estou a cumprir as minhas tarefas.

Mary não largou a corda.

– Eles não estão a olhar. E isto está muito pesado, milady.

– Não, Mary, estou-te a dizer que posso levá-los sozinha! – Gabriella agarrou a corda e puxou com força. Com igual determinação, Mary continuou a segurar a alça do balde, que balançava precariamente entre elas. Quando a corda lhe começou a cortar a mão, Gabriella largou-a, no momento exacto em que Mary fez o mesmo. O balde voou para o ar, derramando água pelo chão, antes de se espatifar e partir, exactamente atrás de um sobressaltado Sir George. A água que sobrara esparramou-se por todos os lados, em cima de Sir George inclusive, antes de escorrer e desaparecer por entre as pedras do pátio.

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro

Подняться наверх