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Três

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Gabriella esfregou as palmas húmidas das mãos na saia, conforme andava de um lado para o outro, no quarto dos seus pais, a tentar acalmar-se. Cada minuto parecia uma hora, enquanto ela esperava ver o barão surgir na porta do quarto, repetindo para si mesma, quase em pânico, que ele não lhe faria mal.

Se pelo menos Bryce estivesse ali! Ele salvá-la-ia. Não teria medo de enfrentar o barão, se fosse necessário. Bryce era predisposto a uma luta, quer fosse com o pai, com Chalfront, com o capataz, ou com os mercadores de tecidos. Gabriella perdera a conta às vezes que agira como mediadora, nas discussões do irmão. Mas a sua arte diplomática parecia não funcionar quando se tratava do barão DeGuerre. O que é que acontecera? Ter-se-ia ela sentido segura demais, por causa do próprio orgulho e do apoio dos servos?

De qualquer forma, Gabriella nunca imaginara que o barão impusesse a sua autoridade através de meios tão baixos. Ela ainda não conseguia acreditar. Mais uma vez amaldiçoou-se pela própria falta de tacto. Custava ter baixado a cabeça ou ter-se mostrado amedrontada, diante dele? Pelo menos, não ter sido insolente?

Talvez se ela se mostrasse mais submissa, agora, ele a dispensasse. Gabriella ajoelhar-se-ia diante dele e pediria perdão; faria qualquer coisa para salvaguardar a sua honra, que era a única coisa que lhe restava na vida.

Ela pressionou as mãos frias contra o rosto em chamas. Por que é que ele estava a demorar tanto? Por que é que não vinha logo e acabava de uma vez com aquela tortura?

Talvez fosse de propósito. O estômago de Gabriella contraiu-se. Ela caminhou até à janela e contemplou a paisagem iluminada pelo luar prateado. Aquelas terras tinham pertencido à sua família, até ao dia em que o seu pai deixara Chalfront assumir o comando.

Chalfront! Gabriella cerrou os punhos, num gesto inconsciente. Odiava o meirinho com a mesma intensidade que odiava o barão... Com toda aquela conversa fiada sobre ajudar, prestar assistência, sendo que ela sabia que era ele o culpado pelos problemas financeiros do seu pai. Ele devia ter ficado bem satisfeito, ao vê-la ser humilhada pelo barão DeGuerre.

A porta abriu-se abruptamente, batendo contra a parede, quando o barão entrou, uma figura impressionante, alto, com a túnica preta, os cabelos castanhos a tocarem-lhe nos ombros naquele estilo pagão, e um brilho demoníaco reflectido nos olhos azuis pela chama tremeluzente da tocha que ele trazia na mão que colocou no suporte, na parede.

Gabriella recuou nas sombras, tentando, desesperadamente, esconder-se.

O barão olhou ao redor do quarto, até avistá-la. Com um sorriso furtivo, que as sombras lançadas pela chama da tocha tornavam quase grotesco, ele fechou a porta, trancando Gabriella no quarto consigo.

– Vem cá, Gabriella – murmurou, com a voz baixa, mas num tom de comando.

Aquele era o momento de pedir misericórdia, pensou Gabriella, em pânico, dizendo a si mesma que deveria ajoelhar-se, implorar, suplicar.

O orgulho, porém, sobrepôs-se, e apesar do pavor que a dominava, ela não foi capaz de se rebaixar a um gesto tão humilhante.

Com o sobrolho franzido, o barão começou a desamarrar a túnica. Diante de uma Gabriella atónita e emudecida, ele tirou a vestimenta pelo pescoço e deixou-a cair, numa pilha disforme, no chão.

O peito dele era musculoso, recoberto de pequenas cicatrizes; os ombros eram largos, os braços fortes, a cintura estreita; os quadris esbeltos e as longas pernas eram delineadas pelas calças justas de malha.

Com o olhar fixo em Gabriella, ele caminhou até à cama e sentou-se.

– Vem cá e tira-me as botas, Gabriella.

Ela não se moveu.

– Vem cá e tira-me as botas! – repetiu o barão, levantando um pé calçado, como se não admitisse uma recusa.

Gabriella deu alguns passos em frente, alerta, e à procura de um meio de escapar. Com o coração aos pulos, segurou a bota do barão, como se fosse descalçá-la, porém, num movimento brusco, mandou a perna dele para o alto com toda a força e correu para a porta.

Gabriella não foi, no entanto, bastante veloz. No segundo seguinte, o barão estava fora da cama; agarrou-lhe o braço antes que ela tivesse tempo de alcançar o ferrolho, virou-a com uma sacudidela e puxou-a para si, devorando-a com os olhos azuis penetrantes enquanto ela se debatia, numa desesperada tentativa de se desenvencilhar daqueles braços poderosos.

– Por favor... largue-me! – choramingou, num fio de voz.

– Não posso impedir uma criada de sair do meu quarto antes que ela tenha executado a sua tarefa? – perguntou ele, seco, sem tentar estreitar o abraço.

– Tarefa?! – Gabriella olhou para ele, incrédula. – É assim que você pensa? Para isso é que tem uma concubina!

Foi somente depois de falar que Gabriella se deu conta do tratamento que dirigira ao barão.

Ele, no entanto, não pareceu importar-se.

– Não preciso de uma pirralha relutante para me excitar – murmurou, largando-a e caminhando na direcção de uma mesa onde estava um cálice de vinho. – Embora tu possas considerar o exemplo de Josephine como um meio de recuperares o teu nível de prosperidade. Ela também vem de uma família nobre que perdeu tudo.

– Eu jamais seria uma concubina! De homem nenhum! – gritou Gabriella, indignada.

O barão virou-se e arqueou uma sobrancelha.

– Eu não seria tão precipitado a condenar Josephine de Chaney – repreendeu-a, pegando no cálice. – O que é que tu sabes sobre a vida dela, sobre o que ela passou, sobre as escolhas que se viu forçada a fazer?

– Eu preferiria morrer a aceitar um destino tão maldito!

O barão bebeu um gole de vinho.

– A sério? Não sei... – Ele voltou para perto da cama e olhou para Gabriella com tanta intensidade que ela corou. – A Josephine precisa de uma aia. Acredito que sejas capaz de desempenhar a função a contento. Agora, pega na minha túnica e vai lavá-la.

Gabriella não tinha a certeza se ele falava a sério, ou se estava a divertir-se às suas custas.

– Imagino que saibas lavar uma túnica simples como essa? – acrescentou o barão, ao ver Gabriella hesitar.

Ela não sabia, mas inclinou a cabeça, em assentimento.

– Então, anda! Pega na túnica e vai lavá-la!

Pelo tom indiferente da voz do barão, Gabriella soube, naquele momento, que estava livre. Abaixou-se para pegar na vestimenta; a túnica cheirava a couro, a cavalo, a fumo e... a ele.

Ao pôr-se de pé, Gabriella percebeu a presença de uma mulher, no umbral da porta.

– Ah, Josephine – murmurou o barão, com a voz arrastada e sensual. – Por que é que demoraste, minha querida?

Josephine de Chaney lançou um olhar gelado a Gabriella, que mais uma vez hesitou relutante ao passar pela mulher cujas saias volumosas bloqueavam a passagem e, ao mesmo tempo, ansiosa para sair dali.

– Tu não estás com ciúmes de uma criada, pois não, amor? – perguntou o barão, com um risinho gutural que não revelava, de facto, triunfo. Ele deu um passo na direcção da concubina e tomou-a nos braços, afastando-a da porta.

Com a passagem livre, Gabriella correu para fora do quarto, aliviada. No corredor, ela arriscou um olhar sobre o ombro e viu Josephine de Chaney arqueada para trás sobre os braços fortes do barão, enquanto ele a beijava. Antes, porém, que Gabriella seguisse o seu caminho, o barão DeGuerre, sem interromper o beijo, olhou para ela com uma expressão inegavelmente de gozo.

Enquanto beijava Josephine, Etienne reprimiu um sorriso que nada tinha a ver com a bela mulher que tinha nos seus braços.

Dali em diante, Gabriella Frechette entenderia qual era o seu lugar, pensou. Ocorreu a Etienne que poderia ter utilizado um ensinamento mais eficaz; mas não o fizera, e de nada adiantava perder tempo com arrependimentos inúteis.

Não que ele fosse possuir Gabriella à força. Etienne desprezava os homens que violavam mulheres de qualquer nível social, e jamais adoptaria uma táctica tão desprezível.

Como seria bem melhor e mais fácil se aquela pirralha tivesse nascido serva, no castelo! Ele dar-lhe-ia presentes, ela ficaria grata, ele dar-lhe-ia mais presentes, far-lhe-ia uma proposta que ela com certeza aceitaria, e então ele tê-la-ia nos braços, a retribuir-lhe os seus beijos com ardor e paixão...

Josephine gemeu baixinho e levou uma mão à cabeça para segurar a tiara, que ameaçava cair. Etienne levantou o rosto e olhou para ela durante um longo momento. O que é que estava a acontecer? Ele tinha a mulher mais linda do reino inteiro! Além de beleza, ela possuía também meiguice e inteligência. Etienne tinha com Josephine o acordo perfeito; oferecia-lhe abrigo, alimento e presentes, e até permitia que ela realizasse as funções de anfitriã, em troca dos prazeres do seu corpo e da recompensa da sua beleza. Ela era como um prémio de um torneio, a ilustração viva, para todos os homens, de que ele podia ter a mais bela mulher de todo o reino da Inglaterra.

– O que é que aconteceu à tua túnica? – quis saber Josephine, afastando-se e sentando-se em frente ao espelho.

Foi então que Etienne se deu conta de que, desde que entrara naquele quarto, não prestara atenção ao estado em que se encontrava.

À excepção dos itens descarregados das carroças das bagagens, os quais consistiam da penteadeira de Josephine e dois baús de roupa, o aposento continha apenas uma cadeira, um espelho, uma mesa com um jarro de vinho e uma cama estreita, que Etienne suspeitou não se tratar da peça original do mobiliário daquele quarto, nos tempo áureos do castelo. Não havia tapetes, nem ornamentos. Mas ele arranjaria uma solução, obviamente, com a ajuda de Josephine.

– Achei que Gabriella precisava de aprender quem é que manda aqui – respondeu.

A expressão de Josephine, reflectida no espelho, revelou surpresa.

– Seminu? – perguntou, arqueando as sobrancelhas. – Se bem que, se a tua intenção foi impressioná-la, não posso pensar num meio melhor.

Etienne virou-se para esconder o súbito rubor que lhe subiu ao rosto, algo que não lhe acontecia desde a adolescência. Naquele momento, ele teria preferido morrer do que admitir que a astuta e perspicaz Josephine percebera algo que ele próprio não se atrevera a confessar a si mesmo. No fundo do coração, Etienne esperara que Gabriella se sentisse dominada pela sua presença física, como normalmente acontecia com as mulheres; esperara que ela não resistisse à sensação de estar nos seus braços. Quando a reacção dela fora diferente, a única desculpa que Etienne encontrara para ter tirado a túnica fora a de que esta precisava de ser lavada.

– O que foi, Etienne? – murmurou Josephine, apreensiva.

Ele caminhou na direcção do velho baú que usara a vida inteira, levantou a tampa e retirou de dentro um robe forrado a pele.

– Está frio, aqui dentro.

Josephine sorriu, um sorriso glorioso que só vinha lembrar a Etienne como ela era linda.

– Isto aqui é um belo castelo, Etienne. Um presente merecido, do rei. Com a mobília apropriada, este quarto ficará bonito e confortável – Josephine hesitou por um momento. – Não é de admirar que ela se tenha recusado a ir embora.

Etienne não insultaria a inteligência de Josephine, perguntando-lhe a quem é que ela se referia.

– Eu não imaginei que ela ficasse. É uma mulher orgulhosa – Ele enrolou-se no robe e esfregou os braços, sentindo a maciez do forro na pele nua.

– Mas com alternativas limitadas – observou Josephine. – Ela é bonita. Talvez apareça alguém disposto a casar-se com ela. Tu autorizarás?

– Claro – respondeu Etienne, brusco, dizendo a si mesmo que se irritava sempre que Josephine falava em casamento. Desde o início, ele deixara claro que não tinha intenção de se casar novamente. Para ele, o casamento fora terrível, tanto com a primeira esposa quanto com a segunda, com ambas a exigirem-lhe a atenção à mesa do jantar, ou se ele gostara do vestido novo, que custara uma fortuna, quando ele já tinha mais do que gostaria com o que se preocupar e ocupar. Quanto aos supostos prazeres do leito nupcial, ele preferiria passar dez horas em cima de uma sela do que fazer amor com uma mulher criada apenas para ser a esposa de um nobre, e a quem tinham ensinado que o que acontecia na cama de um casal era simplesmente um dever desagradável a ser cumprido.

– O meirinho parece preocupar-se com ela – observou Josephine, interrompendo os pensamentos de Etienne.

– Por que é que pensas assim? Ele nada fez para a defender, lá em baixo.

– Eu vi a expressão dele quando tu ordenaste a Gabriella que subisse até ao teu quarto. Ele ficou transtornado, e saiu praticamente a correr, do salão.

– Se ele a quer, pode tê-la – Etienne encolheu os ombros. – Por enquanto, para que ela se consciencialize da sua posição aqui no castelo, mandei-a lavar a minha túnica.

– Ela não tem culpa se o pai foi um irresponsável.

– Eu sei, e por isso ofereci-lhe dinheiro para partir. Mas ela não quis aceitar.

– Mas mandá-la lavar a tua roupa! – Josephine olhou para Etienne, com um ar de censura.

Ele aproximou-se e segurou-lhe os ombros delicados, olhando para ela através do espelho.

– Não pretendo mantê-la como lavadeira. Tu precisas de uma aia, e pensei que talvez ela te pudesse servir.

– Sim, preciso de uma aia – concordou Josephine, desviando o olhar.

Etienne beijou-lhe as pontas dos dedos.

– Não há motivo para sentires ciúmes – garantiu, curvando-se para beijá-la nos lábios.

– Ela é uma jovem bonita.

– Não reparei – mentiu Etienne. – Gabriella Frechette não significa nada para mim.

Josephine desmanchou-se num largo sorriso que não disfarçava o alívio que sentia.

– Já que ainda não tenho uma aia, Etienne... – murmurou, com um olhar maroto. – Podes ajudar-me a tirar o vestido?

Etienne desamarrou o longo laço abaixo da nuca de Josephine, com uma ruga na testa e a expressão pensativa. Devia sentir-se feliz; era rico, poderoso e respeitado, e conseguira tudo sozinho, sem a ajuda da família ou de amigos influentes. Alcançara cada uma das suas ambições: riqueza, fama e poder; alcançara o destino que a mãe sempre sonhara para ele, o destino que a morte prematura do pai parecera, de certa forma, embargar. Ele era muito feliz.

– Obrigada, Etienne – sussurrou Josephine. – Posso fazer o resto sozinha.

Etienne foi sentar-se na cama e começou a descalçar as botas, lembrando-se por um instante da expressão atónita de Gabriella quando ele lhe pedira ajuda. Era evidente que ela imaginara que ele a arrastaria para a cama e a subjugaria, e Etienne admirava a atitude de orgulho e desafio que ela mantivera, perante tal convicção.

Gabriella era diferente de todas as mulheres que ele conhecera. Era uma pena que as circunstâncias das suas vidas fossem como fossem.

Ao olhar para Josephine, que penteava os cabelos envolta num robe de veludo, uma avassaladora sensação de solidão invadiu Etienne. O relacionamento deles era pouco mais que um acordo comercial; ele não amava Josephine, e tinha quase a certeza de que ela também não o amava.

Etienne reflectiu que não tinha do que se queixar. Entendia-se bem com Josephine, e ambos tinham consciência dos limites daquele relacionamento. Se faltava alguma coisa na sua vida, era um filho e herdeiro, e isso não era importante. Ele trabalhara e batalhara, não para adquirir bens que fossem herdados por um esbanjador, mas para si próprio.

Determinado a afastar o pensamento da filha do falecido conde, Etienne levantou-se e aproximou-se de Josephine; tirou-lhe a escova da mão e colocou-a sobre a penteadeira, passando depois os dedos pelos sedosos cabelos dourados. Com um pequeno suspiro, ela recostou-se contra ele.

O simples contacto excitou Etienne. As suas mãos deslizaram do pescoço para os ombros de Josephine e para dentro do robe. Gentilmente, ele acariciou-lhe os seios, até que ela deixou escapar um gemido de prazer. Etienne retirou as mãos e Josephine levantou-se e virou-se, em silêncio, com um inconfundível brilho de desejo nos olhos cor de esmeralda, conforme o tocava intimamente, sobre o robe.

Etienne fechou os olhos, determinado a entregar-se totalmente aos deleites do talento de Josephine, a usufruir daquele corpo espectacular e a extasiar-se com as práticas que ela nunca lhe negava.

Gabriella, de certeza, que era virgem.

Impaciente, Etienne puxou Josephine para os seus braços e entreabriu-lhe os lábios com a língua, segurando-lhe firmemente os quadris e pressionando-os contra si. Aquela era a mulher que compartilhava o seu corpo e a sua cama. Ele não pensaria em nenhuma outra.

Josephine respondeu com um gemido, movendo sedutoramente os quadris e acariciando, com dedos hábeis, os músculos das costas de Etienne.

– Eu fui mesmo tola ao sentir ciúmes – murmurou, arqueando o corpo contra o dele.

– Foste – retorquiu Etienne, beijando-a calorosamente. Não tinha vontade nenhuma de analisar as próprias emoções, e conhecia um método bastante eficaz para acalmar os seus pensamentos tumultuados.

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro

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