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– Oh, Sir George, eu sinto muito! – gritou Gabriella, colocando o outro balde no chão e correndo para ele. – Por favor, perdoe-me!

– Desde que não esteja a sugerir com isto que preciso de tomar banho... – brincou Sir George, contemplando as roupas encharcadas.

Atrás dele, Donald e Seldon mal conseguiam conter o riso. Os criados do estábulo e outros servos saíram para o pátio. Guido apareceu à porta da cozinha, com as mãos cobertas de massa, e a cabeça de Alda surgiu a uma das janelas estreitas do andar superior.

Gabriella ficou parada, desorientada, a tentar decidir o que fazer, com as mãos trémulas de nervosismo.

– Acalma-te, minha querida – tranquilizou Sir George, com um sorriso afável e sincero. – Já fui molhado, antes, mas nunca por uma pessoa tão bonita como tu.

Os que assistiam à cena sorriram, e Gabriella detectou risinhos e murmúrios abafados.

– A culpa foi minha – apressou-se Mary a dizer, aproximando-se e parando ao lado de Gabriella.

– Realmente, meninas, não importa quem foi a responsável pelo estado em que me encontro. Em todo o caso, acho melhor trocar de roupa, antes que apanhe uma constipação e depois uma pneumonia. Não seria uma causa muito heróica de morte, não acham? – Ele inclinou a cabeça. – Com licença.

Gabriella levou uma mão à boca, enquanto Sir George entrava no salão com toda a calma, como se fizesse parte do seu dia-a-dia andar com roupas molhadas. Donald e Seldon, divertidíssimos, seguiram-no para dentro do castelo, sem uma palavra ou olhar para as mulheres. Guido voltou para a cozinha, os servos retomaram as suas tarefas, e Alda, depois de um breve momento de evidente pânico, conseguiu tirar a cabeça da janela.

Gabriella imaginou como é que o barão DeGuerre reagiria àquele incidente, se Sir George, Bouchard, Seldon, ou um dos servos lhe contasse. Ela esperava ardentemente que ninguém mencionasse o ocorrido.

– É uma pena que o castelo não tenha ficado para este – murmurou Mary, pensativa. – Ele é muito simpático.

– Sim, muito – concordou Gabriella, abaixando-se para recolher os pedaços do balde partido. Suponho que a minha dívida seja maior, agora.

Com uma expressão séria, Mary pôs-se a ajudar Gabriella.

– Há uma outra coisa que eu lhe queria perguntar – começou ela. – É verdade que o barão estava disposto a deixar William e os outros pagarem a dívida por si, e eles recusaram-se?

– Sim – respondeu Gabriella, colocando os bocados no fundo do balde partido.

– Ora, todos sabem que eles têm condições para pagar, não acha, milady? – recriminou Mary, indignada. – Homens! São todos uns egoístas, se quer saber!

– Tu dizes isso porque não viste o barão, Mary – Gabriella sentiu-se na obrigação de esclarecer. – Ele mete medo. E aumentou as rendas no dia seguinte!

– Mas eles não lhe ofereceram nada? Depois de tudo que o seu pai fez por eles, é assim que retribuem? Eu sinto-me envergonhada, sabia?

– Não ficarei para sempre nesta condição, Mary – lembrou Gabriella.

– Mas não está certo!

Mary segurou o braço de Gabriella e puxou-a para o outro lado do poço, onde não poderiam ser observadas por olhos curiosos.

– Eu tenho umas economias – sussurrou, enfiando a mão dentro do corpete e retirando um pedaço de tecido enrolado e amarrado com um nó. – Tome, milady. Não é muito, mas ajudará um pouco. Pode dar ao barão, como parte do pagamento da dívida.

Gabriella olhou para a oferta sincera. A sua fé no povo do seu pai, justificadamente abalada, renovou-se. Como ela queria que o barão estivesse ali, para assistir àquela cena!

– Não posso aceitar, Mary – recusou, balançando a cabeça. – Tu podes vir a precisar desse dinheiro.

Mary continuou com a mão estendida.

– Milady, isto não é nada comparado com o que o seu pai nos deu. Além do mais, não posso ficar de braços cruzados, a ver milady nesta situação – Mary sacudiu o rolinho de pano. – Se não aceitar, entregá-lo-ei pessoalmente ao barão!

Gabriella conhecia Mary o suficiente para saber que, se não aceitasse a oferta, ela seria capaz de reunir coragem e procurar o barão. Segurou a mão grossa e calejada entre as suas e apertou-a, ternamente.

– Eu agradeço-te, do fundo do meu coração, Mary – murmurou, com sinceridade e humildade. – Sinto-me honrada em aceitar a tua oferta.

O rosto de Mary iluminou-se.

– As outras pessoas também querem ajudar. Jhane é uma, mas ela tem medo que William descubra. Eu disse-lhe, «O dinheiro é teu, ora bolas!» Afinal, não é ela quem faz a cerveja?

– Mary – disse Gabriella, enfiando o saquinho de moedas dentro do cinto. – aprecio tanto o vosso carinho, que não quero causar problemas. Não insistas com Jhane para que me dê o dinheiro.

– Bem... – Mary hesitou, como se não concordasse com o ponto de vista de Gabriella.

– Obrigada, Mary, a sério! Isto é muito mais do que eu podia esperar – Gabriella gesticulou na direcção do que sobrara do balde. – Agora, preciso de voltar ao trabalho, embora, graças a ti, os meus dias como serva serão bem mais curtos!

– E quero que prometa que, no dia em que sair do castelo, irá morar comigo. A minha casinha não é grande coisa, mas é minha.

Gabriella sorriu e assentiu com a cabeça; sabia que devia sentir-se grata a Mary. A dívida seria paga, e ela teria um lugar para onde ir; seria livre, outra vez. Se não se sentia entusiasmada com a ideia, certamente era pelo facto de ter de deixar de viver no castelo, que sempre fora o seu lar. Só isso. Nada mais.

Robert Chalfront entrou, apressado, no salão principal, à procura de Sir George. Tinha quase a certeza de que o barão deixara mais ordens e instruções para serem cumpridas durante a sua ausência. Infelizmente, Sir George não parecia muito preocupado em repeti-las, lembrando-se apenas ocasionalmente de transmitir a Robert um ou outro recado do barão. Robert só esperava que o barão não o culpasse, se ele tivesse deixado de cumprir alguma coisa porque Sir George se esquecera de lhe dizer.

Ele olhou ao redor do salão, rezando para que Gabriella estivesse na cozinha, ou a atender lady de Chaney. Não tinha a menor vontade de ver Gabriella; isso só o faria lembrar de como fora idiota. Ele pedira-a em casamento com a melhor das intenções, apenas para ser rechaçado; era o agradecimento que recebia por ter tentado ajudar o desajuizado do pai dela e o desajustado do irmão. Ele, tal e qual um pateta, enchera-se de esperança. A descoberta de que Gabriella preferia ficar agachada à margem do rio, a esfregar a roupa de outro homem, do que ser a sua esposa, destruíra-lhe finalmente as ilusões.

O que ele tivera por Gabriella fora uma paixão, reflectiu Robert; nunca a amara de verdade. Fora uma total falta de senso tê-la pedido em casamento! Por um lado, fora uma sorte ela não ter aceitado. Agora, ele era um homem mais amadurecido e esperto; não se deixaria levar facilmente, outra vez, pelos encantos de uma mulher.

Não havia sinal de Sir George, nem dos amigos dele, no salão. Além de duas servas que varriam o chão e outras duas que lustravam os castiçais, o aposento estava deserto.

De repente, Robert avistou lady de Chaney, parada na escada da torre. De facto, devia ser verdade que ela era a mulher mais bela da Inglaterra, pensou ele, fascinado; e nunca a vira tão bonita como então. Ela trajava um vestido azul-escuro, de um tecido que parecia ser a mais macia das lãs; na cabeça, usava um chapéu em formato de cone, do mesmo tecido, de cuja ponta pendia uma écharpe de um tom mais claro de azul, como um véu sobre os cabelos dourados, sedosos e brilhantes. Um cinto estreito de couro vermelho realçava-lhe a cintura fina.

E o sorriso! O sorriso daquela jovem era a coisa mais linda que Robert já vira!

Josephine de Chaney fez-lhe um sinal com a mão para que ele se aproximasse.

Robert engoliu em seco e olhou furtivamente ao redor do salão deserto. Incrédulo, apontou para o próprio peito e ficou quase paralisado pelo choque quando ela inclinou a cabeça em assentimento.

Por todos os santos! O que é que a concubina do barão podia querer com ele?! Ocorreu, então, a Robert, que ela talvez lhe quisesse pedir alguma coisa, ou incumbi-lo de uma tarefa.

Era a única explicação, pensou Robert, encaminhando-se para a escada. Talvez o barão tivesse previsto que Sir George não se lembraria de tudo e encarregado lady Josephine de lhe transmitir alguma ordem importante.

– Vem comigo ao solário – disse Josephine, quando ele se aproximou.

Ainda a sentir-se como um conspirador, Robert olhou sobre o ombro, para ver se alguém os observava. Em seguida, disse a si mesmo que deixasse de ser tolo. Aquela maravilhosa mulher pertencia ao barão DeGuerre; não havia motivo para que qualquer pessoa pensasse que estava a acontecer outra coisa entre ele e lady Josephine, além de uma conversa sobre assuntos relativos ao castelo.

Apesar disso, quando Josephine fechou a porta do solário atrás dele, Robert começou a transpirar.

– Em que posso ajudá-la, milady? – perguntou, nervoso.

Ela sentou-se atrás da enorme mesa de cavalete e sorriu.

– Por favor, senta-te – convidou, com a voz suave e gentil.

Robert obedeceu, ou melhor, equilibrou-se na beirada da cadeira que Josephine lhe indicou.

– Diz-me, Chalfront, qual é a tua opinião sobre o barão?

Os olhos de Robert arregalaram-se, e ele pigarreou. Que tipo de pergunta era aquela? Estaria lady Josephine a testá-lo, ou esperava uma resposta sincera?

– Não me cabe a mim ter opinião sobre o barão, milady – respondeu, finalmente, sério. – Ele é o meu amo.

– Uma resposta sensata – aprovou Josephine, com um sorriso, embora, desta vez, Robert detectasse uma expressão diferente nos olhos verdes. Tristeza?... Não, seria mais... melancolia. Sim, melancolia. Ela pousou as mãos sobre a mesa e contemplou-as. – Eu fiquei surpresa com a decisão dele de fazer esta viagem agora, quando Jean Luc estava para vir de qualquer forma.

– O barão disse que tinha negócios a tratar.

– Sim – murmurou Josephine, pensativa. – Negócios...

Por um momento, Robert sentiu raiva do barão DeGuerre. O homem parecia ter o dom de causar sofrimento às mulheres! Primeiro, a Gabriella, e agora, a lady de Chaney, que mal conseguia conter as lágrimas!

– Certamente, são negócios importantes para o levarem para longe de milady – observou, com sinceridade.

– Tu és muito gentil – Josephine sorriu, novamente. Céus, ela era a mulher mais encantadora do mundo! – De onde és tu, Chalfront? Ou será que te posso chamar de Robert?

– Por favor, milady, eu sentir-me-ei honrado! – Robert empertigou-se, na beirada da cadeira. – Sou de Oxfordshire.

– Bem que eu desconfiei! – exclamou ela, deliciada. – A casa da minha família ficava aí perto!

Robert perguntou-se como nunca vira lady de Chaney em Oxfordshire, mas depois reflectiu que, obviamente, nunca teriam frequentado os mesmos lugares, uma vez que pertenciam a camadas sociais diferentes. O que era uma pena.

– Diz-me, tu conhecias Douglas, o carpinteiro? – quis saber ela, com os olhos brilhantes com as lembranças do passado.

– Se eu o conhecia? Ele era meu tio, milady.

– Ah! Desde o primeiro dia em que te vi, que achei que te parecias com ele!

– Ele morreu no último Inverno, milady, lamento dizer. Mas já era bastante idoso... tinha quase sessenta anos!

– Imagino – murmurou Josephine, consternada. – Ele já tinha o cabelo grisalho, quando eu era criança! Era um homem fantástico.

– Sempre a brincar, a divertir as pessoas – recordou Robert.

– E o abade? – perguntou Josephine. – Era o oposto do teu tio! Sério, carrancudo...

– O Padre Harold? Continua vivo e forte, e mais carrancudo que nunca – informou Robert, com um sorriso tortuoso. – Não sei se é sacrilégio o que vou dizer, mas receio que ele nunca morra, milady. Nem os anjos do céu o querem lá! É claro que ele pode ficar bem mais simpático, depois de morto.

Lady de Chaney riu, um riso doce e quente, repleto de carinho pelas memórias que ambos compartilhavam. Todas as preocupações de Robert pareciam desvanecer-se ao som daquele riso encantador.

– Eu gostaria de lá voltar, um dia. Tenho lembranças tão felizes da infância!

– Como eu, milady.

Josephine suspirou e ambos ficaram durante um momento em silêncio, até que ela olhou para Robert nos olhos, desconcertando-o.

– Há mais uma coisa em comum entre nós, Robert, além das memórias de Oxfordshire. Nós os dois dependemos do barão. Acho que... como é que poderei dizer?... – Ela reflectiu durante um momento. – Acho que é importante, para nós, conhecermos... o estado de espírito dele.

– Sim, milady – concordou Robert.

– Serei clara contigo, Robert, sobre uma coisa que me está a preocupar – Josephine inclinou-se para a frente, com o olhar astuto fixo em Robert. – Achas que Gabriella Frechette quer o barão?

– Para quê? – Robert franziu a testa, perplexo com a pergunta. Porém, no mesmo instante, a resposta ocorreu-lhe, sem que houvesse necessidade de Josephine explicar. Ele prendeu a respiração e enrubesceu.

– Não, nunca! Ela detesta o barão! Ele ocupou a casa que era dela.

Josephine assentiu com um movimento de cabeça, embora não parecesse convencida.

– Milady não pensa que... o barão está interessado nela? – perguntou Robert, chocado. – Para que é que ele ia querer Gabriella, se pode ter milady?

Um sorriso melancólico curvou os lábios de Josephine.

– Ele não é apaixonado por mim. Se ele realmente quiser ter Gabriella, tê-la-á. Nenhuma mulher consegue resistir por muito tempo a Etienne.

– Ainda acho que ele não tem grande oportunidade de conseguir – insistiu Robert. – Gabriella nunca se entregaria a um homem, como se fosse uma... como se...

Robert enrubesceu, dando-se conta de que por pouco não fora indelicado com lady de Chaney. Ela, no entanto, não pareceu abalar-se. No fundo, era uma mulher inteligente e prática.

– Não, ela já deixou isso claro – admitiu Josephine. – Mas Etienne é... bem, ele é um homem envolvente. Ela pode deixar-se levar...

– Não, milady. Gabriella, não – interrompeu Robert. – Além do mais, ela não perde a esperança de que o irmão volte.

– Tu achas isso provável?

– Não, milady.

– Eu lamento ouvir-te dizer isso – murmurou Josephine, e Robert sabia que ela estava a ser sincera. Era uma jovem compreensiva e bondosa, com um coração de ouro! – Achas, então que não tenho nada a temer? Que o barão não está interessado em Gabriella?

– Por que é que ele se interessaria por ela, quando tem milady? – repetiu Robert, inconformado com a insegurança de Josephine. Ela era a mulher mais desejável do universo!

– Porque ele não me ama e sabe que eu não o amo.

– Oh... – O coração de Robert deu um salto e começou a bater mais depressa. – N... Não?

– Não. Eu nunca me apaixonei, Robert.

Robert não sabia o que dizer. Mesmo que soubesse, não conseguiria falar; aquela inesperada confissão de Josephine deixara-o sem voz.

– Robert, tu continuarias no castelo, se Etienne fizesse de Gabriella a sua concubina?

Robert não esperara aquele tipo de pergunta, e não sabia como responder. De repente, uma visão surgiu-lhe na mente, de si mesmo com aquela mulher ao seu lado, juntos. Impossível! O simples pensamento era, na melhor das hipóteses, loucura, e na pior, traição. Lady Josephine pertencia ao barão DeGuerre! E, apesar da conversa agradável que durava há minutos, ela nunca olharia para ele com outros olhos. Afinal, ele não passava de um camponês! E... que pensamento terrível! Talvez o barão tivesse contado a lady Josephine sobre as acusações de Gabriella, em relação à sua honestidade.

Apesar de tudo, de todas as resoluções, temores e pensamentos conturbados, naquele instante Josephine de Chaney capturou completa, total e irrevogavelmente o coração solitário de Robert Chalfront.

Ela levantou-se, com graciosidade.

– Pensarei no que me disseste, Robert – murmurou, estendendo a mão. – Sei que és um homem ocupado, e não te quero ocupar mais o teu tempo.

Ela ia ficar com o barão; ela pertencia ao barão. Ele não passava de um simplório, um tolo, um idiota, repetia a si mesmo, enquanto se curvava para beijar os dedos incrivelmente macios de Josephine.

Não foi o mesmo, no entanto, que pensou Josephine de Chaney, enquanto observava Robert Chalfront a retirar-se. Ela pensava, pelo contrário, que há muito tempo que não apreciava tanto conversar com alguém. Robert Chalfront não tentara seduzi-la, ou impressioná-la, ou bajulá-la. Em nenhum momento, ela ficara preocupada com o que devia dizer, ou se dissera a coisa certa, ou não. Robert não era fisicamente atraente como outros homens que ela conhecera, mas havia nele uma pureza e uma sinceridade que compensavam aquela falha.

De qualquer forma, fora uma conversa muito agradável.

Josephine aproximou-se da janela, de onde podia avistar o homem de rosto redondo, um homem que era mais jovem do que aparentava a sua expressão constantemente séria, a atravessar o pátio. Ele era, também, inteligente, responsável e honesto. Seria um marido bom e fiel para com a mulher com quem se casasse; uma mulher virgem, que não se vendera a um nobre.

Com um suspiro entrecortado, Josephine empertigou-se. O que fizera estava feito, e de nada adiantava lamentar-se. Precisava, agora, de pensar no futuro.

Batalha de amor - Uma dama para o cavaleiro

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