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Noturno

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Luzes do Cambuci pelas noites de crime...

Calor!... E as nuvens baixas muito grossas,

Feitas de corpos de mariposas,

Rumorejando na epiderme das árvores...


Gingam os bondes como um fogo de artifício,

Sapateando nos trilhos,

Cuspindo um orifício na treva cor de cal...


Num perfume de heliotrópios e de poças

Gira uma flor-do-mal... Veio do Turquestã;

E traz olheiras que escurecem almas...

Fundiu esterlinas entre as unhas roxas

Nos oscilantes de Ribeirão Preto...


— Batat’ assat'ô furnn!...


Luzes do Cambuci pelas noites de crime!...

Calor... E as nuvens baixas muito grossas,

Feitas de corpos de mariposas,

Rumorejando na epiderme das árvores...


Um mulato cor de ouro,

Com cabeleira feita de alianças polidas...

Violão. "Quando eu morrer..." Um cheiro pesado de

[baunilhas


Oscila, tomba e rola no chão...

Ondula no ar a nostalgia das Baías...


E os bondes passam como um fogo de artificio,

Sapateando nos trilhos,

Ferindo um orifício na treva cor de cal...


— Batat' assat’ô furnn!...


Calor!... Os diabos andam no ar

Corpos de nuas carregando...

As lassitudes dos sempres imprevistos!


E as almas acordando às mãos dos enlaçados!

Idílios sob os plátanos!...

E o ciúme universal às fanfarras gloriosas

De saias cor-de-rosa e gravatas cor-de-rosa!...


Balcões na cautela latejante, onde florem Iracemas

Para os encontros dos guerreiros brancos... Brancos?

E que os cães latam nos jardins!

Ninguém, ninguém, ninguém se importa!

Todos embarcam na Alameda dos Beijos da Aventura!

Mas eu... Estas minhas grades em girândolas de jasmins,

Enquanto as travessas do Cambuci nos livres

Da liberdade dos lábios entreabertos!...

Arlequinal! Arlequinal!

As nuvens baixas muito grossas,

Feitas de corpos de mariposas,

Rumorejando na epiderme das árvores...

Mas sobre estas minhas grades em girândolas de jasmins,

O estelário delira em carnagens de luz,

E meu céu é todo um rojão de lágrimas!...


E os bondes riscam como um fogo de artifício,

Sapateando nos trilhos,

Jorrando um orifício na treva cor de cal...


— Batat' assat’ô furnn!...

Mestres da Poesia - Mário de Andrade

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