Читать книгу Desertos - Rui José Carvalho - Страница 12

Оглавление

Água. Somos água escorrendo. Náufragos corpos buscando o estridente deserto, uma qualquer mágoa firmando todo este silêncio. De paradeiro incerto, sofridamente nos erigimos de encontro à estranheza do mundo.

Tempos atrás habitámos distantes lugares, longínquas terras vividas em contramão. Antes houve promessas e nas promessas ferozmente nos discorremos. Fomos ferozes de encontro às cidades, ferozmente escorrendo por fora do leito dos rios.

Somos agora regressados a casa. Firmados no sonho, no regresso reerguemos as cabeças decepadas. Somos de novo a afirmativa presença. Afirmativamente presentes apressamo-nos na escavação, no célere augúrio das coisas vindouras.

Antes. Antes houve poetas cantando o declínio.

Agora somos incertos. Incertas certezas desesperando a vicissitude.

Aqui aguardamos o declínio, a escassa sede dos augúrios. Somos agora desertos.

Longinquamente reflexos na mais íngreme estranheza, tornámo-nos náufragos. Náufragos desertos abundando entre as cores.

Gritamos: “aqui somos!”.

Ninguém nos ouve. Ninguém nos ouve porque ninguém há para nos ouvir. Náufragos. Náufragos até ao deserto.

Aqui, desde onde nos perecemos.

Desertos

Подняться наверх