Читать книгу Desertos - Rui José Carvalho - Страница 8

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A subida é uma escalada incerta e o fôlego é impreciso.

Gasto-me, entre a proeza do equilíbrio e a ciência da respiração. O esgotamento das possibilidades leva tempo, muito tempo. A respiração é curta para tanto caminhar. Em cada degrau me restabeleço.

Paro, por um segundo que seja. Em cada paragem a visão vai-se tornando cada vez mais abrangente. A cada passo dado sou mais seguro no vento, quase perto de voar.

A segurança não é ter corrimões onde nos podemos agarrar, é sermos cada vez mais perto do desequilíbrio.

Adquiro a ciência da queda, o amortecer-me dos ossos no chão. O truque do domínio.

Ser autárquico. Pouco mais que um punhado de livros abertos entre as mãos.

Ter contudo saudades; da música, das mulheres nuas dançando entre os meus dedos. Ter saudades da fortuna e ainda assim persistir. Olhar para baixo, olhar para baixo e ser tão alto. Sonegar o tempo à estupidez. Optar pela dificuldade quando aos outros tudo parece ser tão simples. Esgotar tudo o que se é naquilo que valor tem. Recusar o chamamento da publicidade. Recusar a publicidade dos dias. Não correr. Discorrer. Ganhar fôlego no cansaço.

Trazer-me poemas nas mãos. Nas mãos trazer-me ciladas onde me fazer cair. Devoluto, continuamente tropeçar-me na inexistência de claridade. Ser incerto, de ternura incerta, peito aberto e também ele incerto, ofuscado na penumbra. Inciso, impreciso, imprestável para a calibragem do mundo.

Não correr. Discorrer.

Tão só subir, tão só subir à vertigem de ser tão alto.

Desertos

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