Читать книгу Desertos - Rui José Carvalho - Страница 7

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Pavimentaram-nos o chão para que não nos semeássemos.

No entanto, eis-nos: ervas daninhas crescendo. A arte floresce onde menos se espera. Onde quer que haja sede de espírito e alguma chuva caindo. Somos refletidos na imagem da terra, entre a terra e o céu, é este o lugar que nos espelha.

Por entre os pingos da água caindo, aqui aguardamos o dilúvio. Aguardamos que o céu nos caia, para que do céu caído algum breve amor nos reencontre.

Aqui ouvimos a chuva que ainda há pouco deixou de cair, o breve passar do tempo. Na terra prenhe de nós, aqui habitamos os interstícios do solo.

Pavimentaram-nos o chão para que não nos semeássemos, para que no mundo mais não houvesse que o haver que ser.

Contudo, esperamos AINDA milagres. Aguardamos que o céu nos caia, que no cair do céu haja o reinício do mundo. Aguardamos o recomeço, todos os cataclismos. O reencontro em Gaia e Urano antes ainda do Tempo urdindo a vingança.

Libertar-nos-emos das grades que nos cercam. As grades são imagens impostas na paisagem e ervas daninhas não conhecem prisões.

Eis o lugar onde nos espelhamos. Espraiamo-nos luz acima para que a luz nos incida. Temos sede de luz, da luminosa saudade impregnada em futuro. Iluminados pela estranheza do que somos, à vileza que nos cerca contrapomos os intrépidos lugares onde nos fazemos crescer.

Aqui, no preciso lugar das apostas perdidas seremos a vitória dos reencontros.


Desertos

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