Читать книгу Amante de sonho - Algo mais do que seu chefe - Susan Stephens - Страница 10
Capítulo 6
ОглавлениеQuando a reunião acabou, Quinn pediu-lhe para ficar. Mesmo que fosse um sonho, tinha de defender a sua postura. Quinn conformava-se com uma equipa medíocre? Não podia avaliar as capacidades das suas trabalhadoras, dar-lhes uma oportunidade? Quanto mais pensava nisso, mais se enfurecia.
– Que rica experiência que estás a levar a cabo – comentou.
– Não se trata de uma experiência, Magenta. É a minha empresa e, ou acatas as minhas regras, ou sais por essa porta e não voltas mais.
– Não podes despedir-me, sem mais nem menos.
– Põe-me à prova.
O que sabia das leis de trabalho dos anos sessenta?
– Para alguém que acabou de receber uma promoção, a tua atitude é bastante dececionante.
– Simplesmente, estou surpreendida com a qualidade da tua equipa.
– Não és tu que tens de comentar as minhas decisões. Estou a avaliar o rendimento de todos e devo dizer que, até agora, tu és a minha principal deceção. Em vez de te mostrares contente com a promoção, pareces descontente.
– Isso, não é verdade – tinha de manter o seu trabalho. De que outra forma poderia lutar pelo reconhecimento? Tanto o dela, como o das colegas? – Sinto-me incomodada com o meu novo cargo, com a confiança que depositaste em mim – evitou pestanejar sedutoramente. – Vou começar a trabalhar a sério e prometo que não voltarei a defraudar-te. Espero ter tomado notas, acertadamente – Magenta mostrou-lhe o caderno.
– Digo-te quando estiverem passadas à máquina – Quinn ignorou-a. – Mais uma coisa.
– Sim?
– Os teus deveres incluem gerir o escritório, fiscalizar as empregadas da limpeza, as raparigas do serviço de mecanografia e as do posto telefónico, mas não deves intervir nas minhas reuniões. Ficou bem claro?
– Nem sequer se tiver uma ideia que gostaria de expor?
A expressão de Quinn teria espantado mais de um homem, mas Magenta continuou.
– Há algumas coisas que gostaria de sugerir, pelo bem da empresa. E menciono isso como diretora do escritório e tua secretária, para te poupar a ofensa desnecessária, no futuro.
– Fala.
– O assunto do tabaco – a presença de Quinn era imponente, mas obrigou-se a continuar. – Nancy mencionou que trabalham aqui pessoas asmáticas ou com doenças coronárias.
– E achas que deveria livrar-me delas?
– Não! – exclamou Magenta. – O que quero é que não permitas que fumem no escritório.
– Vou dizer-te uma coisa – Quinn soltou uma gargalhada. – Vou deixar que trates disso.
– Vou fazê-lo. Ou faço isso, ou abro as janelas. E não me parece que queiras que a produtividade das raparigas diminua, se tiverem os dedos tensos por causa do frio. Disseste que iam ter muito trabalho.
– Muito bem, Magenta – o patrão sorriu, – embora deva admitir que prefiro que as minhas secretárias sejam mais decorativas, do que combativas.
Um calafrio percorreu-lhe a coluna vertebral.
– Já acabámos? – acrescentou, bruscamente.
– Sim, claro. Acabámos.
– Tens a certeza de que apresentaste todas as tuas queixas?
– Vou começar a tratar das minhas notas – fantástico, o patrão pensava que estava a queixar-se.
– Isso mesmo – e nem sequer se incomodou em levantar o olhar do documento que estava a ler.
– Parece-te bem assim? – perguntou Magenta, a Quinn, um pouco depois, enquanto lhe mostrava as notas datilografadas. Há muito que não escrevia nada, sem a ajuda de um corretor ortográfico.
– Quero sempre esta qualidade, no teu trabalho – o patrão devolveu-lhe o documento.
Magenta não sabia se conseguiria sobreviver a tantos elogios. Dedicara grande parte da hora de almoço a habituar-se à velha máquina de escrever. Todo o material de escritório precisava de ser substituído. Talvez estivessem nos anos sessenta, mas não havia necessidade de usar equipamento obsoleto. Comunicou as suas inquietações a Quinn.
– Acabaste de decidir que vais tomar conta das reparações e renovações. Espero que consigas lidar com tudo isso, juntamente com o resto das tuas novas obrigações.
Teria de o fazer. Estava tão ansiosa por encaixar ali que, cada vez assumia mais trabalho, quando o que desejava realmente era formar uma equipa, convencer aquelas raparigas de que eram capazes de muito mais do que de datilografar listas e cartas.
– Que tal um jantar?
– Queres que reserve uma mesa para jantar? – olhou fixamente para ele.
– Estou disposto a fazer algumas concessões. Até te habituares, Magenta. Mas, se não prestares atenção quando eu falar, a minha paciência demorará muito pouco a esgotar-se.
A paciência dele? Perdera alguma coisa?
– Acabei de perguntar se queres jantar comigo, esta noite.
O coração de Magenta acelerou. A sua mente recusava-se a aceitar mas, como ia rejeitar aquele homem, sem o ofender?
E como ia aceitar o convite, sem comprometer a sua posição? Aquele homem não mostrara nenhuma amabilidade, embora tivesse percebido um brilho de interesse no olhar. Se conseguisse dizer algo minimamente inteligente, devia encontrar um modo de o rejeitar.
– Adoraria jantar contigo mas, tenho imenso trabalho...
– Terás de comer alguma coisa.
– Vou comer uma sanduíche, aqui mesmo – declarou. – Tenho bem presente a data limite, para lançar a campanha no início do ano. Além disso, estou a pensar em algumas ideias.
– O que estás a fazer?
– A pensar num novo... – a voz de Magenta começara a tremer.
A expressão de Quinn não era, precisamente, de encorajamento. Aquele homem era incapaz de imaginar uma mulher a ter uma ideia original e a sua missão seria demonstrar que estava enganado.
– Presumo que essas ideias não têm nada a ver com o trabalho que fazes para mim.
– Sim – na verdade, tinham a ver com o trabalho que gostaria de fazer para ele, – mas...
– Se o teu trabalho se ressentir...
– Não será assim.
– Mais vale – depois de se levantar, Quinn sentou-se, imponente e desejável, na beira da mesa.
«Meio homem, meio animal, pura masculinidade». Magenta recordou o rótulo de um perfume para homem, dos anos sessenta.
– Apresenta-me essas ideias, quando as preparares.
Porque se sentia tão agradecida pela concessão reticente?
– E não te esgotes a trabalhar em projetos pessoais, ao ponto de não renderes para mim.
– Adoro ficar a trabalhar até tarde.
– Devias ter pedido ajuda às raparigas.
– Estou bem, a sério – as raparigas já tinham o bastante com o seu dia de trabalho. – Vai-te embora.
– Dás-me a tua permissão? – perguntou Quinn, com ironia. – Que amável da tua parte.
– Lamento, não pretendia...
– Boa noite, menina Steele! Não te esqueças de fechar a porta à chave, quando te fores embora.
Enquanto observava o patrão a dirigir-se para a saída, Magenta desejou ser uma femme fatale a que nenhum homem pudesse resistir.
«Continua a sonhar», pensou, com amargura, antes de regressar ao trabalho.
Depois de várias horas dedicadas a dar os últimos retoques à campanha, o som do elevador fê-la ficar tensa e deu um salto quando parou naquele andar.
Quase sentiu alívio ao ver Quinn. Mas, o que fazia ele ali?
– Esqueceste-te de alguma coisa? – o coração acelerava de antecipação. Por muito que aquele homem a irritasse, não havia dúvida alguma da vida e vitalidade que injetava no escritório vazio e silencioso.
– Menina Steele – os olhos dele emitiam brilhos quentes, divertidos.
– Queres alguma coisa? – perguntou, confusa e agitada.
– Que tal um café?
– Claro – Magenta apreciou o cheiro da noite e o ar fresco do patrão.
Na gola do casaco, havia neve e os cristais de gelo resplandeciam no cabelo preto. A imagem levou-a à lembrança de um jovem motoqueiro, a tirar o capacete.
– Não esperavas ver-me a regressar, esta noite – supôs Quinn, acertadamente, enquanto a seguia para a cozinha. – Vi as luzes e tive piedade de ti.
– Que amável – murmurou ela. – Forte e quente?
– Como queiras – Quinn deu uma gargalhada muito sensual.
– Estava a falar do café – estavam a namoriscar?
– Eu também – assegurou. – Põe um pouco disto – mostrou-lhe uma garrafa de uísque, do bom. – Parecias estar cansada e pensei em trazer algo que fizesse acelerar o sangue.
– Por acaso, a minha bebida favorita é uísque. Conheces-me bem.
– Não te conheço, mas esse é um erro que tenciono emendar.
Magenta sentiu necessidade de alimentar o instante fugaz de cumplicidade que surgira entre eles.
– Peço desculpa de antemão, por transgredir uma das tuas leis feministas – Quinn adiantou-se.
Ao sentir aqueles lábios masculinos nos seus, Magenta deu um salto. Depois, ele empurrou-a contra a bancada da cozinha e, separando-lhe as pernas, puxou-a para ele.
– Esquece o café – murmurou, beijando-lhe o pescoço e os lábios até a enlouquecer de desejo. – Precisas mais disto.
«Certamente, sim», pensou Magenta, enquanto lhe rodeava o pescoço com os braços. A opinião da sua consciência, quando acordasse na manhã seguinte, seria outra questão. De todos os modos, estava a sonhar e, segundo as leis dos sonhos, qualquer coisa era possível, até mesmo o esquecimento das inibições sexuais. Além disso, Quinn beijava como os deuses.
Tinha cabelo denso, brilhante, um corpo musculado e atlético, que a excitou imediatamente. A língua sabia a menta e a pele cheirava a almíscar, e especiarias. A barba incipiente arranhou-lhe o rosto. Aquele homem era perito na arte da sedução e sabia exatamente como excitar, acariciar e mordiscar, até a ter a apertar-se contra ele, a retorcer-se, a saborear e quase a suplicar que a acariciasse, enquanto se entregava ao amor. Pelo menos, no seu sonho.
No entanto, disparou um alarme dentro dela. Um alarme decidido a estragar tudo, que a avisava de que talvez estivesse a seguir um atalho para o prazer, a perder a noção do bem e do mal, mas que era Quinn que controlava a situação. Era forte em tudo, exceto nisso. Embora tivesse aceitado o amor livre, teria de ser segundo as suas condições. Acabara de lhe pôr um preço, um que talvez pudesse dar uma oportunidade à equipa que tencionava formar.
– Vou fazer o café – recorrendo a toda a sua força de vontade, afastou-se dele. – Achas que podes dar uma vista de olhos às minhas ideias?
– Queres saber se gostaria de ver o que estiveste a fazer, enquanto te pagava para trabalhares para mim? Penso que seria boa ideia – apoiando a anca na bancada, Quinn esperou que ela acabasse de fazer o café. – Isto é muito bom. De onde tiraste a ideia?
– Investiguei – aquele homem nem imaginava as vantagens de viver no futuro. – Gostaria de levar a campanha para outro nível – nunca mentira, não precisava disso.
– A tua ideia é inovadora – admitiu Quinn, secamente. – Devo presumir que a equipa que viste na sala de reuniões não te impressionou?
– Poderia dizer-se que sim – admitiu Magenta, sob o olhar atento do patrão.
– Talvez precisem de um pouco de tempo para se adaptar.
– Não há tempo, se quiseres lançar a campanha no início do ano.
– Assim sendo, sugeres que aceite uma campanha desenhada por uma mulher.
– Achas uma loucura?
– Esqueces a ordem natural das coisas, Magenta. Os homens mandam no trabalho, para que as mulheres desfrutem de um determinado estilo de vida.
– Mas, se lhes deres uma oportunidade, as mulheres podem fazer isso, sozinhas.
– E eu não permito. É isso que insinuas?
– Talvez os homens se sintam ameaçados...
– Este homem não – interrompeu Quinn.
– Demonstra-o, permitindo que as mulheres intervenham ativamente na tua campanha.
– E como sei que, para além de ti, há outras mulheres com o teu talento, a trabalhar para mim?
– Nunca saberás, se não deres oportunidade a todos.
– Se há tanto talento aqui, porque é que nenhuma se manifestou até agora?
– Porque querem conservar os seus postos de trabalho e mantêm a boca fechada. Penso que, ao desenhar uma campanha, devíamos ter em conta o público feminino.
– E, o que querem as mulheres? – nem sequer fingiu pensar nisso. – Quem se importa que sejam os homens a pagar as contas? Isto é um negócio, Magenta. Os homens ganham o dinheiro que as mulheres gastam, não te esqueças disso. O nosso público é masculino.
Magenta odiou-se por tremer, enquanto ouvia as heresias que aquele homem pronunciava. No entanto, não devia esquecer-se de que era apenas um produto do seu tempo.
– Mas, deves reconhecer que são as mulheres que fazem as contas e controlam as finanças.
– Tolices! Quem diz a uma mulher o que deve comprar, Magenta? O seu homem.
– A esta mulher não.
– Só te peço que te sintonizes com o teu público. Mas, às vezes, penso que tens a cabeça noutro lugar ou até mesmo noutro século.
«Quente, quente», pensou ela.
– Se continuares a pensar que só devemos dirigir-nos a um setor da comunidade, esta empresa vai afundar-se como uma pedra num lago, levando o teu investimento com ela.
– Porque não me ensinas a forma de chegar ao público adequado? – depois de um silêncio tenso, o rosto de Quinn relaxou e o seu olhar transformou-se em fogo.