Читать книгу Amante de sonho - Algo mais do que seu chefe - Susan Stephens - Страница 5
Capítulo 1
ОглавлениеMagenta gritou, quando o motoqueiro travou a fundo.
– O que estás a fazer? – reclamou, furiosa.
O homem tirou o capacete e libertou o cabelo preto. Era o tipo de homem com quem uma mulher não quereria encontrar-se num dia infernal, quando parecia ter sido arrastada para um lamaçal. Era muito bonito, elegante e autoritário. E tinha tatuada a palavra «perigo».
– E então? – insistiu Magenta, num tom irado. – Conduzes sempre como um louco?
– Sempre – confirmou.
– Devia denunciar-te.
«E, certamente, vou fazê-lo», decidiu Magenta. Fá-lo-ia assim que solucionasse o furo no pneu e todas as outras coisas.
Como o assunto do pai, que decidira reformar-se e vender as suas ações a um desconhecido, sem lhe dizer uma única palavra. Como salvar os postos de trabalho dos colegas. Como querer regressar para junto da equipa, para a campanha de publicidade que retratava os anos sessenta.
– Importas-te? – perguntou, enquanto tentava contornar a moto. – Há quem trabalhe.
– É por isso que vais sair tão cedo do escritório?
– E desde quando é que o meu horário de trabalho é um assunto teu?
O desconhecido encolheu os ombros.
Magenta deu uma olhadela ao estacionamento. Onde estavam os guardas? Estivera a carregar o carro com trabalho para o fim de semana, embora não tencionasse explicar isso àquele tipo, que tinha ar de passar os fins de semana na cama. E não seria, precisamente, sozinho.
– Vais abandonar-me? – perguntou ele, quando tentou seguir o seu caminho.
– Estou a tentar afastar-me de ti – Magenta interrogou-se sobre o que faria no estacionamento da Steele Design. Seria um mensageiro? – Trazes uma encomenda?
O sorriso dele fez com que corasse. Parecia ter a mesma idade que ela, talvez um ou dois anos mais velho, mas nos olhos refletia-se uma experiência imensamente superior.
– Se não vieste entregar nada, informo que esta é propriedade privada.
Ele arqueou a sobrancelha.
Fantástico. Era evidente que estava impressionado com o facto de ela dominar a situação.
A confiança do motoqueiro começava a irritá-la.
Magenta afastou-se, mas ouviu aquela voz calorosa e sensual atrás dela.
– O que há de tão urgente, para que não possas ficar e conversar comigo uns minutos?
– Não é que seja um assunto teu – deteve-se e virou-se, – mas vou buscar a roupa do ginásio, antes de mudar o pneu furado do meu carro.
– Queres ajuda?
– Não.
Talvez devesse ter agradecido a oferta.
O desconhecido voltou a pôr o capacete e pôs a moto a trabalhar.
– Vais-te embora? – balbuciou, desejando que ficasse.
Porque estava a afugentar aquele homem, quando era o mais interessante que lhe acontecera, em muito tempo? Porque o seu bom senso a aconselhava a não prolongar o encontro. Magenta retomou o seu caminho. No entanto, em vez de se ir embora, ele acompanhou-a, mantendo a moto ao seu lado.
– Ainda não te foste embora?
– Estou à espera, para te ver vestida com a roupa do ginásio – e sorriu.
Magenta soprou, enquanto tentava analisar aquele tipo. Vestia-se de maneira excessivamente informal para um executivo e a voz era suave, gutural, com um sotaque que não conseguia decifrar.
– Se quiseres, posso levar-te.
«Aposto que podes», pensou. Um rosto e um corpo como aquele, poderiam levar qualquer mulher.
– És uma mulher muito tensa. Nunca relaxas?
Estava a brincar? Era incapaz de pensar em relaxar, com ele por perto.
– O meu carro está empanado. Que motivos teria para relaxar?
– Já te disse que adoraria levar-te.
– Nunca me deixo levar por um desconhecido – embora o achasse mais do que atraente.
– Uma decisão sábia – afirmou, com calma, sem parar de a seguir.
– Nunca te rendes?
– Nunca.
Magenta dirigiu-se para a entrada lateral, para os cacifos dos empregados, onde guardava a roupa do ginásio. Tinha vontade de fechar a porta na cara dele. Contudo, nesse instante, ele acelerou e foi-se embora.
Enquanto observava o relâmpago preto que se afastava, sentiu uma certa melancolia.
Acabara de estragar tudo, mas não fazia sentido lamentar essa oportunidade perdida.
Detetara algo especial naquele homem, uma certa ligação entre eles? Ou talvez fossem apenas os devaneios de uma mente cansada. Decididamente, seria a segunda hipótese.
Além disso, se quisesse, podia ter insistido em mudar o pneu.
O que acontecera ao cavalheirismo? Mulheres como ela, fora isso que acontecera. Mulheres que consideravam a igualdade um direito, que protestavam, se um homem as ajudasse.
Depois de vestir a roupa do ginásio, um casaco e um cachecol, voltou para o carro.
Não tinha um pneu sobressalente!
Incrédula, observou o espaço vazio e recordou vagamente o pai a dizer alguma coisa sobre um furo, há alguns meses. Tinham carros idênticos, algo que Magenta achara muito fofo, no momento. O pai devia ter dito ao mecânico para usar o pneu do carro da filha e depois esquecera-se de pedir para o substituírem.
Mas a culpa era dela, por não ter verificado.
A empresa desmoronava à sua volta e talvez não encontrasse outro trabalho até depois do Natal. E ali estava ela, a chorar por causa de um furo. Apoiando as costas no carro, fechou os olhos e esperou que as lágrimas cessassem. Por fim, depois de se convencer de que não servia de nada preocupar-se com algo que não tinha remédio, decidiu voltar para o escritório, para se aquecer um pouco e chamar um táxi. Também poderia ir de metro.
No escritório, encontrou o pai, disposto a ir-se embora, para assinar a venda das ações.
– Pensei que já tinhas ido embora – Clifford Steele parecia contrariado. – Não quero ninguém da família por aqui, até aquele homem se instalar e ter o dinheiro na minha conta. São as regras.
– E eu estava a obedecer. Mas descobri que o meu carro tem um pneu furado. E, adivinha? – acrescentou Magenta, secamente. – Não tenho o pneu sobressalente.
– Chama um táxi – aconselhou o pai, sem o menor vislumbre de remorsos. – Eu não posso ficar – afirmou. – Vou-me embora, para assinar os últimos papéis. Vai-te embora o quanto antes, para o caso de Quinn querer dar uma olhadela à sua última aquisição.
Magenta percebeu uma nota de ressentimento nas palavras do pai e beijou-o na face. Não devia ter sido fácil vender a empresa a um jovem com mais sucesso do que ele. Clifford Steele era um tirano e as suas extravagâncias tinham acabado com a empresa. Mas, era o seu pai e amava-o. E teria de solucionar aquela confusão, para tentar salvar o posto de trabalho dos colegas, no caso de o novo dono o permitir.
«Talvez Gray Quinn não deseje manter-me no meu cargo», compreendeu, angustiada. Graças à ideia antiquada do pai, de que os homens deviam gerir as empresas e que os tijolos davam segurança às mulheres, ela era a dona do edifício, mas não possuía uma única ação.
– Visto que continuas aqui, faz algo útil – pediu o pai. – Tenho a certeza de que os homens quererão beber uma chávena de café, antes de te ires embora. Tudo bem, és uma executiva – acrescentou, ao ver o ar de impaciência da filha. – Mas ninguém faz um café como...
– Uma mulher bem-educada – sugeriu ela, com descaramento.
– Ia dizer como tu. Trabalhas muito, Magenta. O stress não é bom para uma mulher da tua idade – observou, com o seu tato habitual. – Se não te cuidares, vais ficar com rugas.
– Sim, papá – o pai parecia recém-saído da campanha dos anos sessenta. – As coisas são assim. Tu és assim – acrescentou, com carinho.
– Vou dar-te um conselho, Magenta – o pai ainda não acabara. – Embora duvide que me oiças. Devias tornar-te invisível, até o novo dono se instalar. Quinn perderá o interesse depressa e deixará a empresa a cargo da velha guarda.
– Adeus, papá!
Perder o interesse? Isso não parecia próprio de Gray Quinn, a julgar pelo que lera sobre ele. A imprensa do ramo financeiro costumava descrevê-lo como sendo dinâmico, frio sob pressão, para além de desumano e duro. E era quase invisível. No caso de existir uma fotografia daquele homem, Gray Quinn conseguira mantê-la fora do alcance do público. Magenta temia pelos colegas. Se tencionasse começar do zero, poderia despedir todos. E se esmagasse a faísca criativa dos empregados, a empresa iria à falência, na mesma.
Se tivesse de hipotecar a casa, para criar outra empresa e fazer com que todos conservassem os seus postos de trabalho, fá-lo-ia. Olhando pela janela, deu por si a pensar no motoqueiro.
Magenta soprou. Tinha jeito para os negócios mas, no que dizia respeito aos homens, era um verdadeiro fracasso. Os temas de conversa não eram os mais adequados, nem o seu aspeto. E o tipo da moto, sem dúvida, devia ter notado que há séculos que não saía com um homem. Parecia ser perito em mulheres. Sorrindo, aproximou-se da secretária, para chamar um táxi.
Não haveria táxis disponíveis durante, pelo menos, uma hora. A neve e as compras natalícias eram as culpadas da escassez de veículos.
Só lhe restava o metro.
Depois de ligar para a oficina, para que alguém fosse buscar o seu carro, fez café para a sua equipa. Faltava muito pouco tempo para as férias e queria que todos se sentissem tranquilos sobre o lançamento da campanha publicitária do Ano Novo, antes de se ir embora.
Tinha de ser positiva, pelo bem da equipa. E não podia deixá-los perceber como estava preocupada. Ainda não chegara o fim da Steele Design, era apenas um novo começo.
– Por enquanto, vou trabalhar em minha casa.
– Não podes ir embora na semana antes do Natal! – protestou Tess, o braço direito de Magenta.
– Estarei sempre em contacto com vocês.
– Não será o mesmo – insistiu outra mulher. – E, a festa de Natal?
– Há coisas mais importantes, como conservar os nossos postos de trabalho – replicou Magenta. – Além disso, porque não a organizas?
– Porque tu tens a magia – Tess continuou com os seus protestos.
– Estaremos em contacto, diariamente. Só não estarei no meu escritório, onde talvez represente uma ameaça para Quinn – acrescentou, com uma certa malícia. – Sei que sou assustadora.
Todos riram e ela decidiu levar a conversa para o campo dos negócios.
– São uma equipa fantástica e é essencial que Quinn veja o melhor de vocês. De modo que quero que se esqueçam de mim e se concentrem, para causarem uma boa impressão.
– Esquecer? – perguntou Tess. – Como vamos fazê-lo, se não nos deste uma ideia para a festa?
– Alegra-me saber que posso ser útil – troçou Magenta, secamente. – Que seja algo simples. Que tal, algo relacionado com os anos sessenta?
– Brilhante – assentiu Tess. – Ficarás fantástica com um vestido de papel.
– Eh... Eu não irei à festa, este ano.
– Que tolice! O que é uma festa, sem ti?
– Um evento bastante mais divertido, suponho – Magenta recordou a explosão do ano anterior, quando achara que os homens estavam a começar a abusar.
– Dou-te vinte e quatro horas para voltares – vaticinou Tess. – Estão a acontecer demasiadas coisas, para te manteres afastada. Além disso – murmurou, enquanto levava a chefe para um canto, – há algo mais. Esta manhã, notei algo diferente em ti.
– Não sei a que te referes.
– Claro! – exclamou. – Ficaste à defesa. Conheceste alguém?
– Não sejas ridícula! Só estou preocupada com o futuro da empresa.
– Não – Tess abanou a cabeça. – Há algo mais. Algo que não estás a contar-me.
«Talvez as faces coradas me tenham denunciado», pensou Magenta.
– Não tens de te envergonhar, se conheceste alguém de quem gostas – insistiu Tess.
– Não conheci ninguém! – protestou, talvez com ardor excessivo.