Читать книгу Amante de sonho - Algo mais do que seu chefe - Susan Stephens - Страница 8
Capítulo 4
ОглавлениеPorque é que a sua casa parecia tão silenciosa e vazia, quando nunca se sentira assim?
«É por causa do motoqueiro», decidiu Magenta. Com a sua personalidade envolvente, nem sequer precisava de falar para dominar a situação. Bastava-lhe estar presente.
Depois de trocar de roupa, foi buscar o correio e dirigiu-se para a cozinha, mas o telefone parou-a.
– Magenta Steele? – a voz era forte, grave e muito masculina. – Sou Gray Quinn.
– Gray... – o coração de Magenta acelerou.
– A maioria das pessoas chama-me Quinn – na voz, percebia-se um pequeno sorriso. – Estou no escritório, a tentar tratar de algumas coisas, e gostaria de falar contigo, sobre a tua continuidade na empresa. Amanhã de manhã, bem cedo.
– Mas, o meu pai disse...
– O teu pai já não gere a Steele Design. Agora, sou eu o patrão. Pode ser às nove?
– Sim, claro – um calafrio percorreu a coluna vertebral de Magenta. Acabara de ter uma demonstração do Quinn guerreiro.
– Até amanhã, Magenta. Às nove em ponto.
Não se tratava de um convite, era uma ordem.
Precisava de beber um café. A tentação de regressar ao escritório, para verificar o efeito que Quinn estava a exercer sobre o resto da equipa, era quase irresistível. Preocupava-se com os colegas.
Além disso, tinha trabalho, que seria melhor fazer no escritório. Esperava que Tess lhe ligasse, assim que tivesse oportunidade.
Tomada a decisão, a excitação apropriou-se dela. Com Quinn, seria melhor não andar com subtilezas. Se lhe desse um tempo, tal como o pai sugerira, talvez fosse demasiado tarde para salvar os postos de trabalho dos colegas.
Mesmo que Tess ligasse, assim que Quinn saísse do escritório, continuava a haver a possibilidade de regressar e a surpreender. A ideia de o conhecer excitava-a, mas também fazia aflorar a sua falta de confiança, no que dizia respeito aos homens. «Vou precisar de muito mais do que refrescar-me, antes de enfrentar Quinn», pensou, enquanto subia as escadas para ir tomar banho.
Aconselhada pelos espelhos horrivelmente sinceros da casa de banho, depressa lhe pareceu evidente que empreendera uma corrida contra relógio. Dispunha de pouco tempo para fazer um bom número de reparações.
Reuniu os produtos dos anos sessenta, que adquirira para estimular a sua imaginação para a campanha, e começou a rebuscar entre eles. O que era aquilo? Uma miríade de brilhos, com uma fragrância subtil.
Seria uma poção mágica? Seria bom ter uma...
No duche, também havia uma boa coleção de produtos retro. Certamente, estava infetada pelo vírus dos anos sessenta. Magenta sorriu, enquanto se ensaboava, pensando em Quinn. Que aspeto teria?
Era o que faltava à sua imaginação, para enlouquecer. A única coisa que poderia melhorar aquele duche seria partilhá-lo com Quinn, embora nunca tencionasse fazer tal coisa. Não no mundo real.
Olhou para o quarto e suspirou, consciente de como estava cansada. O que mais queria era meter-se na cama e sonhar com Quinn, dar um rosto à foto da revista.
Levantando o rosto para o jorro de água, soube que o caminho a seguir devia ser o do bom trabalho.
Embrulhada num par de toalhas, regressou ao quarto, onde se viu assaltada por uma inspiração repentina. Porque não haveria de se vestir segundo a moda dos anos sessenta? Várias colegas tinham adotado esse estilo.
Enquanto se secava, distraidamente, rebuscou no armário. Tal como todos os outros da equipa criativa, percorrera as lojas vintage à procura de roupa dos anos sessenta e encontrara um vestido de lã, creme, delicioso, muito justo.
Quando Magenta falara da importante campanha publicitária que estavam a preparar, os comerciantes tinham-se apressado a enviar amostras dos seus produtos, de modo que reunira imensos acessórios, estilo retro. Por sorte, nos anos sessenta, havia mais do que minissaias e calças justas. Havia roupa hippie, confortável e larga, e outro tipo de roupa, mais elegante. E era aí que se sentia mais confortável, embora a roupa interior que correspondia ao estilo sempre a fizesse dar uma gargalhada. Na etiqueta de um conjunto de cuecas e sutiã, indicava que era destinado à menina que se sentia uma rapariga grande.
«Muito bem, não sou uma menina. Mas, sinto-me uma rapariga grande», decidiu, ao imaginar Quinn, enquanto arrancava a etiqueta.
Era quase impossível não pensar no novo dono da empresa. Tirando a toalha, observou o seu corpo de vinte e oito anos com espírito crítico. Sentada na cama, à frente do espelho, ergueu-se imediatamente. O novo patrão gostava de mulheres com barriguinha ou de mais jovens e magras? De todos os modos, com o pouco tempo de que dispunha, não podia fazer grande coisa. Além disso, porque haveria de se preocupar com o seu corpo nu, se não tinha nenhuma possibilidade de o mostrar?
Pegou noutro conjunto de roupa interior que, segundo a etiqueta, era destinada «à ação». No entanto, não previa ter nada disso. O seu olhar pousou noutra peça, algo chamado faixa adelgaçante.
Adelgaçante de quê? Serviria para esmagar a barriga?
Duvidava muito.
Certamente, aquilo de que não precisava era do soutien Fibber, que prometia conferir um aspeto mais velho. Não deixava de ser curiosa a pouca importância que a mulher do século XXI dava aos seios. Os seios nunca eram importantes no escritório, como se o facto de possuir glândulas mamárias, automaticamente, a fizesse partilhar o mesmo coeficiente de inteligência de uma vaca. Talvez fosse por isso que nunca usava roupa justa no trabalho. No entanto, duvidava que um empresário como Quinn reparasse nessas coisas.
Procurou uns colãs, mas acabou por se decidir por umas meias e usar cinto de ligas. Segundo uma amiga, atriz, o cinto de ligas era o mais importante, assim como os sapatos.
Contudo, por muito que a sua vestimenta fosse dos anos sessenta, por dentro, ia continuar a ser uma mulher moderna. Gray Quinn já dera uma demonstração do seu estilo, o do perfeito macho alfa, e não ia fazê-lo acreditar que se iria submeter ao domínio masculino. Embora tencionasse ceder ao capricho de um daqueles sutiãs com forma cónica, sem esquecer a faixa adelgaçante.
Além disso, as meias e o cinto de ligas eram peças muito divertidas.
Depois de se vestir, calçou sapatos de salto alto e, imediatamente, sentiu-se outra. Também caminhava de maneira diferente. Tentou dar alguns passos pelo quarto e deu por si a bambolear-se, como uma atriz dos anos sessenta.
A maquilhagem era ainda mais divertida. Base muito clara e olhos fumados, bem delineados, para que parecessem ainda maiores e, por último, batom cor-de-rosa.
O que pensaria Quinn, ao vê-la?
Não esperava vir a descobrir. Aquilo era apenas uma fantasia. Cerrando os dentes, aplicou uma segunda camada de batom.
Nada mal.
Estava pronta.
«Pronta para quase qualquer coisa», decidiu, enquanto dava uma última olhadela ao espelho.
Esperou pela chamada de Tess e, assim que a recebeu, chamou um táxi e foi para o escritório. Tal como a amiga prometera, todas as luzes estavam apagadas e não havia sinal de Quinn. Sentiu uma pontada de desilusão. Arranjara-se, para nada.
«Pelo menos, assim, posso concentrar-me no trabalho», pensou, com determinação. Era uma grande oportunidade para dar os últimos retoques na campanha. Depois de espalhar os documentos em cima da mesa do seu gabinete, trancou a porta.
Estava a tentar escrever uma frase para umas extensões de cabelo, quando teve de parar. Mal conseguia manter os olhos abertos.
Alguns dos objetos da campanha eram curiosos, mas aquela madeixa de cabelo sintético era francamente feia. Nenhuma mulher que se respeitasse usaria algo parecido. Pesava uma tonelada e era necessário uma caixa inteira de ganchos para o segurar.
«No entanto, tratava-se de um produto típico dos anos sessenta», recordou Magenta, enquanto observava a extensão, em busca de inspiração. Até esse momento, sentira-se muito entusiasta, vendo unicamente o lado bom e divertido daquela época. Mas, para ser sincera, havia muitas coisas que a irritavam.
– Magenta, Magenta! Acorda!
– O que aconteceu? – assustada, Magenta olhou para uma rapariga, que a sacudia pelo braço. Uma rapariga que lhe era totalmente desconhecida. Tinha a sensação de estar a sofrer a pior das ressacas, sem ter bebido uma gota de álcool. – Quanto tempo estive a dormir?
– Magenta, tens de sair daqui.
– Porquê? Houve um incêndio?
– Pior... Quinn – explicou a rapariga, em pânico. – Não deve ver-te aqui.
– Porquê? – perplexa, olhou à sua volta. O gabinete parecia ter sido despejado, enquanto ela dormia. Mas não faltava apenas as flores, a máquina de café, as garrafas de água ou as fotografias da família. – Diz-me! Onde está o meu portátil? Entraram para roubar?
– Magenta, não sei de que estás a falar, só sei que temos de sair daqui.
– Está bem, está bem! – exclamou, enquanto a rapariga a puxava pelo braço e a arrastava para a porta. – Tenho a certeza de que tranquei a porta, ontem à noite.
– Abri-a com a minha chave – e abanou uma chave, à frente dos seus olhos.
– Porquê tanta pressa? Preciso do meu telemóvel. E, onde está a minha mala, a minha pasta?
– Chega de perguntas! – gritou a sua nova amiga. – Quinn vai chegar a qualquer momento.
Na mente de Magenta, formavam-se pensamentos e primeiras impressões. Aquela rapariga era nova. Certamente, seria alguém que Quinn levara com ele. Era amável e parecia conhecê-la, apesar de ter a certeza de que nunca a tinha visto.
– Quinn recebeu a minha lista?
– Que lista? Não me deu nenhuma lista.
– Pois não, é verdade. Dei-a a Tess.
– Tess? – a rapariga não conhecia Tess.
– E tu és...?
– Nancy – informou a rapariga, com ar de preocupação. – Magenta, tens a certeza de que estás bem?
– Sim, estou – tudo aquilo era muito estranho. Se não se sentisse tão enjoada, o seu cérebro teria reagido com mais prontidão. – Deixei uma lista das tarefas mais urgentes.
– Se me tivesses dado uma lista como essa – Nancy soprou, – tê-la-ia extraviado, de propósito.
– Quinn incomodou-te? – de repente, esqueceu a sua confusão. Perseguição era algo que não estava disposta a tolerar. A sua preocupação aumentou, quando a rapariga se recusou a responder. – Ninguém te vai incomodar, enquanto eu estiver aqui. Sobretudo Quinn.
– Não estou a brincar, Magenta – Nancy voltou a puxá-la pelo braço. – Temos de ir.
– Mas, para onde queres que eu vá? – estava no seu gabinete.
– Trabalhas no serviço de mecanografia, lembras-te? – informou Nancy.
– Serviço de mecanografia? – Magenta riu-se. – Trata-se de uma brincadeira de Quinn, para que todos nos possamos envolver no ambiente dos anos sessenta, para a campanha?
Nancy olhou para ela, perplexa.
– Para ser mais precisa, já trabalhavas no serviço de mecanografia – esclareceu, enquanto empurrava Magenta para fora do gabinete. – O tipo que geria isto, antes de Quinn chegar dos Estados Unidos, levou o diretor do escritório. Foi por isso que Quinn te promoveu.
– Porque é que Quinn não me enviou uma mensagem? E, o que é isso? – perguntou, enquanto Nancy a empurrava para uma mesinha horrível, situada junto da porta do gabinete, de onde pendia um cartaz com o nome de Gray Quinn.
– Agora, esta é a tua mesa, Magenta – indicou Nancy. – É um grande passo, desde o serviço de mecanografia, não achas?
– Queres saber o que acho? Não, não me parece ser um grande passo – Magenta abanou a cabeça. – Não sei o que está a acontecer, mas esta não é a minha mesa e Quinn não pode tirar-me o meu gabinete.
– Magenta, tu trabalhavas no serviço de mecanografia, nunca tiveste um gabinete – insistiu Nancy, com um ar de preocupação. – Não te lembras de nada?
Magenta esfregou os olhos, como se com aquele gesto fizesse com que tudo voltasse a ser como antes. Mas, para piorar tudo ainda mais, diante dela havia um monte de pessoas desconhecidas, a observá-la, como se estivesse louca.
O que estava a acontecer? Olhou à sua volta, cada vez mais furiosa. Quinn devia ser um machista incorrigível, pois todos os gabinetes privados estavam ocupados por homens, enquanto as mulheres tinham sido relegadas para postos antiquados, quer fossem datilógrafas, quer fosse no serviço de mecanografia, onde estavam sentadas em filas ou em mesas, como a que lhe tinham atribuído. Todas estavam atentas aos desejos do seu amo. Recordou aquilo que o pai lhe contara sobre as condições de trabalho das mulheres, nos anos sessenta.
– Porque é que todas as raparigas estão a escrever à máquina? – sussurrou, muito agitada.
– Porque é esse o seu trabalho! – Nancy franziu o sobrolho.
– Mas, porque não estão a trabalhar na campanha?
– Que campanha? – replicou, afastando-se para um adolescente passar.
– Magenta, estás fantástica!
– A sério? – virou-se, enquanto o jovem que não conhecia olhava para ela dos pés à cabeça. – Obrigada, eh...
– Jackson – informou Nancy, tendo percebido que Magenta precisava de ajuda.
– Jackson – Magenta arqueou a sobrancelha. – Para de olhar para mim e procura uma namorada.
– És uma bomba, miúda – Jackson soltou uma gargalhada.
Quinn mudara todo o pessoal? Certamente, estava no seu direito, pois era o patrão. Mas, o que acontecera aos seus amigos? O que acontecera ao escritório?
A sua mente estava cheia de perguntas, mas nenhuma resposta fazia sentido.