Читать книгу Amante de sonho - Algo mais do que seu chefe - Susan Stephens - Страница 9
Capítulo 5
Оглавление– Escuta, Magenta, não quero incomodar-te – pelo tom de voz de Nancy, parecia que queria precisamente isso, incomodá-la, – mas Quinn volta em breve.
– E então? – perguntou, com impaciência. – Que lata... – compreendia que Quinn tivesse querido dar o toque dos anos sessenta ao escritório, mas fora demasiado longe. – Nancy, o que está a acontecer aqui?
– O mesmo de sempre – e olhou para ela, perplexa.
– O mesmo de sempre – repetiu. – E, como é que fazer desaparecer os computadores é o mesmo de sempre?
– Os quê?
– Entendo, a julgar pelo que vejo, Quinn envolveu-os neste joguinho. Entendo que não quisesses perder o teu emprego, mas vai custar uma fortuna devolver tudo isto ao seu estado normal.
Quinn só teria de mudar o cenário, mas havia mais. Sentia-se um ambiente diferente e, certamente, não era o mais estimulante para trabalhar. Para além de inóspito, era muito aborrecido. E as janelas eram simples! Quinn enlouquecera? Para além dos custos para mudar todas, o que acontecia à condensação e ao frio? Se as pessoas não estivessem confortáveis, a produtividade baixava. Quinn não sabia isso?
Até o cheiro mudara... Cheirava a tabaco?
– Estás bem, Magenta? – Nancy tentou sentá-la numa cadeira.
– Estou bem – embora, na verdade, estivesse tudo menos bem.
O que acontecera? Quinn ordenara que transformassem tudo num cenário dos anos sessenta? Mas, não era apenas o aspeto. As mudanças eram profundas, muito perfeitas e convincentes.
Magenta sentiu a boca seca. Tudo aquilo era real. Real para Nancy e para todas as pessoas que estavam ali. A única que se sentia deslocada era ela. Era como se tivesse caído na toca do coelho, como Alice, e acordado nos anos sessenta. A impressão de estar presa num sonho só era superada pelo terror que sentia perante a ideia de ir conhecer Quinn. A julgar pelo pouco que soubera dele, encaixava perfeitamente no machismo dos anos sessenta.
O coração estava acelerado, mas teria de enfrentar a situação.
Para sua tranquilidade, verificou que a sua roupa e aspeto encaixavam perfeitamente nos anos sessenta. O vestido de lã destacava a sua figura, ao ponto de os seios despontarem descaradamente. Deveria ter-se vestido de uma maneira mais recatada mas, no seu mundo, fizera-a sentir sensual. E, depois do encontro com o motoqueiro, sentira a necessidade de provar a si mesma que era capaz de se sentir assim. Contudo, num escritório dos anos sessenta, atrair a atenção ia trazer-lhe mais do que um problema.
A única coisa positiva era que passara tanto tempo a investigar aquela época que, mesmo presa naquele sonho surreal, conseguia sentir-se quase integrada.
Teria de refrescar todos os seus conhecimentos e antecipar-se, para evitar mais de um problema. E a sua primeira atitude seria abrir todas as janelas e livrar o escritório do fumo.
Como seria de esperar, todos se queixaram do frio.
– Aqui dentro, não é permitido fumar – insistiu Magenta. – É contra a lei.
– Desde quando? – perguntou um dos empregados mais jovens, enquanto lhe rodeava a cintura com o braço, obrigando-a a inalar o fumo do cigarro.
– E isto também não é permitido – informou, enquanto lhe afastava a mão do traseiro.
– Oh! – o rapaz virou-se para os colegas, com um ar trocista. – O que aconteceu esta manhã, menina Steele?
– Não tens ninguém para te aquecer a cama? – perguntou outro, entre as gargalhadas generalizadas.
– Todos sabemos o que se passa, rapariga de gelo.
– Já chega! – exclamou Magenta, furiosa. – Não estou de bom humor.
– A julgar pelo que se vê, nunca estás – sussurrou outro empregado.
E como se se tratasse da altura de entrar o ator principal, as portas do escritório abriram-se e todas as cabeças se viraram. Algumas mulheres até se levantaram das cadeiras, como se Sua Majestade estivesse prestes a fazer a sua entrada.
– Mas, o que...? – dizer que Magenta estava estupefacta seria dizer muito pouco.
– Quinn – anunciou Nancy, muito tensa, antes de desaparecer.
Magenta virou-se para dizer alguma coisa, mas todos tinham regressado aos seus postos de trabalho, depois da chegada do patrão. Contudo, Quinn não se limitou a chegar. Atravessou o escritório como um conquistador, sob os olhares das mulheres, quando, na sua opinião, o que aquele homem precisava era alguém que o enfrentasse. Fosse qual fosse o sonho estranho em que tinham ficado presos, aquilo estava a fugir do seu controlo.
Mas, aquele homem era realmente Quinn? Magenta estava confusa. O Quinn dos anos sessenta não era outro senão o bonito motoqueiro, usando um chapéu e casaco escuro que, em vez de lhe dar um aspeto ridículo, o fazia parecer o dono do universo a nível sexual.
– Magenta – cumprimentou, secamente, enquanto tirava o casaco e lho entregava, juntamente com o chapéu.
Conhecia-a?
– Assim, estás melhor – Quinn olhou para ela de cima a baixo. – Gosto de ver uma mulher com roupa que lhe dê forma.
«Como?», pensou.
– Continua assim – disse, num tom de aprovação. – E não te esqueças de que espero que os meus empregados mantenham sempre o mesmo nível.
– Sim, senhor – respondeu. Não podia fazer outra coisa. Para além de machista, Quinn era o homem mais atraente que já vira.
– Vou precisar de ti mais tarde, para a reunião – informou, como se tivessem passado a vida a trabalhar juntos. Com grande preocupação, Magenta compreendeu que não havia um átomo de igualdade entre eles. – De modo que, nada de intrigas com as outras raparigas, na cozinha, quando devias estar a fazer um café – avisou Quinn.
«Bastará uma dose extra de laxante, no café?», questionou-se Magenta.
– E nem pensem em fazer uma pausa para almoçar. Têm muito trabalho para fazer e deve estar pronto quando a minha próxima reunião acabar. Entendido?
«Na verdade, não. Estou bastante confusa». Magenta pensava que tinha uma reunião com Quinn, para falar da sua continuidade na empresa, embora talvez esse tipo de coisas ainda não se fizesse, nos anos sessenta. Decidiu tentar descobrir algo mais.
– Vais ter outra reunião?
– De que estás a falar? – perguntou Quinn, com impaciência.
– Outra reunião, antes da nossa.
– À frente dos outros não, Magenta – Quinn segurou-a firmemente pelos ombros e empurrou-a para um canto afastado. – Talvez mais tarde... Se tiver tempo.
Uma pergunta formou-se nos seus lábios, mas estava tão perplexa com o comportamento sexual descarado do patrão que a sua voz se recusou a sair e quando falou, finalmente, foi para perguntar o que devia fazer com o chapéu e o casaco.
– Pendurá-los, como é óbvio – esclareceu. – E traz muito café, forte e quente. Ah, quando fores para a reunião, não te esqueças do teu caderno de estenografia.
– O meu...?
– Agora, és a diretora de escritório, Magenta. É uma boa promoção. Terás de te aplicar, se quiseres manter o cargo.
O que gostaria era de atirar um tijolo à cabeça daquele homem.
No entanto, recordou que o edifício era propriedade de outra pessoa. A Steele Design já se chamava assim quando o pai a comprara. Não tinha nenhuma participação na empresa.
Quinn entrou naquele que fora o gabinete de Magenta, mas voltou a sair, imediatamente.
– Magenta? No meu gabinete. Neste momento.
Poderiam ouvir o zumbido de uma mosca. Magenta achou que todos os empregados presumiam que ia ser despedida e contra-atacou com o seu melhor sorriso.
– Claro – acedeu, num tom respeitoso, imprescindível, até saber o terreno que pisava. Entrou no gabinete e fechou a porta atrás dela.
– Deixemos uma coisa bem clara – começou por dizer o patrão, enquanto lhe devolvia o gancho que deixara na secretária. – Na minha ausência, não usas o meu gabinete para te arranjares. Nem sequer entras aqui sem a minha autorização. E, se vier trabalhar mais cedo, tu também vens.
– E como...?
– Como saberás? – interrompeu, com os olhos semicerrados. – Ia falar nisso. Tens o teu caderno? Não? Tens de o ter sempre contigo. Deves fazer uma lista das tuas obrigações. Quando te avisar de que vou estar aqui às seis da manhã, espero que anotes isso. Na verdade, porque chegaste tarde?
Magenta abriu a boca, sem saber qual das milhares de respostas possíveis que tinha na ponta da língua seria a mais conveniente.
– Peço desculpa – seria o melhor, naquele momento. – Pensei que gostarias de desfrutar de alguns dias para te ambientares.
– Ambientar? Vim dos Estados Unidos da América, não da lua. Preciso que sejas pontual, Magenta – continuou. – És a minha secretária, para além de diretora do escritório. Se for demasiado para ti, diz.
– Não, quer dizer, sim senhor – Magenta quase fez uma saudação militar.
Tudo aquilo era confuso e irritante. Mas, também impressionante. Quinn era impressionante, com o seu cabelo preto e aqueles olhos com uma expressão feroz, já para não mencionar o corpo, coberto por um fato feito à medida. Encontrara, finalmente, um bom partido? Não se importaria de acrescentar o nome do patrão a essa lista de obrigações.
– Por favor, aceita as minhas desculpas – insistiu. Desejava conservar o emprego. – Esqueci-me de que tinhas intenção de madrugar. Não voltarei a esquecer a minha lista de obrigações.
– É bom que assim seja. Não esqueças que, embora seja o teu primeiro dia, neste cargo, não irás desfrutar de nenhum privilégio. Espero que, no fim do dia, já saibas o que fazer. E não terás tempo livre, antes das férias do Natal.
Magenta não teve outro remédio senão engolir o orgulho. Ultimamente, fazia-o com frequência, mas seria só até se situar naquela toca de coelho complicada ou, melhor ainda, até acordar.
– Vou buscar o café.
– Sim, vai – concluiu Quinn. – E leva esse «rato morto» contigo.
– Sim, claro – foi um alívio desfazer-se da extensão de cabelo horrível.
Os homens sentaram-se à volta da mesa de reuniões, enquanto Magenta servia um café a Quinn. A sua equipa, quase inteiramente feminina, poderia dar mil voltas àqueles tipos. O que é que as mulheres faziam lá fora, a escrever à máquina? Sem dúvida, mais de uma mulher possuía um grande talento.
– Devia ter pedido café para todos – disse Quinn. – Magenta? – acrescentou, bruscamente, olhando para ela com impaciência.
Magenta decidiu não responder à frente de todos. Talvez Quinn tivesse esquecido todo o protocolo, ao dirigir-se a ela daquela maneira tão indelicada. Mas, ela não.
– Não há problema – esboçando um sorriso doce, saiu da sala de reuniões, surpreendida com os olhares de admiração que lhe lançavam.
No entanto, preferia trocar aqueles olhares pela aceitação do seu sexo, a que estava habituada. Os olhares dos homens, que lhe queimavam as costas, faziam-na sentir realmente incomodada, embora se surpreendesse quando um dos «atrasados» lhe segurou a porta. A sua sensibilidade também estava a mudar?
Não. Na sala de reuniões, surgiram gargalhadas. Depois, uma ordem brusca de Quinn foi seguida do silêncio mais profundo. Magenta teve a impressão de que as gargalhadas tinham sido dirigidas a ela.
Preparou café e levou-o aos homens, embora não tivesse intenção de os servir. Se queriam beber café, podiam servir-se sozinhos. Saiu da sala e regressou um pouco depois com o seu caderno, tal como lhe tinham ordenado. Não tinha a menor noção de estenografia, mas escrevia depressa.
E teve de o fazer. Quinn tinha muitas ideias, a maioria das quais eram do agrado de Magenta, mas não teria sido mau se tivesse consultado a sua equipa, em vez de se limitar a dar instruções. Ignorara-a por completo. Poderia ter sido invisível.
– Posso perguntar uma coisa? – disse Magenta, de repente.
– Se precisas de sair da sala, fá-lo – declarou, enquanto o resto dos homens sorria, dissimuladamente.
– Não tenho de me ir embora – replicou, com as faces coradas.
– Então, fica em silêncio, por favor! – ordenou Quinn, revelando impaciência. – Não vês que estamos numa reunião importante?
Uma reunião em que, claramente, ela não iria participar.
O que podia fazer? Poderia discutir, mas seria algo contraproducente. Queria que Quinn a ouvisse, a levasse a sério. Teria de agir com subtileza, pelo bem da equipa que já decidira formar, pelo menos, até compreender o funcionamento daquele mundo estranho.
No entanto, à medida que a reunião progredia, a raiva de Magenta aumentava. Tal como deduzira, muitos homens não valiam grande coisa. Ao passo que as mulheres, tinha a certeza, estavam a perder tempo, a escrever à máquina. Estava tudo ao contrário. Frustrada, suspirou. Naquele momento, sentia-se impotente.
– Magenta?
Deu um salto.
– Se te custa muito prestar atenção, posso encontrar alguém para te substituir...
Quinn não brincava. Estava prestes a perder o seu emprego. Talvez aquele fosse um mundo de loucos mas, naquele momento, era a única coisa que tinha.