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RISTORANTE PIPERNO, ROMA

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O maître insistiu em trazer-lhes uma garrafa de vinho, oferta da casa. Era especial, prometeu, um branco excelente de um pequeno produtor de Abruzzo. Tinha a certeza de que Sua Excelência o consideraria mais do que satisfatório. Donati, com considerável cerimónia, declarou que era divino. Depois, quando ficaram novamente sozinhos, descreveu a Gabriel as últimas horas do pontificado do papa Paulo VII. O Santo Padre e o seu secretário pessoal tinham partilhado uma refeição (uma última ceia, disse Donati gravemente) na sala de jantar do apartamento papal. Donati ingerira apenas um pouco de consomé. Depois, os dois homens tinham ido para o escritório, onde, a pedido do Santo Padre, Donati abrira as cortinas e as persianas da janela com vista para a Praça de São Pedro. Seria o penúltimo serviço que realizaria para o seu mestre, pelo menos em vida de Sua Santidade.

— E o último?

— Preparei a dose noturna de medicamentos do Santo Padre.

— O que é que ele tomava?

Donati recitou os nomes de três fármacos, todos prescritos para o tratamento da insuficiência cardíaca.

— Conseguiram escondê-lo bastante bem — disse Gabriel

— Por aqui somos muito bons nisso.

— Creio recordar um internamento breve na Clínica Gemelli, há alguns meses, devido a uma crise de bronquite aguda.

— Foi um ataque cardíaco. O segundo.

— Quem é que sabia?

— O dottore Gallo, claro. E o cardeal Gaubert, o secretário de Estado.

— Porquê tanto secretismo?

— Porque, se o resto da Cúria tivesse sabido do declínio físico do Lucchesi, na prática, o seu papado teria terminado. Ele tinha muito trabalho para fazer no tempo que lhe restava.

— Que tipo de trabalho?

— Estava a ponderar convocar um terceiro concílio do Vaticano para discutir as inúmeras questões profundas que a Igreja enfrenta. A ala conservadora só agora está a começar a aceitar o Vaticano II, que já foi há mais de meio século. Um terceiro concílio teria sido, no mínimo, fraturante.

— O que é que aconteceu depois de teres dado os medicamentos ao Lucchesi?

— Dirigi-me ao andar de baixo, onde o meu carro e o meu motorista estavam à minha espera. Eram nove horas, mais minuto menos minuto.

— Para onde foste?

Donati esticou o braço para agarrar no seu copo de vinho.

— Devias mesmo provar um bocadinho disto, sabias? É bastante bom.

A chegada dos antipasti concedeu a Donati uma segunda trégua. Enquanto tirava a primeira folha da alcachofra frita à romana, perguntou, com despreocupação forçada:

— Lembras-te da Veronica Marchese, não lembras?

— Luigi…

— O que foi?

— Pai, perdoa-me, porque pequei.

— Não é isso.

— Não?

A doutora Veronica Marchese era diretora do Museo Nazionale Etrusco e a principal autoridade italiana sobre a civilização e antiguidades etruscas. Durante os anos oitenta, enquanto trabalhava numa escavação arqueológica perto da povoação úmbrica de Monte Cucco, apaixonara-se por um padre caído em desgraça, um jesuíta, fervoroso defensor da teologia da libertação, que perdera a fé enquanto trabalhava como missionário na província de Mozarán, em El Salvador. O caso amoroso terminara abruptamente com o regresso do padre caído em desgraça à Igreja, para ser secretário pessoal do Patriarca de Veneza. Arrasada, Veronica casara com Carlo Marchese, um abastado empresário romano, proveniente de uma família nobre que mantinha ligações estreitas com o Vaticano. Marchese morrera após uma queda de uma galeria panorâmica no topo da cúpula da Basílica de São Pedro. Gabriel estava junto de Carlo quando este caíra sobre a barreira de proteção. Sessenta metros mais abaixo, Donati rezara sobre o seu corpo despedaçado.

— Há quanto tempo é que isso se passa? — perguntou Gabriel.

— Há uma música do Gershwin que se chama assim. Sempre adorei essa canção — respondeu Donati, de forma provocadora.

— Responde à pergunta.

— Não se passa nada. Mas janto com ela regularmente há cerca de um ano.

— Há cerca?

— Talvez dois anos seja mais correto.

— Calculo que não jantem em público.

— Não — respondeu Donati. — Só na casa da Veronica.

Gabriel e Chiara tinham estado lá uma vez, numa festa. Era um palazzo repleto de arte e antiguidades, próximo da Villa Borghese.

— Com que frequência? — perguntou ele.

— Salvo quando há uma emergência no trabalho, à quinta à noite.

— A primeira regra do comportamento ilícito é evitar um padrão.

— Não há nada de ilícito no facto de eu e a Veronica jantarmos juntos. A disciplina do celibato não proíbe todos os contactos com mulheres. Simplesmente, não posso casar com ela nem…

— Podes estar apaixonado por ela?

— Em rigor, sim.

Gabriel fitou Donati com reprovação.

— Porque é que escolherias, voluntariamente, estar tão próximo da tentação?

— A Veronica diz que o faço pela mesma razão que escalava montanhas, para ver se consigo manter o equilíbrio. Para ver se Deus irá estender-me a mão e apanhar-me se cair.

— Suponho que ela seja discreta.

— Alguma vez conheceste alguém mais discreto do que a Veronica Marchese?

— E os teus colegas do Vaticano? — perguntou Gabriel. — Alguém sabia?

— É um lugar pequeno, cheio de homens sexualmente reprimidos que adoram partilhar um bom mexerico.

— E é por isso que te parece suspeito que um homem com problemas cardíacos tenha morrido na única noite da semana em que não estavas no Palácio Apostólico.

Donati não disse nada.

— Certamente, há mais do que isso.

— Sim — disse Donati, enquanto tirava outra folha de alcachofra. — Muito mais.

A Ordem

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