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CAFFÈ GRECO, ROMA

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— O que é que achas? — perguntou Chiara.

— Acho que, definitivamente, podia habituar-me a viver aqui outra vez.

Estavam sentados na sala da frente do Caffè Greco. Debaixo da sua pequena mesa redonda, havia vários sacos de compras lustrosos, o saldo de um passeio dispendioso de final de tarde pela Via Condotti. Tinham viajado de Veneza para Roma sem uma muda de roupa. Precisavam ambos de algo apropriado para usar ao jantar, no palazzo de Veronica Marchese.

— Estava a falar de…

Gabriel interrompeu-a docemente.

— Eu sei de que é que estavas a falar.

— E então?

— Pode ser tudo explicado com bastante facilidade.

Chiara estava claramente cética.

— Vamos começar pelo telefonema.

— Vamos.

— Porque é que o Albanese esperou tanto tempo para contactar o Donati?

— Porque a morte do Santo Padre era o momento do Albanese na luz da ribalta e não queria que o Donati interferisse ou questionasse as suas decisões.

— O seu ego inchado levou a melhor?

— Quase toda a gente que está numa posição de poder sofre desse problema.

— Toda a gente, menos tu, evidentemente.

— Isso é óbvio.

— Mas porque é que o Albanese decidiu encarregar-se de mover o corpo? E porque é que fechou as cortinas e as persianas do escritório?

— Exatamente pelas razões que ele indicou.

— E a chávena de chá?

Gabriel encolheu os ombros.

— Provavelmente, uma das freiras que cuidam da casa levou-a.

— Também levaram a carta da secretária do Lucchesi?

— A carta — admitiu Gabriel — é mais difícil de explicar.

— Quase tão difícil como o guarda suíço desaparecido. — Um empregado de mesa aproximou-se com dois cafés e uma cremosa tarte de fruta romana. Com o garfo na mão, Chiara hesitou.

— Já engordei, pelo menos, dois quilos, nesta viagem.

— Não tinha reparado.

Ela lançou um olhar de inveja na direção dele.

— Não engordaste nem um grama. Nunca engordas.

— Tenho de agradecer ao Tintoretto por isso.

Chiara empurrou a tarte na direção de Gabriel.

— Come tu.

— Foste tu que pediste.

Chiara separou um pedaço de morango da base de creme.

— Quanto tempo é que achas que a Unidade 8200 vai demorar a encontrar o número do Janson?

— Dada a insegurança da rede do Vaticano, diria que cinco minutos. Quando conseguirem, não vão tardar a descobrir a sua localização exata. — Gabriel empurrou a tarte lentamente, aproximando-a de Chiara. — E, depois, podemos voltar para Veneza e retomar as nossas férias.

— E se o telemóvel estiver desligado, ou no fundo do Tibre? — Chiara baixou a voz. — Ou se eles já o tiverem matado?

— O Janson?

— Sim, claro.

— E quem são eles?

— Os mesmos homens que assassinaram o papa.

Gabriel franziu o sobrolho.

— Ainda não estamos nesse ponto, Chiara.

— Já passámos esse ponto há muito tempo, querido. — Chiara cortou uma fatia de tarte e perfurou o creme e a massa com o garfo. — Tenho de admitir que estou ansiosa pelo jantar desta noite.

— Gostava de poder dizer o mesmo.

— O que é que te preocupa?

— Uma pausa desconfortável na conversa.

— Sabes, Gabriel, tu não mataste o Carlo Marchese.

— Também não o impedi, propriamente, de cair daquela barreira.

— Talvez a Veronica não toque nesse assunto.

— Está claro que eu não tenciono fazê-lo.

Chiara sorriu e olhou em redor da sala.

— O que é que achas que as pessoas normais fazem nas férias?

— Nós somos pessoas normais, Chiara. Simplesmente, temos amigos interessantes.

— Com problemas interessantes.

Gabriel mergulhou o garfo na tarte.

— Isso também.

Havia um velho andar seguro do Departamento no topo da Escadaria da Praça de Espanha, não muito longe da Igreja da Trinità dei Monti. A divisão de Logística não tivera tempo de encher a despensa. Não importava. Gabriel não previa uma estadia longa.

No quarto, desembrulharam os sacos de compras. Gabriel comprara rapidamente o seu guarda-roupa para essa noite, com uma única paragem na Giorgio Armani. Chiara fora mais exigente na sua aquisição. Um vestido preto sem alças da Max Mara, um casaco três quartos da Burberry, um par de sapatos de salto alto elegantes da Salvatore Ferragamo. Gabriel surpreendeu-a com um colar de pérolas da Mikimoto.

Radiante, ela perguntou:

— Para que é isto?

— És esposa do diretor-geral dos serviços secretos israelitas e mãe de duas crianças pequenas. É o mínimo que posso fazer.

— Esqueceste-te do apartamento no Grande Canal? — Chiara colocou o colar de pérolas à volta do pescoço. Estava resplandecente. — O que é que achas?

— Acho que sou o homem mais sortudo do mundo. — O vestido estava estendido em cima da cama. — Isso é uma combinação?

— Não comeces.

— Onde é que tencionas esconder a arma?

— Não estava a planear levar uma. — Empurrou-o na direção da porta. — Vai-te embora.

Gabriel entrou na sala de estar. Da minúscula varanda, conseguia ver a Escadaria da Praça de Espanha que descia serenamente na direção da praça e, ao longe, a cúpula iluminada da basílica a pairar sobre o Vaticano. Subitamente, ouviu uma voz. Era a voz de Carlo Marchese.

O que é isto, Allon?

O Juízo, Carlo.

O seu corpo rachara-se como um melão com o impacto. No entanto, o que Gabriel mais recordava era o sangue na batina de Donati. Indagava-se sobre como é que o arcebispo teria explicado a morte de Carlo a Veronica. A noite prometia ser interessante.

Voltou a entrar na sala. Conseguia ouvir Chiara, na divisão ao lado, a cantarolar, enquanto se vestia, uma daquelas músicas pop italianas tolas que ela tanto adorava. Antes o som da voz de Chiara, pensou, do que a de Carlo Marchese. Como sempre, aquele som encheu-o de satisfação. A sua jornada estava a chegar ao fim. Chiara e as crianças eram o seu prémio por, de alguma forma, ter sobrevivido. Ainda assim, Leah nunca estava longe dos seus pensamentos. Estava a observá-lo naquele momento, a partir das sombras do canto da sala, fraturada e queimada, enquanto as mãos com cicatrizes agarravam uma criança sem vida: a Pietà privada de Gabriel. Amas essa rapariga? Sim, pensou. Amava tudo nela. A forma como lambia o dedo, quando virava a página de uma revista. A forma como a sua mala balouçava, quando caminhava pela Via Condotti. A forma como cantarolava, quando achava que ninguém a estava a ouvir.

Ligou a televisão. Estava na BBC. Surpreendentemente, a bomba de Berlim não fizera vítimas mortais, embora doze pessoas tivessem ficado feridas, quatro delas em estado crítico. Axel Brünner, do Partido Nacional Democrático, de extrema-direita, culpava as políticas pró-imigração da chanceler centrista da Alemanha pelo atentado. Neonazis e outros extremistas de direita estavam a reunir-se para uma manifestação com tochas na cidade de Leipzig. A Bundespolizei estava a preparar-se para uma noite de violência.

Gabriel mudou para a CNN. A principal correspondente de internacional estava a fazer um direto a partir da Praça de São Pedro. Tal como a concorrência, desconhecia que uma carta endereçada ao diretor-geral dos serviços secretos israelitas desaparecera misteriosamente do escritório do papa, na noite da sua morte. Da mesma forma, não sabia que o guarda suíço que vigiara o exterior do apartamento papal nessa noite também desaparecera. Se o telefone de Niklaus Janson estivesse ligado e a transmitir um sinal, os ciberguerreiros da Unidade 8200 iriam descobri-lo antes do final da noite.

Gabriel desligou a televisão ao mesmo tempo que Chiara entrava na sala de estar. Demorou-se na apreciação: as pérolas, o vestido preto sem alças, os sapatos de salto alto. Estava uma verdadeira obra-prima.

— Então? — perguntou ela finalmente.

— Pareces… — titubeou.

— Uma mãe de duas crianças que engordou três quilos e meio?

— Pensei que tinhas dito dois.

— Acabei de me pesar na balança da casa de banho. — Gesticulou na direção da porta da casa de banho. — É toda tua.

Gabriel tomou um duche e vestiu-se rapidamente. Desceram as escadas e entraram para a parte de trás de um carro da embaixada que os aguardava. Enquanto aceleravam pela Via Venetto, o telefone vibrou com uma mensagem da Avenida Rei Saul.

— O que é?

— A unidade acabou de furar a barreira exterior da rede informática da Guarda Suíça. Estão a pesquisar a base de dados em busca do dossiê pessoal e do contacto do Janson.

— E se eles já o tiverem apagado?

— Quem?

— Os mesmos homens que assassinaram o papa, claro.

— Ainda não estamos nesse ponto, Chiara.

— Ainda não — concordou ela. — Mas estaremos em breve.

A Ordem

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