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RISTORANTE PIPERNO, ROMA

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Houve, para começar, o telefonema do cardeal Albanese. Chegou quase duas horas depois da hora a que o camerlengo disse ter encontrado o Santo Padre morto na capela privada. Albanese alegou ter feito várias chamadas sem resposta para Donati. Donati verificara o seu telefone. Não tinha qualquer chamada não atendida.

— Parece ser um caso simples. E que mais?

O estado do escritório papal, respondeu Donati. Persianas e cortinas fechadas. Uma chávena de chá meio bebida sobre a secretária. Um documento desaparecido.

— O que era?

— Uma carta. Uma carta pessoal. Não oficial.

— O Lucchesi era o destinatário?

— O autor.

— E o conteúdo da carta?

— Sua Santidade recusou dizer-me.

Gabriel não sabia se o arcebispo estava a ser inteiramente sincero.

— Suponho que a carta tenha sido escrita à mão…

— O vigário de Cristo não usa um processador de texto.

— A quem estava endereçada?

— A um velho amigo.

Depois, Donati descreveu a cena que encontrou quando o cardeal Albanese o conduziu até ao quarto papal. Gabriel imaginou o quadro como se tivesse sido pintado a óleo sobre tela pela mão de Caravaggio. O corpo do pontífice falecido estendido sobre a cama, vigiado por um trio de prelados superiores. No lado direito da tela, pouco visíveis nas sombras, três leigos de confiança: o médico pessoal do papa, o chefe da pequena força policial do Vaticano e o comandante da Guarda Suíça Pontifícia. Gabriel nunca conhecera o doutor Gallo, mas conhecia Lorenzo Vitale, e gostava dele. Já Alois Metzler era outra história.

O Caravaggio privado de Gabriel dissolveu-se, como se tivesse sido apagado por diluente. Donati estava a reproduzir a explicação de Albanese sobre como encontrara, e depois movera, o cadáver.

— Francamente, é a única parte da história que é plausível. O meu mestre era bastante pequeno e o Albanese tem o físico de um boi. — Donati ficou em silêncio durante um momento. — Como é evidente, há, pelo menos, uma outra explicação.

— Qual?

— Que Sua Santidade nunca tenha chegado à capela. Que tenha morrido à secretária, no escritório, enquanto bebia chá. Tinha desaparecido, quando saí do quarto. Refiro-me ao chá. Alguém retirou a chávena e o pires, enquanto eu rezava junto do corpo de Lucchesi.

— Suponho que não tenha sido submetido a uma autópsia.

— O Vigário de Cristo…

— Foi embalsamado?

— Receio que sim. O corpo de Wojtyla ficou bastante cinzento enquanto estava em exibição na basílica. E, depois, houve o Pio XII. — Donati estremeceu. — Uma verdadeira desgraça. O Albanese disse que não queria correr riscos. Ou talvez estivesse simplesmente a ocultar o seu envolvimento. Afinal, se um corpo for embalsamado, torna-se muito mais difícil encontrar vestígios de veneno.

— Tens mesmo de parar de ver essas séries policiais na televisão, Luigi.

— Eu não tenho televisão.

Gabriel deixou passar um momento.

— Tanto quanto me lembro, não há câmaras de vigilância na lógia, no exterior do apartamento papal.

— Se houvesse câmaras, o apartamento não seria privado, pois não?

— Mas, certamente, havia um guarda suíço de serviço.

— Há sempre.

— Nesse caso, ele teria visto qualquer pessoa que tivesse entrado no apartamento.

— Em princípio.

— Perguntaste-lhe?

— Nunca tive essa oportunidade.

— Expressaste as tuas preocupações ao Lorenzo Vitale?

— E o que é que o Lorenzo teria feito? Investigar a morte de um papa como um possível homicídio? — O sorriso de Donati foi caridoso. — Dada a tua experiência no Vaticano, surpreende-me que faças, sequer, uma pergunta dessas. Para além disso, o Albanese nunca teria permitido. Ele tinha a sua versão e mantinha-se fiel à mesma. Encontrou o Santo Padre na capela privada alguns minutos depois das dez e levou-o, sem ajuda, até ao quarto. Aí, na presença de três dos mais poderosos cardeais da Igreja, pôs em marcha a sequência de acontecimentos que conduziu à declaração de que o trono de São Pedro se encontrava disponível. Tudo isso enquanto eu degustava de um jantar tardio com uma mulher que, em tempos, amei. Se eu puser o Albanese em causa, ele destrói-me. E, de passagem, também destrói a Veronica.

— E se passasses a informação a um jornalista de confiança? Há vários milhares acampados na Praça de São Pedro.

— Este assunto é demasiado sério para ser confiado a um jornalista. Exige alguém suficientemente habilidoso e implacável para descobrir o que, de facto, aconteceu. E rapidamente.

— Alguém como eu?

Donati não respondeu.

— Estou de férias — protestou Gabriel. — E é suposto voltar a Telavive daqui a uma semana.

— O que te dá, exatamente, tempo suficiente para descobrires quem matou o Santo Padre antes do início do conclave. Para todos os efeitos, o conclave já começou. A maioria dos homens que vão escolher o próximo papa está refugiada na Casa Santa Marta. — A Domus Sanctae Marthae, ou Casa Santa Marta, era a hospedaria clerical de cinco andares no extremo sul da cidade-estado. — Posso garantir-te que os príncipes de chapéu vermelho não passam a noite a falar das notícias desportivas enquanto jantam. É imperativo descobrirmos quem esteve por trás do assassínio do meu mestre antes que eles se enfiem na Capela Sistina e as portas se tranquem nas suas costas.

— Com todo o respeito, Luigi, não tens absolutamente nenhuma prova de que o Lucchesi foi assassinado.

— Não te contei tudo o que sei.

— Talvez agora seja uma boa altura para o fazeres.

— A carta que desapareceu estava endereçada a ti. — Donati fez uma pausa. — Agora, pergunta-me sobre o guarda suíço que estava de serviço no exterior do apartamento papal, nessa noite.

— Onde é que ele está?

— Deixou o Vaticano algumas horas depois da morte do Santo Padre. Desde então, nunca mais foi visto.

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