Читать книгу Poesias - Alexandre Herculano - Страница 31

XIX.

Оглавление

Calou-se o monge: sepulchral silencio

Á sua voz seguiu-se. Uma toada

De orgam rompeu do côro. Assemelhava

O suspiro saudoso, e os ais de filha,

Que chora solitaria o pae, que dorme

Seu ultimo, profundo e eterno somno.

Melodias depois soltou mais doces

O severo instrumento: e ergueu-se o canto,

O doloroso canto do propheta,

Da patria sobre o fado. Elle, que o vira,

Sentado entre ruinas, contemplando

Seu avito esplendor, seu mal presente,

A quéda lhe chorou. Lá na alta noite,

Modulando o Nebel, via-se o vate

Nos derribados porticos, abrigo

Do immundo stellio e gemedora poupa,

Extasiado—e a lua scintillando

Na sua calva fronte, onde pesavam

Annos e annos de dôr. Ao venerando

Nas encovadas faces fundos regos

Tinham aberto as lagrymas. Ao longe,

Nas margens do Kedron, a ran grasnando

Quebrava a paz dos tumulos. Que tumulo

Era Sião!—o vasto cemiterio

Dos fortes de Israel. Mais venturosos

Que seus irmãos, morreram pela patria;

A patria os sepultou dentro em seu seio.

Elles, em Babylonia, aos punhos ferros,

Passam de escravos miseranda vida,

Que Deus pesou seus crimes, e, ao pesa-los,

A dextra lhe vergou. Não mais no templo

A nuvem repousára, e os céus de bronze

Dos prophetas aos rogos se amostravam.

O vate de Anathot a voz soltára

Entre o povo infiel, de Eloha em nome:

Ameaças, promessas, tudo inutil;

De bronze os corações não se dobraram.

Vibrou-se a maldicção. Bem como um sonho

Jerusalem passou: sua grandeza

Sómente existe em derrocadas pedras.

O vate de Anathot, sobre seus restos,

Com triste canto deplorou a patria.

Hymno de morte alçou: da noite as larvas

O som lhe ouviram: squallido esqueleto,

Rangendo os ossos, d'entre a hera e musgos

Do portico do templo erguia um pouco,

Alvejando, a caveira.—Era-lhe allivio

Do sagrado cantor a voz suave

Desferida ao luar, triste, no meio

Da vasta solidão que o circumdava.

O propheta gemeu: não era o estro,

Ou o vívido jubilo que outr'ora

Inspirára Moysés: o sentimento

Foi sim pungente de silencio e morte,

Que da patria lhe fez sobre o cadaver

A elegia da noite erguer e o pranto

Derramar da esperança e da saudade.

Poesias

Подняться наверх