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Capítulo Cinco

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Na escuridão do amanhecer, as brasas incandescentes da lareira lançam um brilho acobreado e polido à volta do quarto. Eleanor sabia que se chamasse Joan, adormecida no divã ao canto do quarto, voltaria imediatamente a acender a lareira, mas Eleanor não estava com frio. Na verdade, a raiva ardia no seu interior com o fulgor de qualquer fornalha. Indo até à janela, sentou-se no banco, afastando as cortinas pesadas. Encostou a testa ao vidro frio e viu uma coruja a voar silenciosa e baixa através do prado antes de desaparecer momentaneamente de vista para reaparecer depois empoleirada num dos muitos carvalhos espalhados pelo parque. Aquele era o seu mundo, o único lugar que alguma vez conhecera. E era o dia do seu casamento.

Sabia onde ficava Norfolk, a sua nova casa, não muito longe da sua Suffolk natal. Mas com as histórias assustadoras que o seu pai lhe contou sobre os pastos pantanosos varridos pelo vento e as pastagens selvagens, bem que podia ser do outro lado do país, pois no dia seguinte, quando deixasse Ixworth, não haveria regresso. Sir William não estava a impedi-la de levar Joan consigo, mas todos os outros na sua vida seriam deixados para trás: os servos e os pacatos monges com as suas vidas gentis, muitos dos quais ela considerava como queridos amigos. O seu pai tinha morrido e agora a sua vida ali tinha acabado.

Quando o amanhecer começou a branquear o céu, com o sol como uma bola vermelha dependurada baixa e firmemente a cintilar no horizonte, ela ainda estava sentada no banco da janela. Pela casa vieram os sons de fogos a serem acesos e da preparação para o banquete de casamento mais tarde. Ela mal tinha visto o noivo desde a apresentação inicial. Ele tinha passado a maior parte do tempo a caçar com os outros convidados. Sem dúvida que todos estavam desejosos de escapar à casa e aos gritos furiosos do pequeno Robert, que tinha chegado dez dias antes e tinha dado a conhecer a sua presença, dia e noite. Não havia lugar no salão para escapar aos constantes gritos de raiva do bebé. Sir William limitava-se a rir e depois desaparecia o dia inteiro no seu cavalo. Não admirava que a sua esposa tivesse um ar carrancudo permanente. Provavelmente também tinha dor de cabeça. Ao menos quando ele e Margaret estavam na corte, ela conseguia fugir do barulho. Ali em Ixworth era muito mais difícil.

Joan apareceu silenciosamente à sua porta com uma taça com água fumegante e pétalas de rosa a flutuar, e depois de Eleanor se ter acabado de lavar, ajudou-a a vestir-se antes de ambas se esgueirarem até ao priorado para as preces da manhã. No seu coração, Eleanor sabia que seria daquilo que sentiria mais falta.

Ajoelhada no chão frio de pedra, de olhos fechados, estava consciente da respiração constante de Joan ao seu lado à medida que as orações familiares em latim passavam por ela, de respostas automaticamente murmuradas, os dedos a passar pelas contas do terço enquanto permitia que a mente vagueasse. Estaria Joan tão preocupada quanto ela com o tumulto das suas vidas? O seu primo tinha prontamente concordado quando Eleanor insistiu que a dama de companhia fosse com ela. Mas para Joan aquilo não era novidade. Tinha vindo da sua própria família, de parentes distantes da mãe de Eleanor, para ser sua confidente, pois foi considerado que Eleanor precisava de uma companhia feminina gentil. Embora Joan fosse a mais calma das duas, Eleanor sabia que a sua amiga tinha uma força interior que raramente revelava, o que as ajudaria a ambas na nova vida que estavam prestes a começar.

Mas Ixworth não era a casa de Joan e ela não estava prestes a tornar-se esposa de alguém, com tudo o que isso implicaria. Eleanor engoliu com força em seco. Sabia o que era esperado no leito matrimonial e Greville não era um rapaz da sua idade. Teria expetativas, não tinha dúvidas quanto a isso. Portanto, não, respondendo à sua própria pergunta, Joan tinha muito pouco com que se preocupar.

As vozes dos monges ergueram-se na parte final do hino Te Deum subindo até ao teto abobadado enquanto o cheiro pesado e enjoativo do incenso vagueava pela nave e a missa terminava. Estaria de volta dali a seis horas e já tinha sido informada de que partiriam para Norfolk na manhã seguinte bem cedo. Era aquela a última vez que estaria sozinha para se despedir.

— Vá indo. Estarei de volta em breve — disse-lhe.

Joan pareceu insegura. Será que pensava que Eleanor ia fugir? Se houvesse outro lugar para onde ir, já teria fugido.

— Quero fazer agora as minhas despedidas — acrescentou.

O rosto de Joan serenou e sorriu suavemente, acenando com a cabeça. Deu um ligeiro aperto no braço de Eleanor.

— Precisamos de acabar de empacotar os seus últimos pertences — lembrou-lhe.

— Não me esqueci. Estarei de volta a tempo. Vai ser um longo dia.

Joan desapareceu pela porta da capela, deixando Eleanor sentada ao fundo em silêncio à meia-luz da manhã sombria. Por essa altura, os padres tinham todos dispersado para as suas tarefas restando apenas dois que apagavam as velas e limpavam os sacramentos. Os seus movimentos eram fluidos como se estivessem contidos numa antiga dança religiosa, com os seus hábitos ásperos de lã a suspirarem contra o chão como único som. Finalmente também eles partiram e ela ficou sozinha, com a solidão e o silêncio que a envolveram num manto reconfortante e familiar. Mas teve pouco tempo para parar e apreciar. O seu tempo tinha-se esgotado.

No exterior, após uma breve visita à campa dos pais — não houve ali despedidas; sentia a falta deles, mas tinha aceitado que tinham desaparecido para sempre —, prosseguiu até chegar ao jardim físico do priorado. Cuidadosamente colocados em secções dispostas como raios de sol a partir de um canteiro central, cada canteiro continha ervas para curar doenças para uma parte diferente do corpo. Atrás dela, num canteiro separado, estavam as plantas necessárias para criar pigmentos para as tintas coloridas que os monges utilizavam. Como se estivesse à sua espera, o prior já lá estava, a puxar suavemente a parte de cima dos novos rebentos num arbusto de matricária. Endireitou-se, sorriu quando a viu e caminharam juntos até um banco de madeira encostado ao muro de pedra do jardim. Era o banco onde o seu pai costumava descansar enquanto a observava a ajudar os monges no jardim. Ou nos muitos dias em que ela estava lá dentro com os escribas a observar e a copiar os seus textos cuidadosamente intrincados com iluminuras.

O par sentou-se em silêncio acompanhado por alguns minutos até ele finalmente perguntar:

— Está pronta para o seu casamento e para a parte seguinte da sua jornada?

Eleanor encolheu os ombros.

— Suponho que sim. Sentirei muita a falta de estar aqui, mas nada permanece igual para sempre, pois não? — Conseguiu fazer um pequeno sorriso como se estivesse a tentar tranquilizá-lo e não a si própria, e a sua velha mão, com as veias salientes e a pele fina como papel, deu uma palmadinha na dela.

— Diz palavras sábias. Mesmo aqui, na nossa piedosa solidão onde nada mudou durante séculos, os sinos da mudança podem em breve estar a tocar às nossas portas — respondeu ele. Ela sabia que ele estava a falar dos comissários do rei que andavam a fechar mosteiros. Ninguém sabia onde poderiam aparecer a seguir. Um ar de apreensão e pavor constantes pairava sobre eles, agarrando-se silenciosamente ao tecido das suas vidas. — Agora — continuou ele, mudando de assunto —, tenho um presente para vós. Não um presente de casamento, mas algo especialmente para si. Venha comigo. — Levantando-se de forma vacilante, indicou o caminho até a um abrigo de madeira encostado ao muro oposto que continha as ferramentas de jardinagem dos monges. Chegando ao interior, retirou um cofre de madeira esculpida e colocou-o nas mãos dela. Era pesado e Eleanor pousou-o no chão para poder abri-lo e espreitar lá para dentro. Parecia estar cheio de pequenas cebolas com casca. Ela olhou para ele de forma inquiridora.

— Bolbos de açafrão — disse-lhe —, para que possa cultivar o seu próprio açafrão na sua nova casa. Viu como o cultivamos aqui na nossa horta, ajudou muitas vezes na colheita e secagem e aprecia o valor que o açafrão tem, tanto em termos monetários como na sua utilização. Este é o seu dote do priorado. — Olhou para ela e sorriu com gentileza. O sorriso de um pai para uma filha que nunca teve.

— Obrigada, é muito amável da sua parte. São preciosos para mim. — Fechando a tampa, deixou a caixa aos pés, baixando um joelho e beijando-lhe o anel na mão. — Ficará para sempre nos meus pensamentos — prometeu-lhe antes de recolher o presente e abandonar o jardim. Determinada a não olhar para trás, a sua visão foi dificultada pelas lágrimas nos olhos.

O resto da manhã passou com rapidez. Os cheiros e ruídos das cozinhas confirmavam o grande entusiasmo dos servos por finalmente terem uma ocasião feliz para preparar, após a tristeza dos meses anteriores. O casamento era motivo de celebração para eles, mesmo que não para Eleanor, e estavam determinados a dar-lhe um banquete nupcial impressionante. Tinham passado dias a cozinhar cisne, gansinho e javali, com as prateleiras frescas da despensa cheias de conservas de fruta, biscoitos, tartes e pudins, juntamente com um bolo magnífico.

No seu quarto, com a última arca aberta para embalar as peças finais, Eleanor estava sentada em silêncio enquanto Joan lhe decorava o cabelo. Para quando fosse descoberto, com flores e pérolas tecidas em tranças apertadas e desconfortáveis contra a sua cabeça. Finalmente, o fino véu rendado que tinha sido usado pela mãe foi-lhe colocado na cabeça. Ela já estava a sofrer, nos seus pensamentos e no seu coração. Usou o seu melhor vestido, de uma lã azul-clara e a cobertura perfeita para o resplendor do seu cabelo que brilhava como se estivesse aceso. Os olhos continuavam a desviar-se em direção à cama atrás de si, onde as cortinas puxadas para trás exibiam a colcha bordada que a sua mãe tinha cosido durante os primeiros anos de casamento, antes da chegada de Eleanor. O seu pai tinha-lhe assegurado muitas vezes que a mãe tinha ficado encantada por ir ter um bebé.

Apenas alguns dias antes, Lady Margaret tinha entrado no seu quarto sem ser convidada e inspecionou o mobiliário e a disposição, explicando que usaria o quarto depois de Eleanor se ir embora. Tinha desdenhado ligeiramente ao dedilhar as colchas e Eleanor tinha decidido imediatamente que para além de tudo o que estivesse embalado na sua bagagem, a colcha ia com ela. O quarto já não se parecia com o seu e nessa noite o seu marido iria juntar-se a ela naquela cama. Estremeceu e Joan manifestou-se quando um alfinete de cabelo caiu no chão.

— Fique quieta — repreendeu ela.

Eventualmente, não podia adiar mais o inevitável. Lá em baixo, o ruído anterior e a agitação estridente tinham diminuído, tendo as pessoas da casa já saído para se alinharem no percurso até à capela. A casa estava silenciosa e Eleanor conseguia ouvir cada respiração trémula que inspirava enquanto o coração lhe batia com força no peito, com um ligeiro brilho de suor a aparecer-lhe na testa que lhe colava o véu à cara.

Se tinha estado a rezar por intervenção divina, agora era o momento em que reconhecia que Deus a tinha desiludido. Mesmo muito. O Prior Gregory tinha-lhe dito muitas vezes que algumas coisas, tais como a morte do pai, faziam parte do grande plano do Senhor, mas era difícil compreender como é que o Senhor pensava que aquilo iria melhorar-lhe a vida.

— Não fique tão desanimada — tranquilizou-a Joan enquanto lhe entregava um pequeno ramalhete de lavanda que Eleanor enfiou na saia por baixo do vestido. — Muitas raparigas ficariam encantadas por ter um marido bonito e um novo lar à espera.

Eleanor olhou atentamente para a amiga, compreendendo de repente que, aos olhos de Joan, ela tinha mais do que merecia, embora até mesmo essa noção não lhe conseguisse levantar o negro estado de espírito.

Joan caminhou à frente, segurando um ramo de rosmaninho, e Eleanor seguiu-a lentamente de pernas trémulas, mas com os ombros para trás e a cabeça bem erguida à medida que se aproximavam da igreja. Todas as pessoas da casa estavam agrupadas no exterior à espera, incluindo os servos que ela tinha conhecido toda a vida, os convidados do primo e, claro, William e Margaret. Como se a presença deles garantisse que ela prosseguiria com o casamento. O que faria. Era demasiado cobarde para fugir ou ir para um convento. Parado ao pé da pesada porta de madeira estava o prior, juntamente com Greville vestido no seu negro habitual, mas desta vez com lampejos de escarlate vivo profundo e rico em inserções nas mangas da jaqueta. Os seus olhos escuros encontraram os dela e sorriu encorajadoramente. Eleanor, ainda a tremer, baixou os olhos e olhou fixamente para as suas botas brilhantes de couro, tão grandes comparadas com os seus pequenos pés escorregadios.

As palavras da cerimónia passaram pela sua cabeça baixa e em minutos tudo acabou. Foi-lhe enfiado no dedo um anel de ouro pesado, cravejado de esmeraldas e rubis, e saíram juntos para dentro da igreja para assistir à missa de casamento. Greville ofereceu-lhe o braço e embora quisesse evitá-lo, Eleanor apoiou-se nele até conseguir prosternar-se de joelhos trémulos. Já não podia ocupar o banco da frente, o espaço de família agora ocupado pelo primo enquanto ela e Greville se ajoelhavam diante do altar.

Pela primeira vez, a familiaridade da missa não a reconfortou e passou pelos movimentos em aturdimento. Era aquilo. Estava casada com um homem que lhe era estranho e no dia seguinte estaria a deixar a única casa que alguma vez conhecera. E aquela era a sua noite de núpcias. As suas entranhas contraíram-se dolorosamente.

De repente, a missa acabou e estavam de volta ao exterior, seguidos pelo resto do grupo que estava de bom humor enquanto regressavam à casa na tarde fresca à medida que o crepúsculo se instalava. No interior, eram trazidas travessa após travessa de carnes assadas, legumes e doces para os convidados. O ar enchia-se de vozes altas à medida que a cerveja e o vinho fluíam livremente. Eleanor teria ficado surpreendida com a generosidade do primo ao proporcionar tal banquete, mas o cozinheiro já lhe tinha dito que Greville tinha pagado por tudo. Brincava com um pedaço de manchet, o melhor pão branco que o cozinheiro poderia fazer, desfazendo-o em migalhas. A mão parecia-lhe estranha e desconfortável com o peso da aliança de ouro agora enfiada no seu terceiro dedo. Greville continuou a colocar lascas finas de carne no seu prato, mas ela fazia-as deslizar para fora e para o chão para onde os cães estavam, debaixo da mesa, facilitando-lhes o trabalho.

Por fim, foi trazido um grande bolo feito de maçapão cravejado de confeitos coloridos que Eleanor tinha ajudado a fazer, e as celebrações dissolveram-se em festejos bêbados e indisciplinados. Alguém tocava um alaúde e o barulho aumentava à medida que mais vinho era consumido. Por fim, chegou o momento que temia, quando os foliões começaram a insistir que os noivos fossem levados para a cama nupcial. Bem-disposto, Greville levantou-se e estendeu a mão a Eleanor, quase a levantando da cadeira. Como se conseguisse sentir a relutância que emanava dela em ondas, deu-lhe um suave aperto de mão para a tranquilizar.

Levou-a para cima e o resto dos convidados seguiu-os, empurrando-os para a frente e gritando sugestões grosseiras, ao que, notou ela, o marido franzia o sobrolho em vez de se juntar. O grupo precipitou-se para o quarto ainda a cantar alto, mas para surpresa deles, Greville levantou as mãos para acalmá-los — Eleanor pôde ver que a sua altura e ombros largos tinham decididamente vantagens — e anunciou que todos poderiam continuar a celebrar lá em baixo porque ele não precisava de mais nenhuma assistência nos aposentos.

A resposta não foi educada enquanto ele apressava, e nalguns casos manobrava, os convidados desiludidos para fora do quarto até finalmente só restarem os dois. Atirou outro tronco para o fogo já a arder, causando faíscas que salpicaram pela chaminé acima com as chamas a elevaram-se, iluminando-lhe um dos lados do rosto. Naquele breve momento, pareceu o próprio Belzebu e Eleanor resistiu à tentação de fazer o sinal da cruz. Andando pelo quarto, acendeu as velas nas suas arandelas, enquanto Eleanor ficou imóvel a observar cada movimento, como um coelho que tinha subitamente avistado uma raposa. Joan tinha saído com todos os outros e perguntava-se como é que se ia despir sozinha.

Em silêncio, começou a desatar as mangas. Sentiu, em vez de ver, Greville a mover-se para trás dela e parou, sustendo a respiração antes de se encolher quando os dedos dele se enlaçaram no seu cabelo, removendo gentilmente os alfinetes que o tinham mantido firmemente entrançado ao seu couro cabeludo durante todo o dia. As flores, agora murchas e moles, espalharam-se pelo chão. Com dois hábeis puxões dos cordões nas suas costas, o seu vestido ficou suficientemente solto para sair e Greville colocou-o sobre o baú aberto ainda à espera das últimas peças a serem embaladas. Eleanor tirou a saia e ficou parada a tremer na sua camisa de linho, apesar do fogo abrasador, observando-lhe cada movimento.

O seu novo marido tirou as botas e as meias-calças, com as suas pernas magras a parecerem compridas e pálidas à luz do fogo. Atirou o gibão descuidadamente para cima do vestido dela e em segundos também ele ficou só de túnica, que lhe desceu misericordiosamente até aos joelhos. Eleanor evitou-lhe o olhar, só por precaução. Levantando as colchas da cama para trás, ele fez-lhe um sorriso encorajador antes de indicar que ela devia entrar na cama. Ela apressou-se a ir para o outro lado e enfiou-se entre os lençóis de linho frescos, puxando-os até ao pescoço, e deitou-se de olhos fechados, esperando o mergulho do colchão enquanto ele subia para o seu lado. Não aconteceu. Em vez disso, sentiu o peso das mantas nas pernas a deslocar-se, e espreitando por debaixo das pálpebras, viu Greville a debater-se com a sua colcha enquanto a puxava da cama. O que é que ele estava a fazer?

Observou por entre os olhos semicerrados enquanto continuava a lutar com a colcha até estar caída no chão.

— Sei que está a observar-me — comentou ele e ela abriu completamente os olhos de forma relutante.

— O que é que está a fazer? — perguntou ela, por fim, enquanto ele se embrulhava na manta. Não antes de ela lhe ter visto as coxas musculadas a desaparecerem por debaixo. Desviou rapidamente o olhar. Ele instalou-se no cadeirão ao lado da lareira, de rosto brilhante à luz do fogo. Os seus olhos escuros cruzaram-se com os dela.

— Durma — disse-lhe. — Temos uma viagem muito comprida ao longo dos próximos dias. Quero fazer o menor número possível de paragens no caminho para casa. — E nisto, apagou a última vela, deixando apenas a luz fraca das poucas brasas na lareira.

Eleanor rolou para ficar de costas e olhou para o dossel acima dela. Sabia o que era esperado dela na noite de núpcias e decididamente não era estar ali deitada sozinha na sua cama. Pigarreou.

— Porque é que vai dormir no cadeirão?

— Acabei de lhe dizer. Temos um longo dia amanhã e partiremos ao amanhecer. Tem os seus pertences todos embalados?

— Sim — confirmou ela —, para além da manta onde está embrulhado. A minha mãe bordou-a para mim antes de eu nascer, e não a vou deixar para Lady Margaret. Aparentemente, vai usar este quarto quando eu me for embora. — Mas ele ainda não tinha respondido à sua pergunta. — Mas não é suposto dormir na cama comigo agora que somos casados?

Ela ouviu-o a rir.

— Já é tarde e ambos tivemos um longo dia. Temos o resto das nossas vidas pela frente. Uma noite… — ele calou-se por um momento — a quantidade de noites que sejam precisas não farão diferença. Agora, faça o que lhe é dito. Durma. — Estupefacta, Eleanor rolou de lado levando os joelhos ao peito e abraçando-os contra si enquanto ficava deitada no escuro, de olhos bem abertos. Não esperava aquilo na sua noite de núpcias. Tinha andado o dia todo preocupada com o que iria acontecer no quarto e agora nada. Não podia deixar de sentir uma sensação de alívio e surpresa por estar deitada sozinha na cama. Mas era, recordou-se, uma mera suspensão da execução. Do outro lado do quarto veio uma respiração lenta e constante. Não tinha demorado muito a adormecer e ela também precisava de dormir, mas as celebrações do dia, se é que se podiam chamar assim, pairavam-lhe às voltas na cabeça. Não se sentia remotamente cansada e amanhã começaria a viagem até à sua nova vida em Norfolk.

Os segredos de Saffron Hall

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