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Prólogo

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1541

A mão tremia-lhe enquanto mergulhava a pena na tinta e escrevia as palavras, com letra quase ilegível, enquanto as lágrimas quentes se espalhavam pelo pergaminho e o ensopavam, engrossando as fibras.

Mary, em segurança nos braços de Nosso Senhor, 17 de novembro de 1541

Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa

No exterior, a mancha escura de pesadas nuvens cinzentas estava tão baixa que quase tocava nas copas das árvores nuas. O vento amargo e gelado atirava flocos afiados de neve às janelas, assobiando pelas numerosas frestas para encontrar o seu caminho para o interior e enrolar os dedos crus à volta dos seus ossos exaustos. Pouco importava. Já tinha o coração gelado, como se fosse um caroço duro e doloroso que lhe pesava no peito. Nenhuma quantidade de roupa de lã ou mantos forrados a pelo conseguiriam aquecê-la naquele momento.

Eleanor sabia que as hipóteses de sobrevivência de um bebé tão pequeno, que tinha nascido demasiado cedo, eram reduzidas. Um desejo impossível. Mas ver as feições perfeitas da filha transformarem-se em alabastro poucos minutos depois de ter chegado ao mundo era mais do que conseguia suportar.

E agora estava sentada na torre, de corpo quieto e a postos, enquanto ouvia o retumbar dos cascos que se aproximavam, anunciando a chegada dos homens do rei. Nunca tinha ela precisado tanto do seu amado Greville, mas ele não vinha. As ervas húmidas aos seus pés estavam coladas com os coágulos do sangue que tinha perdido. Todo o corpo lhe doía. Queria deitar-se no chão de pedra fria e deixar a vida escapar-se com o sangue que ainda escorria dela. Manchou-lhe as mãos, escurecendo-as onde secou, esticando bem a pele sobre os nós dos dedos.

Tinham de partir em breve, muito em breve. Já se tinham demorado mais do que pretendia e não havia tempo para fazer o que era preciso. A única coisa a fazer era esperar que, ao deixar aquela mensagem, alguém fosse capaz de decifrar o que estava a pedir e responder ao seu apelo. Os seus olhos percorreram o chão contra a sua vontade, atraídos para o sítio onde Mary agora jazia. Estaria a ouvir alguma coisa? Um gemido? Um choro ténue de aflição? Não, era apenas a sua imaginação febril e as gaivotas em redor fustigadas pelos ventos de inverno do lado de fora da janela a chorarem com ela.

De mãos a tremer, começou a escrever: infans filia sub pedibus nostris requiescit…[1]

Por fim, pegando numa flor prensada de açafrão, juntamente com um raminho de alecrim, pousou-as suavemente entre as páginas e fechou o livro.

[1] Uma filha bebé jaz debaixo dos nossos pés.

Os segredos de Saffron Hall

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