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FORRÓ DO IPIRANGA

O centenário terraço na avenida Canal, bairro do Santo Antônio, Campina Grande, teve seus dias de gala. Por lá passaram, dentre tantos, figuras como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Biliu, Marines e Abdias. O público, simples e fiel, era certeza de finais de semana quentes no frio da rainha da Borborema. As damas, fortemente perfumadas, faziam jus aos sempre boêmios forrozeiros que marcavam presença, impecavelmente, com seus surrados ternos, a cabeça cheia de álcool e pecado, a conduta insistentemente respeitosa, como se seguissem a tradicional forma nordestina de postar-se diante do sexo tanto desejado.

O forró pé de serra caminhava para fazer história e mistificar-se como ritmo genuinamente paraibano. O trio de artistas e seus instrumentos, a sanfona, o triangulam e a zabumba, era marcadamente empolgante para os amantes das movimentadas noites campinenses. Sempre estavam evidentes as misturas de classes sociais, geralmente muito diversificadas, mesmo quando ricos comerciantes, estudantes, prostitutas e bêbados tornavam o lugar em ambiente de surpresas, ora festivas, ora de grandes confusões, movidas a ignorância e excesso de álcool, fartamente ingerido até o completo repudio da cerimônia e ao bom senso de autocrítica. Ardentemente as emoções se fluíam em abraços, cobiças, brigas e conciliações. Era a originalidade de um ambiente que caminhava para a ocupação de um vago no tempo, onde prostitutas, infelizes e aventureiros, descontentes ou sedentos de nada a fazeres, perseguiam a sorte no dinheiro, diversão e amor.

No amanhecer dos dias, após as breves e longas noites de festas, viam-se as pessoas deformadas pelo álcool, fumo e pobremente desprovidos desprovidas até das migalhas para locomoção à periferia de vossas vidas, campineiras, quando não, até os sítios onde moravam e cultivavam seus produtos, moeda de troca em noites de fantasia e diversão, resultado da tradição e desejo dos muitos brejeiros em desfrutar, ao menos um pouquinho, algum tempo de sua vida, nas chuvosas noites do planalto da Borborema, Ipiranga em tela do passado, saquarema sem dor e sem lema.

Tempo, o ancião recontando a história

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