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NORDESTE BRASILEIRO

É com frequência que ouvimos; “não se define o Nordeste com simplicidade”, haja vista sua diversidade regional e cultural, transcendendo qualquer alma nordestina. Terra pioneira que ofereceu grandes desafios e poucas oportunidades aos que aqui nasceram ou chegaram.

Não há surpresas, mas relíquias, ao se redescobrir este chão. Na linguagem de cordel, diríamos que ainda há caixote de barro, em lombo de jegue; tropa divina, um bando de bode; lampião de zinco; cuia cabaça, em nossa terra-mãe e toda nordestina.

José Ozéas, pai, contava que para sobreviver, no seu tempo, a toda seca que surgia, era necessário resistir ao sol ardente, que sem dó ou piedade castigava a terra, já tórrida, e as costas, já ardente, com tamanha intensidade.

Sem chuva e, em Deus crendo, pedia para que a poeira não engolisse aos animais que tangia, tropa de jegues de cargas, nas trilhas que cortavam o sertão do médio piranhas, em pleno interior da Paraíba.

A tropa de jegue foi ferramenta única que disponha seu pai, Chico Ozéas. Tropeiro avante, trajetória sem fim, tormenta histórica de dor e aflição, na diária para sobreviver à fome e a sede em terra estorricada, sem chuva e com sol, a destilar tanto ardor nas cabeças e costas dos seres que ousam anteposto a ele estarem.

Contava, sem mágoa ou frustração, os feitos e os defeitos, a luta de perda e vitória, de uma longa história nos caminhos tortuosos do sertão.

Era em cada dia que o menino José tangia, com cansaço, sofrer e suor, dezenas de burros (jegues) cargueiros, marcando em riscos e rastros, as trilhas empoeiradas do interior paraibano.

Alguns anos passariam até que José conhecera Maria e, assim sendo, fariam sua história, para nós, de união e amor.

Se qualquer homem se remeter a quão constante e finita aventura, ficaria como se em volta de uma guerra estive-se, onde a sobrevivência seria o alvo da meta e a batalha um insuportável flagelo social, que outrora imperava no vasto e tórrido solo sertanejo.

Para entender e unir, homem e terra, é preciso se imaginar em voltando no tempo, para se perceber o que foi o sofrer em uma longa jornada, de um monte de gente.

Trata-se, hoje, de uma construção pela dignidade de vida, atribuída também a todos que resistiram com luta e determinação a tão longa batalha, até marcarem com o trabalho, aquele momento em nome de nossa história.

Todos os que cruzaram as veredas, em campos nordestinos, estão à luz dos anos de grandes “sertões e veredas do sofrimento”, traduzidos, naturalmente, em peças valiosas de uma história contada com maestria pelos populares, em reflexão à cultura de nosso povo, de um Nordeste, de um torrão vermelho, de um pedaço de barro, genuíno e brasileiro.

Tempo, o ancião recontando a história

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