Читать книгу Tempo, o ancião recontando a história - Nestor Cobiniano de Melo Neto - Страница 21

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NOSSA TERRA

No sertão ficou assim, tudo é devoção: médico é meio santo, café é frei Damião, a poeira não é encanto, fazer o bem é não ter direito, ser bom é não ser perfeito, está quieto é está em pranto.

A verdade palavra em perigo, onde não existiu ordem, tudo antes fora castigo, terra seca em desordem, uma briga, uma intriga, falar certo e perder amigo, o conforto, um aborto, dos grandes que andam tortos.

Sou do sertão, em que nasci e fui criado, terra de gente boa, de trambiqueiro malvado, de velho cristão temente, de mulher inocente, com corpo adulto marcado, onde tem casa que tudo farta, noutra farta de tudo, desde água ao pão boiado.

Sertão de Lampião, de padre Cícero, de cantor consagrado, de político admirado, selva de marmeleiro, mufumbo, pé de galinha, rouxinol, concriz, andorinha, feira grande, dinheiro pouco, sertão de menino rouco, selva de sol e poeira, região de pau pereira é meu sofrido sertão.

Quem quer ter o que fazer vá morar no sertão.

Quem vê mais que o que pode, jura o homem vira bode, a onça, tal cordeiro, amiga de teu carneiro, terra confusa, de competição, que aceita e não aprova nenhuma corrupção, que mata e renova sentimento e aflição.

Em se perder num pensamento, vago como um calmo, um lago, um abismo, um vulcão, é sina de rima preguiçosa, feia cobra raivosa, que desbrava o meu sertão.

Quando a chuva não é escassa, floresce a terra, surge caça, foi-se fumaça, finda a guerra, da seca, uma cratera, desespero e sofrimento, tiram meu passa tempo, de um homem preso sem rédea.

Terra de mil horrores, de louvores, sim, eu sei, para os mais sofredores, alívio aos predadores que, como cruéis senhores, líderes mercadores, em terra de nomes fortes, são arquitetura de morte, graça e glória de lutadores.

Os serviços dos senhores, cobradores planejados, onde eu, bem atrapalhado, vejo vultos desertores, sem barulhos sem dores, sem lamento, sem lei, são fiéis devedores.

Qualquer ser, quando maltratado, vira fera em jaula arrebentada e, pela força do destino, segue bravo em desatino nas horas atormentadas.

Surge, até em rei menino, crença na violência, que a alma frágil tua, cultiva, homem injustiçado é cobrador de riqueza, de que não planta, não cultiva.

Tempo, o ancião recontando a história

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