Читать книгу Contos e Phantasias - Maria Amalia Vaz de Carvalho - Страница 10

VI

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No dia em que Thadeu soube que Margarida ia chegar, a sensação que fez vibrar todo o seu sêr, foi violenta de mais para que possa ser descripta.

Acudiram-lhe em tropel, desordenadamente, n'uma confusão louca, todas as lembranças do passado, todas as queridas visões d'aquelles nove annos de extase que elle vivêra.

Estava tudo intacto n'um cantinho luminoso da sua alma, onde elle não entrava com medo de fazer fugir as avesinhas azues que eram as suas saudades.

Margarida! Bebé! A sua alegria! A loura cabecinha encaracollada, os olhos côr de azul, limpidos, transparentes, crystallinos, como um céo de primavera! os pequeninos braços gordos e nedios! a boquinha risonha! a voz musical, uma voz de cotovia acordando os écos da alvorada!

Todo aquelle conjuncto de graças ia ser d'elle outra vez.

Com que delicia soffrega elle não beijaria os pézinhos da sua fada pequenina e loura!

Como lhe contaria tudo que tinha passado longe d'ella!

As saudades sem consolo, as lagrimas que chorára, as humilhações que soffrêra no meio d'aquelles perversos de faces rosadas e imberbes, que se tinham constituido em algozes da sua fraqueza e do seu desamparo!

Oh! amal-a-hia tanto e tanto, que ella havia de dar-lhe por força um bocadinho de affecto, e esse bocadinho só bastaria a torna-lo mais feliz do que um rei.

Margarida!

E ao repetir baixinho com um calafrio de prazer este nome querido, via saltar n'um raio de sol uma figurinha esbelta, graciosa, de fato muito curto e muito simples, um vestido branco, um cinto azul, um bibe de cercadura bordada, onde as amoras colhidas por elle tinham posto uma mancha vermelha, com os espessos cabellos louros em anneis soltos, e uma risada a vibrar ainda em torno d'ella como um rosario de perolas que se desfiasse dentro de um cofre de crystal.

Henrique julgou que elle endoudecia, e Joanninha com a sua voz velada, onde havia uns toques de doçura maternal, dizia-lhe:

—Mas olhe que ella é uma senhora! Já não póde ser a mesma. Não tenha uma esperança que vai converter-se-lhe em martyrio!

—A minha Margarida, repetia elle alheiado, meio louco! A minha filhinha adorada! Nunca tive uma alegria que d'ella me não viesse! Todos me tratavam mal, só ella gostava de mim e me queria sempre ao seu lado. Has de vêl-a, meu Henrique, verás se ha no mundo uma creança mais linda, mais mimosa, é uma fada, é uma perola, é a minha unica amiga n'este mundo!

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