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Thadeu conservára-se cinco annos no collegio, e sahira de lá um pouco mais forte e um pouco menos desgraçado.

Henrique, que havia tres annos tinha completado a sua educação, e que agora cursava a escola de medicina, nunca deixára de o ir visitar de tempos a tempos, levando-o muitas vezes por occasião das férias a passar o dia em casa de sua mãe.

O moço estudante de medicina dava lições de francez e inglez nas horas vagas, para augmentar os minguados recursos da familia, e como um tio que morrera lhe tivesse deixado uma pequena pensão, viviam agora todos tres mais desaffogadamente.

Occupavam uma casa pequenina mas muito aceiada e quasi nova; tinham um quintal com tres gallinhas, um casal de pombos e um canteirinho semeado de flôres.

O trabalho da casa era a mãe de Henrique quem o fazia; a irmã costurava e bordava para fóra, o irmão vivia de estudar e de esperar.

Muito unidos, muito resignados; em certos momentos mesmo, muito alegres, d'uma alegria serena e doce, a alegria dos corações honrados que confiam na providencia de Deus!

Henrique era formoso sem dar por isso. O unico modo possivel de um homem ser formoso.

Joanninha, a irmã, que já fizera vinte e sete annos, era uma doce e casta physionomia de virgem que tem padecido muito.

Nos seus grandes olhos melancolicos havia a tranquilla doçura dos que repouzam depois de uma lucta esmagadora.

Tinha a certeza de que havia na terra alegrias que nunca seriam d'ella, e no entretanto não se revoltára; puzera n'outro ponto mais alto a sua mira.

Desdobrára a sua individualidade, vivia da vida e das esperanças de seu irmão.

N'este interior recolhido e casto, Thadeu sentiu pela primeira vez acordar a consciencia.

Soffria muito ali pelas comparações dolorosas que fazia, mas comprehendeu que n'esse mesmo soffrimento havia um progresso do seu espirito e affeiçoou-se ás torturas que elle lhe dava.

O trabalho era a lei d'aquella casa, e Thadeu não sabia trabalhar.

Ali concebia-se a vida de um modo elevado e justo, a dignidade do homem estava identificada com a sua independencia, e Thadeu não passava de um parasita.

Aprendeu na convivencia de Henrique e de sua mãe e irmã muito mais do que aprendêra em todos os 18 annos de sua desconsolada existencia.

Determinou ter uma occupação, um officio, exercer um trabalho qualquer, mas bem depressa adquirio a desoladora certeza de que a sua fraqueza physica o tornava incapaz de qualquer esforço aturado e violento.

Com vinte e tres annos conseguira tão sómente, por fim de porfiada lucta, ser uma especie de caixeiro de guarda-livros de seu tio.

Aprendeu a fazer bem contas, e tornou-se util n'aquella desordenada administração de uma casa collossal.

Isto não era de certo cousa que satisfizesse as ambições de outro qualquer, mas para elle isto já era uma grande, uma sublime conquista.

Ganhava o pão que comia.

Era um escripturario humilde, mas tinha direito a dizer que não dependia de ninguem.

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